Faça a pergunta certa
Fazer perguntas nos torna curiosos, mas fazer as perguntas certas nos leva adiante
Fazer perguntas nos torna curiosos, mas fazer as perguntas certas nos leva adiante
4 de março de 2024 - 13h41
“Continue curioso”. Esse foi o sentido da frase que fechou o famoso discurso do Steve Jobs na formatura da Universidade de Stanford em 2005: “Stay hungry. Stay foolish”. Eu concordo muito com ele e tenho consciência de que esse pensamento foi o que me trouxe até aqui. Mas, com o tempo, vamos refinando um pouco mais essa curiosidade. Não é estar curioso por qualquer coisa, e sim pelas coisas que vão pavimentar um caminho de futuro (para você, para quem você ama, para o mundo, para a indústria que você trabalha, para a raça humana).
Geralmente, a curiosidade nos leva a fazer perguntas, questionar o que está em volta, tentar enxergar novos ângulos. O melhor livro que encontrei sobre o assunto foi o do novaiorquino Warren Berger, “Uma pergunta mais bonita”, já traduzido para o Brasil. Berger é um jornalista que já escreveu para jornais e revistas como New York Times, Sunday Times, Wired e Business 2.0. Como autor, escreveu vários títulos, sendo dois deles sobre nossa capacidade de fazer as perguntas certas. Tem pensado nesse assunto há uma década e realizou uma pesquisa sobre o assunto, em que entrevistou 100 mentes brilhantes, criativas e inventivas e observou que, apesar de não terem fórmulas para seus pensamentos, o que tinham em comum era que muitos deles eram excepcionalmente bons em fazer perguntas. E aqui surge uma imagem muito interessante: o elo entre a indagação e a inovação.
Para Berger, vivemos em um momento histórico propício para se fazer boas perguntas. Porque por meio delas podemos tentar entender a complexidade do mundo e a aceleração das mudanças. Mas não estamos falando de qualquer pergunta, e sim das perguntas certas. Não as filosóficas nem as óbvias que fazemos ao Google, mas perguntas cujas respostas possam ser colocadas em prática, levando a resultados tangíveis e, com sorte, a transformações. Portanto, fazer perguntas nos torna curiosos, mas fazer as perguntas certas nos leva adiante.
Quais são suas perguntas atuais?
Apesar das perguntas poderem nos levar mais longe, são poucos os ambientes que encorajam as novas perguntas. Responder a questionamentos dá trabalho e pode levar a transformações. Por isso, a capacidade de questionar é bem aceita especialmente pelos cientistas e artistas e menos estimulada nas escolas e empresas. E aqui vale uma pergunta: quanto tempo irá demorar até que essas instituições se abram para as perguntas e suas respostas?
Se você é uma pessoa “perguntadeira”, o ideal é estar em lugares que estimulem – e não temam – essa qualidade. Como aqui nessa coluna, onde eu te encorajo a escrever suas perguntas desse momento. Ao escrever, você vai tomar consciência delas e vai buscar as suas respostas. E levantar outras perguntas.
Para finalizar, vamos às respostas. É preciso saber ouvi-las, ou melhor, é preciso aprendermos a ouvi-las, porque em 90% do tempo nós não ouvimos verdadeiramente. A Teoria U discute os diferentes níveis de escuta que podemos praticar indo desde a escuta superficial (download) até a intuitiva. Em algumas aulas, costumo trazer um exercício da Teoria U, em que uma dupla de alunos vai conversar durante 14 minutos: nos primeiros 7 minutos uma pessoa vai falar e a outra só vai ouvir, sem respostas, sem reações físicas ou sonoras. Apenas oferece sua escuta ativa de presente. Em seguida, a outra pessoa fala durante 7 minutos e é ouvida com profundidade e atenção. O resultado é impressionante. Um exercício de 14 minutos que geralmente nos traz a consciência de que nunca escutamos com a mente e o coração abertos. E nos alerta para desenvolvermos nossa escuta.
E vai aqui a última dica: as melhores perguntas são aquelas sobre algo que te surpreende ou que vem à sua cabeça insistentemente. Quando tem algo que está te provocando essencialmente, te fazendo pensar, temos uma boa pergunta. Se as respostas forem ouvidas verdadeiramente com calma e atenção, você tem um futuro. E o que fecha tudo isso é a intuição, aquela que consegue nos tirar da razão e se materializa em ideias com a potência das transformações.
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