Assinar

“Como seria se o mundo tivesse estado sempre na mão de mulheres?”, pergunta-se Sophie Schonburg, ECD da Africa

Buscar
Publicidade
Perfil

“Como seria se o mundo tivesse estado sempre na mão de mulheres?”, pergunta-se Sophie Schonburg, ECD da Africa

Head de criação de uma das maiores agências do país diz que mulheres na liderança significam mais contratações femininas

e Marina Vergueiro
29 de maio de 2023 - 10h56

(Crédito: Arthur Nobre/ Grupo Meio & Mensagem)

“Redatora antes de tudo e acima de tudo”. Assim se define a capricorniana Sophie Schonburg, ECD da Africa e mãe de dois adolescentes criados em meio a centenas de campanhas, prêmios e, principalmente, refações. “Nenhum trabalho relevante e surpreendente sai sem uma boa dose de chatice. Deus e o diabo estão nos detalhes”, reflete ao relembrar o início da carreira na AlmapBBDO, onde realmente se apaixonou pela profissão e atuou por 19 anos ininterruptos. “Eu tenho muito amor pelo trabalho de escrever e fiz isso durante muito tempo. Vi muitas pessoas pararem de escrever quando viravam diretoras de criação, quando viravam ECD, quando viravam donos de agência. Mas eu tento manter a minha veia, porque é a essência. Todos os dias eu escrevo alguma coisa ou ajudo alguém, porque se você enferrujar, você também começa a perder um pouco o seu critério”.
 

Com passagens pela Garrybowen e Pereira O’Dell, está há seis anos na Africa, garante que a energia inquieta e a potência criativa da agência combinam com ela mais do que qualquer outro lugar por onde já passou e sabe da importância que carrega ao ocupar o cargo mais alto da Criação. “Falta muito para chegarmos numa divisão justa quando o assunto é liderança. Mais mulheres como líderes de departamento significa, antes de tudo, a possibilidade de mais contratações femininas. Algo fundamental para equipararmos o que até hoje tem sido desequilibrado. E mais que contratar, temos que formar. Inclusive, formar novas líderes”, enfatiza. “Quando olhamos para o mundo hoje e vemos o caos que nos encontramos, sempre me pergunto: como seria se o mundo tivesse estado sempre na mão de mulheres? É obviamente uma pergunta sem resposta, mas gosto de imaginar que seria bem melhor.”
 

MATERNIDADE 

Mais equidade de gênero significa mais acolhimento para mulheres poderem exercer a maternidade sem que suas carreiras e projetos sejam afetados negativamente. Para Sophie, parir e criar dois filhos numa carreira tão intensa como a da publicidade foi um dos maiores desafios que teve ao longo de sua trajetória profissional de 35 anos. “Ser mãe de dois e publicitária não é pouca coisa”, garante ao refletir sobre como a maternidade a deixou muito mais focada e produtiva. “Quando você tem filho, você fica automaticamente mais competente com o seu tempo.  Eu não vou ficar na agência tomando cafezinho, então você fica mais eficiente. Infelizmente, a gente não chegou num lugar em que os pais têm o mesmo peso do que a mãe na criação dos filhos. Então, você percebe nitidamente que os homens têm uma outra postura perante a eficiência em relação ao tempo”. 

Multitarefas, Sophie garante que eventualmente alguns “pratos caem”, mas é justamente esse o momento de “exercer o direito de falar não” tanto para as necessidades pessoais quanto profissionais. “Saber pôr limites tanto de um lado quanto do outro é imprescindível, porque as coisas se cruzam o tempo inteiro”. O esporte sempre foi a maneira que Sophie encontrou de oxigenar o cérebro para poder tomar as decisões mais assertivas, tanto para a vida pessoal quanto profissional. “Minha terapia sempre foi a corrida”, conta 

Nos momentos de descanso, Sophie tem o costume de ler e confessa que demorou a se render ao vício das séries. “É indiscutível a qualidade de conteúdo que tem disponível no streaming, tem muita coisa boa pra gente assistir”. Atualmente, acompanha a série norte-americana Sucession, mas já maratonou House of Dragons, This is Us, entre outras. 

