Meio & Mensagem
13 de agosto de 2013 - 9h36
Do alto de seus US$ 25 bilhões, Jeff Bezos já inovou o suficiente no comércio eletrônico (em particular nas recomendações de compras baseadas em visualizações anteriores), mas, para fazer agora o transatlântico do The Washington Post desencalhar, será preciso bem mais do que discursos reconfortadores. Por um lado, as primeiras declarações de Bezos, de que vai manter a linha editorial, são um alívio se ele estiver apenas certificando o comportamento ético do jornal. Mas se este compromisso representar tímida vontade de dar novo curso à linha de conteúdo do jornal, baubaus The Washington Post – e a esperança de que o pai da Amazon transforme o filho enjeitado no príncipe encantado que a indústria de jornais está à procura.
Estive um par de vezes no prédio do Post. Conheço vários de seus executivos, atuais e anteriores. O jornal me pareceu perdido. Ora defendia a separação radical das redações para produzir as versões em papel e online, ora defendia ardorosamente o contrário. Durante muito tempo, foi uma das derradeiras vozes contra o paywall, até que anunciasse a capitulação em junho deste ano.
Há muitos anos, o maior jornal da capital da maior superpotência dormitava nos verdes louros do passado e assistia quase passivamente a erosão acentuada de sua circulação. Como não há um Watergate a cada 30 anos, a marca se retroalimentava da tradição para tentar espichar sua sobrevida. O problema é que, noves fora algumas boas experiências digitais de visibilidade rarefeita, o Post virou um jornal chatinho. Matérias enormes que tratam de assuntos distantes da realidade do cidadão médio – as intrincadas e aborrecidas conexões políticas no Capitólio, por exemplo – fizeram a glória de boa parte da grande imprensa no passado, mas hoje o leitor quer informação sobre a vida real, sobre tendências que vão afetar a rotina de sua família e sobre o que ainda está por acontecer, e amanhã será notícia na internet ou na TV. E quer isso de maneira breve, sem calhamaços de textos, visualmente atraente, de preferência com uma abordagem bem local e próxima.
Uma mudança desta envergadura não exige um batalhão de engenheiros de software, mas editores dispostos a dizer ok, foi legal até aqui, mas chegou a hora de dar adeus e nos ligarmos no que seremos no futuro. Em Porto Alegre, quatro dos seis jornais fecharam as portas – só que na década de 80, bem antes de se cogitar da internet. Fecharam porque eram mal administrados e não souberam se renovar diante de nascentes focos de interesse. Ou eram perdulários e amadores na gestão ou eram desconectados dos leitores. Aí, não havia, como não há, tecnologia ou inovação que dê jeito.
Para refundar cafés como o Starbucks ou circos como o Cirque du Soleil, não se pode manter a mesma “linha editorial” – ela tem de ser reescrita de cima a baixo, preservando os valores éticos, é claro. A chegada de um outsider pode prenunciar a vontade de mudança profunda. Ou não. E aí restará ao The Washington Post o papel de ser apenas um brinquedinho para satisfazer egos e interesses da opulenta nave-mãe de Bezos. Vamos torcer para que o Post encontre um novo caminho.
Marcelo Rech é diretor-executivo de jornalismo do Grupo RBS
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