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Afinal, a ?zueira? não tem limites?

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Afinal, a ?zueira? não tem limites?

Em meio à profusão de textos e memes piadistas que surgem em instantes a cada novo fato estapafúrdio, dois sites conquistam notoriedade e audiência com posts que ironizam o noticiário cotidiano: Piauí Herald e Sensacionalista


7 de novembro de 2014 - 5h44

Depois da eleição, a ressaca. Só que não. Se até hoje as redes sociais estão às turras com as opiniões alheias sobre os rumos do País, ao menos para dois sites os ânimos ainda acirrados estão alimentando posts irônicos que têm garantido a audiência. São eles o Sensacionalista e o blog Piauí Herald, que produzem conteúdo que satiriza o noticiário cotidiano, chegando até a parecer reportagem real aos olhos de alguns incautos. Mas basta dedicar um pouco de atenção para saber que aquilo não pode ser verdade. Na quinta-feira 6, um dia depois da derrota do Flamengo para o Atlético Mineiro na Copa do Brasil, o Sensacionalista cravou: “Final da Copa do Brasil é última chance de Aécio ganhar de Dilma em alguma coisa”. Com futebol e política misturados no texto, a ironia rendeu 1.602 shares no Facebook.

Na mesma quinta-feira, o Sensacionalista saiu do ar pelo excesso de cliques depois que Ricardo Boechat leu na Band um dos textos feitos pela equipe do site. No caso, tratava-se do post “Vaticano canoniza todos os juízes brasileiros”, escrito em cima da história da agente da Operação Lei Seca condenada a pagar uma multa superior a R$ 5 mil por ter dito a um juiz que ele não era Deus. Com problemas técnicos, os criadores lançaram mão de uma brincadeira: juízes teriam tirado o Sensacionalista do ar. O que foi esclarecido pouco depois.

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O estilo de posts “isentos de verdade” (lema que o site estampa na home) se tornou tão característico que já virou mania, entre os usuários das redes sociais, comentar uma notícia estranha com um “isso parece coisa do Sensacionalista”. Ou seja, eles conquistaram notoriedade. Ainda mais em um ano em que a “zueira” – variante popular na internet do termo “zoeira” – ganhou vazão graças às eleições.

Com as eleições, a audiência do site subiu 200%, conta o roteirista Nelito Fernandes, um dos fundadores. Em outubro, foram 3,3 milhões de visitantes. No domingo, data de votação, e no dia seguinte, foram 300 mil visitas/dia. A base de fãs no Facebook passou de 170 mil para 280 mil. Posts chegaram a superar os dois milhões de cliques. Foram 237 mil shares no período. Cada post atingia uma média de 600 mil pessoas. Com esses números, ficou claro: a corrida eleitoral superou o Mundial. “A Copa não rendeu tanto. Até porque ela também foi uma piada”, diverte-se Fernandes. Sobre possíveis confusões sobre a veracidade – ou melhor, falta de veracidade – das “notícias”, ele é direto: “A gente não veio para confundir. Veio para fazer rir. O Sensacionalista usa fatos jornalísticos para fazer humor”. E quanto a limites? Eles existem? “Temos mandamentos não-escritos. Um deles é ‘vamos sacanear o opressor, não o oprimido’. A palavra é liberdade, mas fugimos de lugares comuns, como tirar sarro de feio, mulher e gay”, diz.  

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O humor fino e sarcástico do Piauí Herald também trouxe dividendos para o endereço digital da revista Piauí. Com o segundo turno das eleições, 60% do tráfego para o site teve como fonte os posts publicados na mídia social. No período de um mês, o número de pageviews bateu 1,5 milhão, conforme relata o publicitário Renato Terra, responsável pelo conteúdo do Piauí Herald e também autor do Diário da Dilma, um espaço ficcional de humor que virou um livro homônimo recentemente lançado. Um dos posts campeões de likes e shares foi publicado logo depois do anúncio da reeleição de Dilma Rousseff. Era um que trazia Aécio Neves com um lamento “Me casei à toa”.

De acordo com Terra, o Herald tem a função de apresentar a revista para quem não a conhece. “As reportagens da Piauí são mais longas, aprofundadas. No Herald não fazemos jornalismo, mas temos a ambição de fazer com que as pessoas questionem o que estão lendo”, explica.

Na produção do conteúdo à época da corrida presidencial, Terra tomou cuidado para haver equilíbrio nas sátiras. Invariavelmente, o blog era acusado de pender para um dos lados. “Já fomos acusados de mídia golpista”, conta. Mas essa divisão de opiniões, salienta o publicitário, demonstra que conseguiram atingir esse objetivo. Para ele, há espaço para esse tipo de ironia feita em cima de noticiário em outros meios. “Adoraria ver esse humor sarcástico na TV e no cinema. Nas revistas impressas, há espaço para esse conteúdo”, acredita.

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Durante as eleições, houve leitores que levaram o conteúdo a sério demais. Nessas horas, os próprios fãs do blog alertavam quanto ao engano. Essa confusão acabou refletida em um comentário feito em post desta sexta-feira, 7, no Facebook que dizia “PT fará consulta popular para implementação de ditadura comunista”. Segundo o fã, “pior é saber que vai ter gente que vai ler isto e acreditar que é uma notícia verdadeira”. E encerrou a frase com risos.

Conheça um pouco mais de cada um:

Sensacionalista – Foi criado em 1999. Trabalham no conteúdo quatro roteiristas de humor (Nelito Fernandes, Leonardo Lanna, Martha Mendonça e Vinícius Antunes) e uma jornalista (Carolina Marssote). Já teve uma versão na TV, no Multishow, que enfrentava o problema de ter seu conteúdo frio, já que era gravado com muita antecedência. Foi descontinuado após cinco temporadas. Na rotina de produção, os criadores já começam a fazer piada na leitura dos jornais pela manhã. O grupo troca mensagens por WhatsApp para definir posts. Se há um texto polêmico, eles fazem até votação para resolver o impasse. O Sensacionalista é considerado um hobby. O que ganham de dinheiro vem de ad sense. Não há patrocínio. Não há planos de fazer vídeo porque “dá muito trabalho”. Às vezes, publicam “algo maluco” visto em outro lugar, esclarecendo que a notícia não é deles.

Piauí Herald – O blog nasceu em 2009 de um insight do publisher João Moreira Salles, que tinha visto um anúncio da Louis Vuitton com Mikhail Gorbachev, ex-presidente da extinta União Soviética. Ver os dois símbolos juntos foi uma situação tão inusitada que ele teve a ideia de criar um espaço para histórias com esse viés. As piadas são construídas em cima de hardnews. O responsável pelo blog é Renato Terra (diretor dos documentários "Uma Noite em 67", com Ricardo Calil, e "Fla x Flu – 40 Minutos Antes do Nada"), mas por vezes os textos são construídos de forma coletiva com os jornalistas da Piauí. São três a quatro sugestões de posts por dia, que são fechadas com a direção editorial. A elaboração do conteúdo exige leitura diária de jornais e a contínua observação de “bolas quicando”. A agilidade de postagens é essencial para o sucesso do blog. Outro produto da Piauí é o Diário da Dilma, que surgiu pouco antes da posse da presidente. É um diário ficcional de humor que agrada a diversos matizes políticos. Para produzi-lo valem consultas à agenda pública de Dilma Rousseff, leitura de jornais e revistas femininas, como Marie Claire. Segundo Terra, é apreciado até mesmo pelos partidários de Dilma Rousseff. O conteúdo gerou o livro homônimo, com histórias de janeiro de 2010 a maio de 2014. Foi lançado em setembro. 

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