Copa: a lição moral que ficou para todos nós
Será que uma viagem não pode ser também a oportunidade de fazermos o bem ao próximo?
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Chieko Aoki
24 de julho de 2014 - 12h22
Nos últimos anos, desde o anúncio da realização da Copa do Mundo no Brasil, passamos por sensações controversas em nosso povo, da euforia à depressão coletiva, que se misturaram às diversas fases e conjunturas econômicas e políticas vividas nesta grande nação continental.
No bom jargão do futebol, só vimos o patriotismo ressurgir aos 45 segundos do segundo tempo, às vésperas de começarmos o campeonato. Ufa! Sou japonesa de nascimento e brasileira de coração. Em nenhum momento deixei de olhar o lado cheio do copo e de acreditar na oportunidade que tivemos em mãos.
Acredito que não preciso comentar sobre os importantes ganhos de imagem e promoção internacional, além da melhoria da infraestrutura para o País. Também não vou falar sobre o desempenho da seleção – deixo para os 200 milhões de especialistas. Quero me ater a um benefício intangível que ficou no ar: a lição “moral” que o evento deixou em todos nós. Para explicar este meu sentimento, vou traduzi-lo em três exemplos.
Na Blue Tree dedicamos nosso esforço para transformar a tradicional hospitalidade em encantamento. A ordem era “fazer a nossa parte” para mostrarmos o País que desejamos (e somos) aos turistas. Fizemos um programa específico – “Bola na Rede Blue Tree” – para reforçar e ampliar o bem-receber, treinamos as equipes, nos preparamos, trabalhamos o orgulho verde amarelo e cuidamos de cada detalhe.
Alegramos e nos entusiasmamos também com os visitantes. Com isso, o fato é que os hóspedes nos deixaram muitas lições, e uma delas, marcante. Uma primeira lição de vida. Tratava-se de um iraniano, que veio ao torneio acompanhado de seu filho de sete anos, e se hospedou em nosso hotel de Santo André. Ele procurou a nossa equipe para pedir ajuda para uma missão especial: havia trazido uma mala de brinquedos para doar a crianças necessitadas. Era época do Ramadan para os muçulmanos – tempo de orar e de renovar a fé e a esperança.
Será que uma viagem não pode ser também a oportunidade de fazermos o bem ao próximo? Será que nos preocupamos em deixar um rastro de amor por onde passamos? Para este primeiro aprendizado, fica o mantra de Madre Teresa de Calcutá, que uso em minha vida e que compartilho com nossa equipe: “Não deixe jamais que alguém que achegou-se de ti vá embora sem sentir-se melhor ou mais feliz”.
O outro aprendizado veio da seleção da Alemanha e foi muito comentado durante todo o campeonato. Os alemães viveram sua estada no Brasil sem soberba, sem egos ou status. Entenderam o País sem preconceitos e usaram sua riqueza para deixar o rastro que comentei há pouco. Incentivaram a educação, a saúde e o desenvolvimento da cidade que os abrigou. Interagiram, se socializaram e arrisco dizer que se encantaram. Uma aula de humildade, até nos momentos de alegria, em que nos derrotaram, foram sensíveis.
E o que dizer da imagem que dispensa explicações ou traduções: os torcedores japoneses, carregando seus sacos de lixo azuis, limpando o estádio após os jogos? A atitude mostra a preocupação de deixar o lugar arrumado para quem viesse depois. A palavra aqui é a gentileza. Sempre comento que na cultura japonesa servir é nobre. Ainda vamos aprender que “ser servido” esconde prazeres simples da vida.
O esporte no mundo inteiro é um incentivo para o desenvolvimento social de crianças e adolescentes. É um exemplo de superação, luta, garra e espírito de equipe. Se conseguirmos retransmitir e absorver algumas destas lições, estaremos plantando as sementes de uma nova geração de brasileiros e de um País cada vez melhor. Como diz a amiga Luiza Helena Trajano, quem faz o Brasil somos nós.
Chieko Aoki é presidente da rede Blue Tree Hotels
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