Do marginal ao mainstream
Seja na música, na arte, na moda ou até nos negócios, os movimentos mais disruptivos quase sempre vêm da periferia
Seja na música, na arte, na moda ou até nos negócios, os movimentos mais disruptivos quase sempre vêm da periferia
4 de junho de 2025 - 11h18
(Crédito: Shutterstock)
A inovação raramente nasce no centro. Seja na música, na arte, na moda ou até nos negócios, os movimentos mais disruptivos quase sempre vêm das margens. As tendências inicialmente vistas como subversivas ou marginais acabam moldando o comportamento de massa. No Brasil e no mundo, vimos em vários movimentos culturais: do samba ao hip-hop, da tatuagem ao funk e até mesmo no cenário de investimentos e startups.
No passado, a tatuagem era associada a grupos marginalizados: marinheiros, presidiários e gangues. Era um símbolo de rebeldia e exclusão. Hoje, virou arte, virou moda, virou mainstream. É difícil encontrarmos uma pessoa que não tenha pelo menos uma tatuagem no corpo. Grandes empresas patrocinam convenções de tatuagem, celebridades desfilam seus desenhos como símbolos de status e expressão pessoal. O que antes era rejeitado, agora é glamourizado.
O samba, que é um dos maiores símbolos da identidade nacional, já foi criminalizado e perseguido. Surgiu nas rodas da Pequena África, no Rio de Janeiro, e era visto como coisa de “malandro”. Só quando as elites começaram a frequentar esses espaços e a absorver o ritmo que ele passou a ser aceito e valorizado. O funk segue um caminho semelhante. Originário das favelas, o gênero já sofreu censura, preconceito e repressão policial. Mas, assim como o samba, está sendo assimilado pelo mainstream e por grandes marcas, que finalmente perceberam sua força cultural e econômica.
Nos Estados Unidos, o hip-hop começou nas comunidades negras do Bronx e foi visto por décadas como um fenômeno passageiro. Sobreviveu, dominou a indústria musical e transformou o mercado da moda. O streetwear, antes ligado a skatistas e rappers de bairros periféricos, hoje é disputado pelas luxuosas Louis Vuitton e Gucci. Os mesmos jovens que antes eram excluídos da alta costura agora são os influenciadores que moldam o que as pessoas querem vestir.
Essa lógica não se aplica apenas à cultura, vale também ao mercado financeiro e ao mundo das startups. O grande capital raramente aposta no que é genuinamente novo. Os investidores preferem seguir padrões, investir no que já tem validação, no que já deu certo lá fora. Enquanto isso, as grandes inovações surgem de mentes inquietas que não têm acesso ao mesmo capital. Na favela, no gueto, nas periferias, ideias revolucionárias nascem todos os dias — muitas morrem antes de ganhar escala, porque o dinheiro só chega quando algo já está consolidado.
Se olharmos para trás, fica claro: o que hoje é mainstream um dia foi marginal. O que hoje é tendência nasceu na periferia. A questão é: por que ainda há tanta resistência em reconhecer e investir no novo enquanto ele ainda é novo? Se queremos realmente inovação na cultura, na música, na moda ou no empreendedorismo, precisamos parar de esperar que algo se consagre para só então aceitá-lo. Precisamos olhar para as margens, porque é lá que o futuro está sendo criado.
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