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As novas narrativas de Ingrid Guimarães

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Women to Watch

As novas narrativas de Ingrid Guimarães

Atriz e humorista falou no palco do WTW Summit sobre a mudança para a Prime Video e o anseio de criar histórias que destaquem as mulheres maduras como protagonistas


13 de abril de 2022 - 16h09

Há alguns anos, Ingrid Guimarães procurou um diretor de TV para pedir conselhos a respeito de um trabalho para a qual havia sido convidada. O profissional, na época, recomendou que a atriz e comediante aceitasse todos os papeis que lhe oferecessem, alertando que, quando ela completasse 50 anos, certamente os convites para trabalhos ficariam escassos.

 

Ingrid Guimarães participou do Women to Watch Summit nesta quarta-feira, 14, em São Paulo (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)

No palco do Women to Watch Summit, realizado nesta quarta-feira, 13, em São Paulo, Ingrid agradeceu por não ter dado ouvidos ao conselho do diretor. Prestes a completar 50 anos, a atriz e humorista fez, recentemente, a maior mudança de sua carreira ao deixar a Globo para assumir uma função praticamente inédita na plataforma de streaming Prime Video. Ingrid foi entrevistada pela jornalista e colunista Mariliz Pereira Jorge.

Por enquanto, apenas ela e o ator e diretor Lázaro Ramos possuem, no Brasil, esse tipo de contrato com a plataforma da Amazon. “É um contrato chamado de Overall Deal, em que a empresa analisa toda a sua carreira e te dá liberdade para, junto com ela, criar conteúdos e idealizar projetos. Algo como se fosse o showrunner fora do Brasil, ja que não existe essa função por aqui”, explica Ingrid.

Fazer essa transição é uma forma que a atriz encontrou de poder se dedicar a algo que julga importante: produzir narrativas e histórias sobre mulheres, sobretudo as que estão em uma fase madura.

“Quero fazer conteúdo feminino, principalmente para as pessoas da minha idade. Vemos poucas coisas a respeito das mulheres nessa faixa etária. Somos sempre a mãe de alguém. A protagonista é a jovem, a adolescente, nunca nós. Quero fazer conteúdos que deem protagonismo às mulheres maduras. Há um movimento global no sentido de colocar essas mulheres no centro das narrativas e é importante que a gente use o streaming, no Brasil, para apresentar esses pontos de vista femininos”, ressalta.

Chutando a porta do humor

Ao falar sobre o início de sua carreira, Ingrid contou que precisou chutar a porta para conseguir ganhar espaço no território do humor. “O gênero do humor sempre foi visto como algo menor. Os atores que fazem humor não ganham Oscar, não ganham prêmios. Além disso, o humor sempre foi, historicamente, feito e dirigido por homens. É difícil pensarmos em alguma referência mundial do humor que não seja um homem”, considerou a atriz.

No Brasil, na visão de Ingrid, as mulheres que queriam construir uma carreira como comediantes eram obrigadas a se encaixar em dois estereótipos. “Ou você fazia o papel da gostosa ou da feia engraçada. Isso foi mudando com o tempo e já tínhamos exemplo de atrizes que quebravam esses rótulos. Comecei fazendo papéis pequenos, como a empregada de uma família, a amiga doidinha de alguém”, relembra a atriz.

O sucesso, segundo ela, veio a partir de uma união feminina. No teatro, quando construiu o roteiro e protagonizou a peça Cócegas, junto com a também atriz – e amiga – Heloísa Perrisé, Ingrid acabou ganhando notoriedade. “Talvez, se tivesse feito um monólogo, não teria tido tanto sucesso. A união das mulheres acabou fazendo a diferença. Sempre gostei de trabalhar e conviver com mulheres”, destacou.

Mudanças na publicidade

Ingrid também comentou sobre como vê a evolução das pautas da diversidade refletidas na publicidade. Ela lembra que, no começo da carreira, sonhava em protagonizar campanhas, mas não se via no lugar das belas modelos dos comerciais.

“A primeira publicidade que fiz foi para anunciar pílulas para prisão de ventre. Mas eu pensei que começaria daquele jeito e, em algum momento, chegaria nas campanhas de beleza”, brinca a humorista, que celebra o fato de ver uma gama diversa de mulheres estampadas em anúncios e comerciais na TV e em várias mídias. “A menina-padrão da publicidade mudou. Hoje todas as estirpes de mulheres estão sendo incluídas. As mulheres não querem mais ver publicidade com outras mulheres perfeitas que, na verdade, não existem”, pontua.

Ingrid, que já fez trabalhos de publicidade com várias marcas, elogiou também o fato de o mercado publicitário estar mais receptivo à cocriação. “Há mais abertura para que a gente dê ideias, para que coloquemos o nosso olhar nos trabalhos”, destaca.

Cinema e streaming

Responsável por algumas das maiores bilheterias da história do cinema n Brasil, com a sua trilogia De Pernas para o Ar, Ingrid, mesmo atuando em uma plataforma de streaming, não quer deixar de lado os trabalhos para a telona. “Se não continuarmos desenvolvendo um cinema no Brasil, com cotas e assegurado por projetos de lei, como já acontece em outros heróis, teremos uma nova geração espectadora apenas de filmes de heróis, dos Estados Unidos. Não há problema algum em ver filmes de heróis, mas é preciso que as salas exibam filmes nacionais, que o público tenha acesso às produções”.

Mesmo com projetos já em andamento para o streaming, a atriz revelou que ainda produzirá dois longa-metragens para serem lançados primeiramente nas salas de cinema. “Acho que o cinema e o streaming não competem entre si. Há o público que prefere ficar em casa e consumir o conteúdo, mas ir ao cinema continua sendo um programa único e interessante e quero ajudar a manter esse hábito”, concluiu.

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