Artigo: Nós também fizemos a Copa!
Como as mídias sociais interferiram, além da repercussão, no maior evento esportivo do mundo
Como as mídias sociais interferiram, além da repercussão, no maior evento esportivo do mundo
Meio & Mensagem
17 de julho de 2014 - 12h30
(*) Por Vitor Vieira
Como disse o presidente da Fifa, Joseph Blatter, na coletiva final da Copa do Mundo do Brasil, essa foi “a primeira (Copa) realmente móvel e sociável”. Realmente! Não porque apenas repercutiu nas mídias sociais, mas também se alimentou delas para criar histórias. Na carona disso, marcas também souberam ouvir o que se passava nos campos e fora deles para fazer ações e reforçar seus posicionamentos aproveitando-se do holofote ainda maior sobre oportunidades para se destacarem.
O País que mais utiliza redes sociais talvez tenha sido testemunha da primeira vez em que a interação mídias sociais/Copa do Mundo deu-se, em larga escala, numa via de mão dupla. O usuário e torcedor puderam, em diversos momentos dessa Copa, mais do que apenas repercutir (e transformar em memes) o que acontecia no campo com jogadores. Fomos responsáveis por pautar veículos e interferir diretamente no campeonato e suas estrelas.
Da campeã Alemanha ao famigerado e-mail de Dona Lúcia, fizemos uma escalada de grandes momentos em que as redes sociais materializaram assuntos nos campos (ou ao redor deles):
1 – Os que não tinham passaporte
As eliminatórias da Copa foram cruéis com o craque sueco Zlatan Ibrahimovic que não conseguiu classificar sua seleção para o Brasil. Imediatamente, cresceu nas mídias sociais um movimento liderado pelo canal Desimpedidos que lançou um vídeo e, 1,4 milhão de visualizações depois, convenceram Ibrahimovic a desembarcar no Brasil. A força das mídias sociais também pesou no convite feito a Shakira para participar da cerimônia de encerramento da Copa. Foi o que ela mesma disse em algumas entrevistas. A música La La La da cantora colombiana foi considerada por muitos o hino extraoficial da Copa. A repercussão da música fez com que Shakira (e Carlinhos Brown) estivessem no Maracanã no dia da final.
2 – Eto’o melhor que Obina
Logo na chegada da equipe camaronesa ao Brasil, o atacante Samuel Eto’o fez questão de mostrar que estava em dia com as redes sociais. Ao ser perguntado sobre quem era melhor, ele ou Messi, Eto’o não teve dúvida: Obina. A referência vem de um grito da torcida do Flamengo da época em que o brasileiro vestia rubro-negro e o camaronês se destacava na Europa.
3 – #Poldi
A Alemanha já foi citada até como case de comunicação pelo trabalho que fez com seus canais especiais e jogadores enquanto estiveram aqui no Brasil. Mas ninguém foi tão impactado pela força das mídias sociais quanto o reserva Podolski. Depois de alguns posts curtindo o estilo de vida brasileiro, ele virou meme como poderíamos imaginar. A partir daí, Lukas Podolski entrou na brincadeira. Os posts que se seguiram pareciam ter sido feitos sob medida para a brincadeira. Ora com a camisa do Flamengo, ora assistindo novela, o atacante que mal entrou em campo marcou sua passagem pelo Brasil aproveitando-se do burburinho causado pelos seus posts.
4 – Brasileiro com muito orgulho
No terceiro jogo da seleção brasileira, ninguém mais aguentava ouvir o “eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor” vindo da arquibancada para tentar incentivar os jogadores. O desespero era tanto que Felipão e Parreira se prestaram a ensinar a torcida brasileira a cantar uma música diferente no Jornal Nacional. A galera, então, resolveu agir. Criou músicas e começou a divulgar via redes sociais cânticos para a seleção. A Brahma, patrocinadora da seleção, entrou na onda, gravou e colocou gritos no Soundcloud e convocou ensaios para os torcedores cantarem as músicas. Até que deu certo! Pena que durou pouco =(
5 – A modelo contrata e demitida pelas mídias sociais
Ainda na primeira fase da Copa, um rosto no meio da torcida belga chamou a atenção. Axelle Despiegelaere, 17 anos, assistia à partida entre Bélgica X Rússia quando foi focalizada pelas câmeras da transmissão do jogo. Alçada rapidamente pelas mídias sociais ao posto de musa da Copa, a adolescente assinou contrato com a L’Óreal para ser garota propaganda da marca. De volta à Bélgica depois da primeira fase, ela até gravou um vídeo para a marca, mas logo teve seu contrato rompido quando postou uma foto polêmica defendendo a caça como atividade normal na sua recém-criada fanpage.
Bônus – dona Lúcia não entende de mídias sociais (nem de futebol)
Ok, essa não veio das mídias sociais, mas é um exemplo sui generis de como a opinião dos usuários comuns e torcedores da seleção chegaram a os jogadores nessa Copa. É improvável que, se você mora neste País, quarto colocado na Copa, não tenha visto a repercussão da cartinha/e-mail da dona Lúcia, lida pelo diretor técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, em coletiva para explicar a goleada sofrida para a Alemanha. Caso não tenha visto, estou te julgando, mas peço que clique aqui rápido. Sem conseguir explicar o que se passou com a seleção, Parreira e Felipão deixaram dona Lúcia mandar o recado para o Brasil. Se esse não for o ápice da representatividade de todos nós na Copa, eu não sei o que é.
Bom, acho que para mim ficou claro como o fluxo de comunicação se intensificou para todos os lados. A interferência dos usuários naquilo que eles mesmos repercutem precisava mesmo sair apenas dos programas de televisão e ‘ganhar a rua’. Esse caminho é sem volta. E devemos ver isso em estado bruto nas eleições que vêm por aí.
(*) Vitor Vieira é diretor de business intelligence da Agencia Ideal
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