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Comunicação

Opinião: vivemos 32 horas por dia

Viramos multitarefas com mais horas de atividades que de vida


29 de março de 2016 - 12h18

(*) Por David Laloum

Sim, vivemos 32 horas por dia. Mais precisamente, 31 horas e 28 minutos, segundo uma pesquisa recente que mostra que, por meio do uso cada vez maior de tecnologia e de novos comportamentos, viramos multitarefas com mais horas de atividades por dia que de vida.

A origem dessa descoberta é Michael Wolf, ex-membro do comitê executivo do Yahoo, que publicou no final de 2015 esse trabalho fascinante sobre o futuro da tecnologia. Segundo ele, o americano médio já passa mais tempo com mídias e tecnologia do que dormindo ou trabalhando. Ele chega a 11 horas e 32 minutos por dia — e isso continuará crescendo.

O brasileiro não deixa nada a desejar: são 10h34 por dia contra 8h44 no Reino Unido, 5h25 na China e 4h40 no Japão. Somos sociais, somos tecnológicos, somos mídia, somos multitarefas. E os comportamentos e modelos mudaram profundamente nesses últimos anos.

As plataformas sociais passam por mutações profundas. As mensagens instantâneas crescem em alta velocidade e já desafiam as plataformas sociais clássicas, não pessoais. O Snapchat virou, em dois anos, a terceira maior plataforma social do mundo: começou com um uso erótico nichado e hoje rivaliza com o Facebook em número de views de vídeos, com um quinto de usuários.

O jeito de assistir à TV também. Surgiu o binge watching, a visão consecutiva de vários episódios de um seriado, que impacta totalmente a nossa relação com o conteúdo e os meios. O jeito de ouvir também. O áudio vai explodir porque, na essência, ele permite o multi-tasking. E o YouTube é mais usado como streaming de música do que para assistir vídeos (incluindo os vídeos musicais).

As fontes migram para o conteúdo gerado por usuários. Mais faturamento no YouTube está sendo produzido por vídeos de usuários independentes do que por vídeos oficiais de selos de música ou grandes produtoras. A originalidade e a exclusividade dos conteúdos viraram chave. SoundCloud e YouTube têm hoje mais de cem milhões de músicas off label enquanto o teto da Apple Music é de 30 milhões. Haja long tail.

O gaming virou um nicho de 1,8 bilhão de pessoas no mundo. Em 2014, havia 1,8 bilhão de gamers no mundo vs. 2,9 bilhões de usuários de internet. Vocês já ouviram falar de e-sports? São competições de games de esporte multijogadores, a caminho de virar em 2018 uma franquia de US$ 1,2 bilhão — enquanto a NBA é uma franquia de US$ 5 bilhões construída ao longo dos últimos 70 anos.

Os modelos diferem totalmente para atividades similares. Por exemplo, para faturamentos parecidos, na casa de US$ 1 bilhão, a Pandora fatura 80% da sua receita com propaganda e o Spotify 80% com assinaturas.

O consumo continua concentrado, apesar da multiplicação de conteúdos e plataformas. Dos 27 aplicativos usados por mês, cinco representam 80% do tempo do usuário. Dos 96 websites visitados por mês, cinco representam 45%. E, dos 194 canais de TV disponíveis, 100% do tempo de TV é usado assistindo a 18 canais.

E, apesar de tudo isso, a TV continua ainda muito sólida na maior parte dos grandes países do mundo. Nos Estados Unidos, a TV tradicional — broadcast, cabo e pay TV — representa 72% da audiência. Os millenials continuam assistindo a 20 horas de TV por semana. Os Gen X, 30 horas.

E grandes questões ainda estão para serem resolvidas, como curadoria humana ou algorítmica dos conteúdos. Nesse texto de poucas frases, pouca prosa, bastante números e fatos. Fatos que martelam a minha cabeça desde que os li e que me fazem pensar até que ponto nós, profissionais de marketing e entendidos sobre consumidores, temos desafios tão complexos quanto apaixonantes. Fatos que eu gostaria de martelar na cabeça de vocês para não ficar sozinho com esse barulho.

Vivemos 32 horas por dia e em movimento constante. Os conteúdos, as plataformas e, por consequência, os comportamentos estão em plena transformação acelerada, sem ao mesmo tempo abrir mão de muitas coisas já existentes. Problems are a playground. Temos um playground maravilhoso para os próximos anos. Vamos nos divertir.

(*) David Laloum é presidente da Y&R
 

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