Meio & Mensagem
28 de fevereiro de 2012 - 7h56
Nas duas últimas semanas, a nova campanha da Peta (People for the Ethical Treatment of Animals) provocou polêmica e mostrou resultado, pelo menos no que se refere a popularidade na internet (saiba mais aqui).
O filme Boyfriend Went Vegan (veja abaixo) já estava entre os Top 10 Viral Video Ads Chart na quarta-feira passada com um pouco mais de 900 mil views – 2,7 milhões agora.
O problema dos animais não é simples. Milhares são maltratados, confinados e mortos todos os anos para atender a nossa demanda crescente por comida, roupas e cosméticos e a maioria das pessoas não parece estar se importando muito com o assunto. Temos a tendência a ver e ouvir somente o que apoia nossas crenças, o que está de acordo com nossas referências socioculturais, e temos matado animais para comer e vestir desde as cavernas.
Peta, sensualidade e sexo. Nenhuma novidade. Para ter sua mensagem percebida, a Peta sabe que precisa causar incômodo. O filme Veggie Love (veja abaixo), banido do Super Bowl, e várias outras ideias envolvendo mudança de comportamento já se apoiaram nisso.
A Peta está fazendo a coisa certa pelos animais e, sem a menor intenção, está abrindo uma outra discussão, pela qual não tem muita gente fazendo alguma coisa, que passa longe dos animais que podem ser salvos se todo mundo adotar uma dieta vegetariana. Boyfriend Went Vegan está fazendo as pessoas discutirem a violência contra as mulheres, um assunto que também não interessa muito a maioria. O curioso é que o filme está fazendo isso pelo mesmo motivo que seria recusado por qualquer organização envolvida no assunto: a relação banal, quase natural, entre sexo e violência.
Certamente o pessoal da Peta desconhece que um dos motivos pelos quais a violência contra as mulheres é comum em todo o mundo é o fato dela ser tratada como algo normal, inclusive pelas próprias mulheres. Um problema que também não é simples.
É provável que vegetarianos não sejam mais viris, nem batam em suas mulheres. Também é provável que ninguém envolvido na criação dessa campanha pensou em nada disso. Mas isso realmente importa? Quando estamos falando de coisas que ninguém quer ver, é a natureza da provocação e não a natureza dos fatos que faz a diferença.
Ana Paula Cortat é vice-presidente de planejamento da Africa
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