 

DESAFIOS DO MÉTIER 

Como ECD, Sophie garante que o maior desafio é ter o melhor trabalho, mais inédito e corajoso na rua. Por isso, faz questão de dar total liberdade à sua equipe para que tragam o máximo de ideias possíveis. “Eu acho que a gente tem que criar uma relação com a equipe que seja transparente, porque eu acho que tem muita gente que fica com receio de passar vergonha, mas às vezes a pessoa tem um insight muito bacana que não está na melhor forma”. 

Ainda assim, faz questão de citar a pandemia como um dos momentos mais turbulentos e desafiadores que viveu, com colegas e clientes todos inseguros com o rumo do mundo. “Mas acho que saí mais forte e competente dessa, como a maioria de nós”, pondera. 

Sophie iniciou sua carreira na publicidade ainda no primeiro ano de faculdade aos 18 anos de idade. “Tive o privilégio de conhecer as pessoas certas na hora certa” e assim começou a fazer um estágio na W/GGK, antes de se tornar W Brasil. “Era um momento muito rico daquela agência, o Washington (Olivetto) tinha um time muito incrível, de gente muito fera, e eu estava ali vendo aquela galera trabalhando e fazendo tudo parecer fácil”, relembra. 

Após essa oportunidade, Sophie passou por estágio em mais algumas agências incluindo a DPZ e a antiga Almap e logo foi contratada por outra agência, antes mesmo de ter se formado na faculdade. Insatisfeita com o rumo que sua carreira estava tomando, decidiu voltar a fazer estágio. “Comecei muito menina, e isso me deu tempo de errar e rapidamente e consertar o erro, que não é necessariamente um problema”. 

Poder dar um passo para trás lhe deu fôlego para seguir construindo a carreira que gostaria ter e se transformar na líder de equipe que gostaria de ser sempre preocupada em tirar o melhor de todos. “Eu fico superfeliz e orgulhosa quando vejo gente da minha equipe crescendo.  Porque eu olho e penso assim, ‘essa pessoa começou aqui acanhada, amadureceu o trabalho e está voando sozinha’.  Quando (a pessoa) não precisa mais de mim em todas as etapas, acho isso muito gratificante”. 

 

MATURIDADE 

Trabalhar em equipe em busca de insights não é fácil, por isso sempre volta à essência de sua profissão como redatora. “Quando você concebe uma ideia, ela é muito frágil.  As pessoas vão colocando a mão em cima e você tem que protegê-la até ela ir pra rua, porque senão pode sair de outro jeito”. E determinados skills, de fato, vêm com o tempo. 

Maturidade é definitivamente uma das benesses de uma carreira longa e bem-sucedida como a da executiva, principalmente em momentos de vulnerabilidade e insegurança profissional. “Me sinto num momento muito privilegiado: com muita vontade e tesão pelo que faço, mas com uma calma que só a maturidade traz”, afinal a experiência sempre joga a seu favor, independentemente do grau de complexidade que a campanha exija. 

Com a proximidade do festival Cannes Lions, que acontece todos os anos no mês de junho, Sophie afirma que o propósito deve guiar as campanhas premiadas. “Marcas que não se posicionam estão perdendo espaço. Mas isso não pode ser leviano, as empresas têm que ter lastro para se posicionarem. E as pessoas sabem exatamente quem têm ou não têm lastro”, avalia. 

 

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Quais são as tendências de estratégia para 2025?

    Quais são as tendências de estratégia para 2025?

    Lideranças femininas de agências, anunciantes e consultorias compartilham visões e expectativas para o próximo ano

  • Como as mulheres praticam esportes no Brasil?

    Como as mulheres praticam esportes no Brasil?

    Segundo relatório "Year in Sport", da Strava, corrida é o esporte mais praticado globalmente e atividades físicas em grupo crescem 109% no País