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Qual é o impacto da chegada do Disney+ no Brasil?

Entrada do novo player pode estimular criação de pacotes de assinatura entre os VODs estabelecidos e abalar cinemas


17 de agosto de 2020 - 15h17

Desde que anunciado e lançado nos Estados Unidos, em novembro de 2019, o serviço de streaming Disney+ se propôs a adicionar um novo tempero à ampla competitividade do mercado de VODs. Com um vasto catálogo das grandes marcas da Walt Disney Company — incluindo Disney, Pixar, Marvel, Star Wars e National Geographic –, a plataforma já conquistou 60,5 milhões de assinantes globalmente. Agora, a empresa anunciou a chegada do streaming no Brasil e deve mudar as dinâmicas do mercado nacional, tanto da perspectiva dos streamings como do cinema.

 

Walt Disney Company anunciou que terá conteúdo original brasileiro em seu VOD (Crédito: Mika Baumeister/Unsplash)

O Disney+ se estabelecerá no Brasil no mesmo mês em que o serviço completará um ano desde sua estreia nos Estados Unidos. O anúncio do lançamento, por si só, já repercutiu entre os grandes players da indústria. Desde então, os conglomerados do entretenimento aceleraram a apresentação e lançamento de suas próprias propriedades de vídeo sob demanda para não ficar atrás na corrida pela atenção (e pelo dinheiro) do consumidor, como HBO Max, Pluto TV e Peacoc, sinaliza Aline Pardos, diretora da DCM Consulting, consultoria especializada em audiovisual, streaming e PayTV. Fusões e aquisições, como a da 21st Century Fox pela própria Disney, agregou valor ao streaming e reforçou sua imagem como potencial líder de mercado.

A imagem, no entanto, ainda não se concretizou. A Netflix tem hoje cerca de 183 milhões de assinantes, o que limita, por enquanto, a competição em uma busca pelo segundo lugar entre os streamings com maior base de usuários. Atualmente, esse posto é é ocupado pelo Prime Video, da Amazon, com 150 milhões de assinantes. Uma estratégia que tem se mostrado bem sucedida para a Amazon, que é a de oferecer pacotes de serviços junto com a assinatura do Prime (como uma entrega mais rápida), pode ser adotada por outros players.

“Lá temos uma briga um pouco mais forte. Daqui pra frente, as plataformas vão tentar oferecer pacotes de assinaturas por meio de bandas largas ou com parceria com outros serviços agregando os streamings com outros produtos. Assim, a assinatura não pesa tanto no bolso da pessoa e ela não tem tanto essa sensação de fragmentação de conteúdo”, argumenta Aline.

Thiago Costa, professor de comunicação e marketing da FAAP, compartilha da percepção de que Netflix, apesar de consolidada, deve correr atrás de investir em mais propriedades intelectuais, tendo em vista que Disney+ e HBO Max tem em seu catálogo personagens e histórias já icônicas e duradouras. HBO Max é da WarnerMedia, então coleciona conteúdos da DC e séries emblemáticas, como Friends. Conforme os títulos dessas duas companhias forem migrando do catálogo de outros players para os seus próprios, à Netflix restará franquias que não são dos grandes conglomerados e produções originais, que ainda estão crescendo.

“A Netflix tem a vantagem do hábito e de ser o grande percursor no conceito de streaming, mas tem que ficar ligada, procurar novas franquias e ideias o tempo topo, porque esse é o principal ponto de vantagem dos seus concorrentes. Talvez o melhor exemplo de produção própria deles é Stranger Things, mas estão começando a fazer sucesso com adaptações de quadrinhos como The Old Guard e The Umbrella Academy“, diz.

Mercado nacional
O Disney+ chega ao Brasil em um momento um tanto quanto inusitado. Apesar do ganho expressivo de usuários que as plataformas de conteúdo tiveram por conta da pandemia, a previsão é que, entre o final deste ano e início de 2021, a situação tende a se estabilizar e o consumidor ficar mais atento para onde destina seus gastos, como aponta Aline. “Diferente dos Estados Unidos, em que o público costuma assinar de dois a três serviços, por aqui ainda não chega a dois. Com o impacto da pandemia na renda das pessoas, os assinantes vão ser mais criteriosos. Resta saber o preço do Disney+”, afirma. Nos EUA, a mensalidade equivale a U$S 6,99 e, no Brasil, o valor do serviço ainda não foi divulgado.

Da mesma forma, a executiva acredita que, para se diferenciar, os VODs devem investir em pacotes de assinatura e em conteúdo, especialmente o local, que tem um apelo muito grande. Essa estratégia também visa evitar as assinaturas por sazionalidade, que Aline define como o hábito do público assinar um streaming quando determinada série ou temporada está repercurtindo e, depois, cancelar o serviço.

Apoiado no mesmo debate acerca da renda brasileira levantado por Aline, Thiago Costa coloca outro elemento de grande relevância no mercado nacional: a pirataria, que deve aumentar conforme a amplitude da crise econômica consequente da Covid-19. “A pirataria vinha caindo e as pessoas se habituaram a não ter que caçar conteúdo, baixar legenda, mas sem dinheiro e em uma crise econômica, que faz com que nós tenhamos mais necessidade ainda de ter conteúdo interessante”, opina.

Baseado no aspecto econômico, o professor vê que a Amazon tem maior sucesso em território brasileiro por sua mensalidade mais acessível (R$ 9,90) e toda a estrutura benéfica que vem junto com a assinatura. No entanto, a própria Amazon, que atualmente abriga os conteúdos da marca, vai ser impactada com a migração de boa parte do seu catálogo para o plus. Segundo Costa, as séries das franquias Star Wars e Marvel e os produtos infantis — um diferencial em termos de VOD — são fortes atributos no mercado.

Para além da disputa streaming X streamings, outro debate que cresceu durante a pandemia – e que deve ganhar mais relevância com a chegada do Disney+ – é a disputa pelo lugar de primeira tela de exibição dos grandes filmes. Durante o isolamento social, com os cinemas fechados, o VOD deu espaço para a estreia de longas como Artemis Fowl e, em 4 de setembro, Mulan.

“A vinda do Disney+ para o Brasil é bom para o consumidor. É mais uma oferta de conteúdo. Para produtoras e distribuidoras, a entrada de mais um player também é benéfica, pois é um novo espaço para ofertar conteúdo. O lado negativo é o impacto que isso vai trazer para os exibidores. É um mercado que já está fragilizado. Mulan era o lançamento do ano”, descreve Malu Andrade, diretora de desenvolvimento e políticas audiovisuais da Spcine.

Do lado da empresa de cinema e audiovisual de São Paulo, a entrada do streaming no mercado gera um impacto nulo, diz a executiva. Isso acontece porque a Spcine não trabalha com filmes de grandes players, e sim produções nacionais no seu catálogo do Spcine Play. Nas salas de cinema da empresa, esses filmes de blockbusters são exibidos com cerca de 12 semanas após entrar em cartaz nas grandes redes. “Pegamos o cinema numa segunda onda e não é ruim porque atendemos às pessoas com menor poder aquisitivo, o que faz com que a pirataria seja mitigada”, afirma.

Aline Pardos projeta um crescimento de streamings esportivos no mercado, como DAZN e que com a chegada do 5G no Brasil, a situação também tende a mudar com maior aceleração do consumo.

**Crédito da imagem no topo: Pan Xiaozhen/Unsplash

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