Liliane Rocha quer acelerar a agenda ESG no mundo corporativo
Com consultoria Gestão Kairós, a CEO deseja transformar o movimento pendular do ESG em uma retomada de consciência e mudança efetiva
Liliane Rocha quer acelerar a agenda ESG no mundo corporativo
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Meio & Mensagem
19 de agosto de 2024 - 17h19
CEO da Gestão Kairós, Liliane Rocha divide sua infância entre dois grandes momentos. O primeiro deles, vivendo com a mãe em agrupamentos na periferia de Guarulhos. Depois, com o pai, deixou a linha da extrema pobreza. Foi quando pôde se afastar das vulnerabilidades para focar nos estudos — o que, mais tarde, a colocou no topo do mundo corporativo. Entre o direito e a comunicação, formou-se em relações públicas pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo.
Mas foi na área da sustentabilidade, mais tarde convertida e abraçada pelo ESG, que se encontrou ainda cedo na carreira. Liliane ocupou cargos relacionados à agenda nos mais diversos setores, desde o eletrônico e da mineração, ao de varejo e das finanças. Vivenciando e reconhecendo que os preconceitos de raça, gênero, entre outros, resistem permeando a vivência e a narrativa das pessoas com tais marcadores, a consultoria Gestão Kairós surge em 2015, nas palavras da CEO, pelo amor e pela dor. Por ser uma mulher negra, entendia que, de fato, havia um teto invisível nas grandes empresas há 10 anos. Falávamos que o nosso lugar era onde a gente quisesse, mas era mentira. Alguém já havia decidido por mim”, diz.
Quase dez anos depois, Liliane celebra o presente com um olhar ambicioso para o futuro. A Gestão Kairós tem hoje em sua carteira grandes clientes, entre empresas brasileiras e multinacionais, como Ambev, Anglo American, Coca-Cola Femsa, Gerdau e Nike. Para os próximos passos, a grande meta é fomentar a internacionalização da consultoria.
Com o apetite por transformar o movimento pendular do ESG em uma retomada de consciência para o impulso da agenda, ela segue com sua missão de entregar um mundo melhor para as gerações atuais, admirando o legado de figuras como a de Mahatma Gandhi, cujo discurso de não violência e de desobediência civil levaram, à época, à independência da Índia.
Foi muito desafiador, porque eu já tinha um bom salário, uma posição internacional e respondia direto para os acionistas. Eu tinha um status quo. Por outro lado, havia a questão do teto de vidro, que era tão pesada para mim naquele momento, que o fato de poder assinar o meu trabalho, trazer outras pessoas que também têm marcadores de diversidade, desenvolver e protagonizar essas pessoas da forma que eu acredito e conhecer o cenário de várias empresas era muito importante.
Os primeiros seis meses foram muito difíceis. Fechei contratos de R$ 1 mil no início. Qualquer pessoa de empresa que eu contasse, falaria que eu estava louca e que fracassei, pois isso é símbolo de fracasso na sociedade. Mas não sentia que tinha fracassado, sentia que estava me aventurando. Acreditava naquela jornada e naquilo como único caminho possível para mim – e acreditar faz uma profunda diferença. No segundo semestre de 2015, a minha rede de relacionamento já começou a funcionar, entender o que estava fazendo, e me contratar. No final daquele ano, eu já tinha quase chegado no que era minha renda dentro das grandes empresas.
Depende da linha do tempo. Até meados de 2015, posso afirmar que, sim, as multinacionais puxavam mais o tema da diversidade. Trabalhei em duas empresas holandesas e o olhar para a diversidade era totalmente diferente da empresa nacional que eu trabalhei depois, em questão de mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBTQIAP+, pessoas com 50 anos ou mais. As empresas internacionais puxavam mais a temática a depender do país em que estavam.
Conforme fomos andando, tivemos dois movimentos. O primeiro é o de o Brasil se equiparando a países internacionais positivamente. Viemos de uma efervescência de 2015 até meados de 2023 de grandes CEOs no Brasil entendendo a importância desse tema e virando benchmark para fora. Nos últimos dois anos, vimos uma nivelação um pouco mais por baixo. Do ano passado para cá, temos, infelizmente, acompanhado uma politização de diversidade, direitos humanos e ESG. O Larry Fink, CEO da BlackRock, tem falado que não usará mais o termo ESG porque está politizado. O grande protagonista do empresariado desse tema está dando um passo para trás. Temos chamado esse momento de backlash.
O percentual de mulheres nos conselhos vem aumentando. Um estudo da KPMG interessante mostra que, em 2021, o número já era de 14% frente a 11% no ano anterior. Vemos pequenos aumentos e temos uma série de movimentos que têm olhado para isso. Temos o 30% Club, liderado pela Márcia Kitz e pela Anna Guimarães, e que há algum tempo traça metas de ter 30% de mulheres nos conselhos, e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que foca no aumento de mulheres nesse local. Temos o Conselheira 101, liderado pela Lisiane Lemos, para fomentar mais mulheres negras nos conselhos.
Recentemente, assumi a cadeira de conselheira deliberativa no Instituto Tomie Ohtake, o que para mim é um grande marco, além de ser conselheira consultiva do Pacto de Promoção da Equidade Racial e do comitê de diversidade da Ambev. Me parece que temos avançado. Na velocidade que eu gostaria? Não. Brinco que, às vezes, perguntam por que temos tanta pressa e corremos tanto. E eu sempre falo que, para nós mulheres, que somos 52% da população, é algo que durará toda a história da nossa vida. Nascemos, vivemos e morreremos numa sociedade que tem uma disparidade de gênero no mercado de trabalho entre homens e mulheres. Por isso, é tão importante nosso trabalho para acelerar essa curva de mudança.
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