Meio & Mensagem
26 de abril de 2013 - 4h40
Se você tem uma boa idéia, guarde-a bem.
Essa é a mensagem extraída dos corredores do RioContentMarket, evento destinado à indústria de produção independente da TV brasileira que reuniu três mil participantes em um hotel no Rio de Janeiro sob o calor senegalês do mês de fevereiro.
Em paralelo às palestras, retratadas em cobertura do Meio & Mensagem em sua edição impressa de 25 de fevereiro, as conversas no acanhado lobby ou no precário bar da piscina reforçaram, em época de quaresma e de um novo Papa, a Via Crucis em que se transformou a vida do sujeito que ousa ter uma boa idéia para a produção de um conteúdo.
Aos iniciados nas questões religiosas adianto que a Via Dolorosa dos criadores brasileiros acaba na terceira estação, ou seja, na primeira queda, que nesse caso é representada por um alegórico “não”. Dessa forma os criativos tupiniquins estão dispensados do sofrimento das demais onze estações vividas pelo “Filho do Homem” (Mt. 8.20).
O bom desses eventos, à parte a qualidade indiscutível das palestras, é que o “não” pode ser dito de forma coletiva, no atacado, para algumas centenas de pretendentes ao hall da fama. Como ouvir “não” pode provocar certo sentimento de rejeição, há um consenso de que as caixas de entrada dos e-mails dos financiadores de conteúdos ficam lotadas durante as semanas seguintes ao fórum com mensagens dos “surdos funcionais”.
Muito se evoluiu em termos de acesso à produção de conteúdos brasileiros graças às recentes medidas que privilegiam o processo de diversidade de idéias e a inerente democratização de recursos. Mas a burocracia da cultura não levou em consideração que o Brasil é um país de 200 milhões de almas e por isso não é só um grande mercado consumidor, mas também um imenso mercado criador. Ou seja, ficou gente de fora.
Ter uma boa idéia ou um bom roteiro não significa nada se o criador não tiver os meios de produção e, mesmo que os tenha, ele penará para se configurar às estratégias dos difusores de conteúdos.
O RioContentMarket tem o mérito da verdade. São de verdade os criadores talentosos e suas idéias inovadoras, os executivos das TVs a cabo e suas razões para não embarcar em idéias inovadoras, o ufanismo do dirigismo oficial e a percepção de que há muito por se fazer para escoar idéias inovadoras.
Eventos como esse não dão margem às enganações, por isso recomendo a leitura do editorial “A inspiração da Red Bull” da Regina Augusto na edição 1548 do Meio & Mensagem (25 de fevereiro) sobre a experiência da jornalista em mediar, durante o encontro, um painel com Bernhard Hafenscher, diretor de desenvolvimento de negócios da Red Bull Media House.
Com a leitura, os arautos defensores do engessamento do mercado publicitário em um único modelo de negócio poderão perceber que há vida inteligente além dos xises que povoam as planilhas de mídia.
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