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É gostoso e prático agradar e dizer sempre “sim”

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Opinião

É gostoso e prático agradar e dizer sempre “sim”

Às vezes, um abraço e uma escuta atenta são exatamente o que basta. Amar é deixar o outro existir, para além das suas sombras e saias


18 de outubro de 2024 - 14h13

(Crédito: Shutterstock)

É gostoso e prático agradar e dizer sempre “sim”. A outra parte fica satisfeita, você se sente bem e pronto. Todos felizes. Será? 

O problema surge quando agradar passa por cima de desagradar a si mesmo. Eu passei por uma situação dessas recentemente, mas, ao contrário da minha inércia habitual, decidi desagradar. Agradeci sinceramente pela opinião da outra pessoa e fiz o oposto do que me foi sugerido. Doeu. 

Muitas mulheres, inclusive, são condicionadas a agradar. Segundo um estudo da Harvard Business Review, elas são socializadas desde cedo para serem agradáveis e conciliadoras, o que frequentemente as coloca em posições de dizer “sim” a tudo, levando à sobrecarga emocional.  

Como consequência, tendem a ser vistas como menos assertivas e capazes de tomar decisões difíceis, o que pode, inclusive, prejudicar suas carreiras. E é importante não confundir assertividade com grosseria: é totalmente possível transmitir uma mensagem de forma firme e gentil. 

Passar por cima de si para atender às expectativas do outro é se anular e, no fim, todos perdem. Você perde a oportunidade de honrar sua própria história e seu legado. A outra parte perde a chance de ver o mundo pelas lentes de um aprendiz curioso, que explora outras possibilidades. Ambos perdem a conexão e criam uma relação falsa, alimentada pelo medo, e não pelo respeito mútuo. 

Como mãe, eu desejo dar espaço para que meus filhos me desagradem. Sei que vai doer ver a “pedra no caminho” e não mover montanhas para retirá-la, respeitando a decisão da outra parte de seguir em frente, mesmo sabendo que o caminho pode ser sinuoso e traiçoeiro. Ou talvez uma deliciosa aventura. 

“Mas Mi, a pedra existe e eu posso provar! Já passei por esse caminho e, acredite, não foi uma boa escolha. Quero poupar meus filhos dessa experiência dolorosa, entende?” Um abraço apertado em você. Para começo de conversa, sei da sua intenção positiva. “Let it go” dói demais. 

Mas o ponto é: essa pedra existe de verdade? 

Talvez seja fruto da sua imaginação, dos seus vieses e da “criança interior” que ainda habita em você. Talvez essa pedra seja apenas sua “amiga/inimiga imaginária” e você esteja privando seus filhos de seguir em frente. Ou até de cair, se levantar e aprender com isso. 

É caminhar ao lado, sem necessariamente estender as mãos. É ouvir verdadeiramente com a intenção de entender. É estar disponível sem tentar salvar a outra parte. É aquela empatia tão falada e tão pouco praticada. Às vezes, um abraço e uma escuta atenta são exatamente o que basta. 

Amar é deixar o outro existir, para além das suas sombras e saias. 

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