Jornalista esportivo e publicidade: Pode isso, Arnaldo?
Hoje ativo em projetos de marcas, o ex-árbitro de futebol e comentarista de arbitragem comenta a cada vez maior proximidade entre elenco esportivo e anunciantes
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Thaís Monteiro
5 de setembro de 2019 - 12h30
Em abril deste ano, Arnaldo Cezar Coelho estreou como garoto-propaganda da Nextel. Na campanha “A Regra É Clara”, em alusão ao conhecido bordão do ex-árbitro, ele relata um plano da operadora em que o público acumula dados do pacote sem alterar seu preço. Em maio, começou um programete no canal da marca no YouTube no qual dá dicas ao público sobre como economizar, em que o comentarista também resgata sua experiência como corretor e diretor de banco. A série Apitadas do Arnaldo tem episódios quinzenais.
“A ideia da nossa associação é que eu dê ainda mais credibilidade a uma oferta que ajuda as pessoas a economizar e cuidar das suas finanças no longo prazo. Eu divido algumas das principais dicas que aprendi nos meus quase 40 anos de atuação no mercado financeiro a fim de contribuir para agilizar o dia a dia das pessoas que hoje batalham duro para prosperar neste cenário econômico em que vimemos”, conta Arnaldo.
A associação com a Nextel é a primeira desde que ele se aposentou das cabines de narração em novembro de 2018. Antes disso, o comentarista estava impedido de fazer acordos comerciais publicitários por cláusula de contrato com a Globo. A partir de 2020, talentos da equipe esportiva da emissora já poderão fazer ações de conteúdo e parcerias com marcas. Essa oportunidade ganhou corpo quando a a área de esportes da Globo saiu do escopo do jornalismo e se aproximou do entretenimento. Para Arnaldo, esporte é entretenimento, “um âmbito mais descontraído e que gera um vínculo mais leve com os espectadores”, diz. “Jornalistas estão numa seara que é naturalmente mais factual e ligada à credibilidade, e nesse contexto qualquer associação com ações publicitárias pede uma postura ainda mais cautelosa para garantir uma relação de confiança com o telespectador”, opina.Ao Meio & Mensagem, o ex-árbitro reflete sobre sua entrada no mercado publicitário, a relação de profissionais do jornalismo esportivo com marcas e o futuro do segmento cobertura esportiva na TV:
Meio & Mensagem – Quando você optou por começar a fazer campanhas publicitárias?
Quando eu anunciei que estava saindo da Globo, recebi o contato de algumas marcas interessadas em fazer campanhas comigo. Diferentemente das palestras que já estava habituado a fazer, uma campanha envolve uma associação mais direta entre a minha imagem e uma empresa, e por isso fiz questão de garantir que a proposta que eu aceitasse tivesse muita ligação com o meu perfil e o que eu busco nessa nova fase. A Nextel foi uma das primeiras empresas a me procurar e, depois de algumas conversas, decidimos trabalhar juntos porque eles buscavam uma parceria mais profunda do que somente o uso dos meus bordões e da minha imagem.
Como a Nextel chegou em você e como se deu essa escolha?
A ideia era que eu protagonizasse uma campanha que divulgava uma oferta. Conforme fomos conversando, percebemos que poderíamos ir ainda mais longe: a Nextel quer agilizar o dia das pessoas, e minha experiência em finanças pessoais, o que não era muito conhecido, era algo que poderia ajudar nessa jornada. Por isso, além da ideia inicial da campanha, criamos a websérie. Eu fico muito contente de fazer parte desse projeto que divulga conhecimento para as pessoas. Inclusive, agora que o pessoal sabe da minha longa experiência no mercado financeiro, já venho recebendo convites para palestras e entrevistas que vão além do futebol e falam sobre economia.
Dos bordões aos memes e à publicidade
A ideia original da campanha já estava bem estruturada na minha primeira conversa com a Nextel, então para a campanha não participei tanto da criação. Já a websérie Apitadas do Arnaldo foi algo que fizemos a quatro mãos: muito do conteúdo e dos temas dos episódios surgiu em conversas nossas ou como sugestões minhas com base na minha experiência no mercado financeiro.
Quais são os limites que você impõe ao realizar campanhas publicitárias?
Eu sou bastante seletivo com as campanhas que escolho ou não fazer. Não abro mão de me associar apenas a empresas e produtos que tenham a ver comigo e que não apresentem nenhum risco com as companhias com as quais sou vinculado, seja por parcerias ou por relações de sociedade.
Hoje, a Globo já garante mais flexibilidade para os jornalistas do esporte fazerem ações de marcas. Por que, na sua opinião, a emissora optou por isso?
Na minha visão, essa flexibilidade que a Globo dá aos jornalistas esportivos acontece porque esporte é entretenimento, um âmbito mais descontraído e que gera um vínculo mais leve com os espectadores, criando a possibilidade de associação dos profissionais desse meio a algumas marcas. Já os jornalistas de telejornais, por exemplo, estão numa seara que é naturalmente mais factual e ligada à credibilidade, e nesse contexto qualquer associação com ações publicitárias pede uma postura ainda mais cautelosa para garantir uma relação de confiança com o telespectador.
Como vê, de fora, o momento atual do jornalismo esportivo?
Hoje, todos os profissionais envolvidos com o futebol passam por muitas mudanças vindas com chegada do VAR (Video Assistant Refere), que está modificando tudo que se pensava em termos de futebol. Eu observo bastante como o meio esportivo tem aceitado a novidade sem criar limites. Na minha opinião, é importante que as pessoas sejam críticas em relação ao VAR, já que ainda há muitos pontos que precisam ser aperfeiçoados e que se não forem corrigidos, podem atrapalhar o esporte.
E quais são os maiores desafios desse setor?
O desafio que o jornalista esportivo tem é sempre estudar e se manter atualizado, acompanhando a evolução do futebol, que é constante e acontece no mundo todo. Os jogadores, por exemplo, têm manifestado sua insatisfação dentro de campo, pois sentem que o árbitro perdeu a autoridade e fica muito dependente do VAR, acompanhando mais o jogo pela televisão do que dentro do campo. Eu entendo que o árbitro de vídeo precisa ser mais bem-aplicado. Na teoria ele é muito positivo, mas na prática ainda existem pontos a serem melhorados, principalmente com relação ao espaço e interferência que o VAR deve ter durante a partida. São essas mudanças e a evolução como um todo que os profissionais precisam ficar atentos no dia a dia.
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