Meio & Mensagem
22 de maio de 2013 - 12h21
Ok, estamos todos de acordo que viralizar um vídeo fake para fazer buzz sobre um produto, serviço ou lançamento é uma arte que está atingindo requintes antes reservados aos grandes mestres da prestidigitação. O sucesso instantâneo de alguns vídeos forjados para parecerem reais e que, de fato, acabam iludindo milhões de usuários poderia ser endereçado para o escaninho das discussões éticas, mas não é este o caso. Pessoalmente, prefiro me divertir com as pegadinhas ungidas em laboratórios nos quais publicitários com visão digital produzem irresistíveis alquimias visuais, como a da louca que destrói a marteladas o carro de sua paixão ou do amante em cuecas que escapole pela janela do prédio.
Bacana mesmo. E compreende-se o entusiasmo em se comemorar 3 milhões de views de um vídeo (embora esta audiência seja menor do que a de uma matéria no noticiário do fim da tarde da RBS TV no Rio Grande do Sul…). O que não é animador é tomar conhecimento de que jornalistas e veículos jornalísticos não só caíram nas pegadinhas como se transformaram em correia de transmissão de um conteúdo forjado.
Meu argumento é simples: publicidade é publicidade, jornalismo é jornalismo. Cabe a publicidade vender, e bem, um produto. Cabe ao jornalismo informar a verdade, às vezes à custa de desgostos, insatisfações e boicotes de empresas, governos e até de parte do público. Paciência: o jornalismo não está no ramo de fazer amigos, mas de retratar e interpretar a realidade. Este não é um conceito anacrônico. Ao contrário, nunca foi tão vital para a indústria. Diante da mistureba de conteúdos, chegar o mais próximo da verdade tornou-se imprescindível, estratégico mesmo, para a saúde e o futuro da comunicação e, em particular, dos empreendimentos jornalísticos. Se eles perderem a credibilidade junto ao público, o que mais restará perder?
Por isso, o jornalismo que dá vazão a um vídeo fake como se verdadeiro fosse está, para dizer o mínimo, cometendo um equívoco brutal, ao qual deve se seguir um pedido de desculpas ao público. O jornalismo precisa, mais do que nunca, informar a verdade (aliás, como bem fez este site do Meio & Mensagem ao dar em manchete “Amante da janela é viral da Discovery.)
A primeira obrigação de uma redação não é transmitir notícias: é checar informações, descobrir se ela é verdadeira ou não. E, se não for, trazer à tona a verdade, estragando a festa dos outros, se necessário for. Por isso, parabéns viralizadores e meus lamentos aos que descumpriram o dever do bom jornalismo.
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