Threads: rede completa primeiro ano com incógnitas e oportunidades
Rede social da Meta ainda precisa, segundo profissionais da área, consolidar identidade e ampliar soluções que atraiam tanto os creators quanto as marcas
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Bárbara Sacchitiello
19 de julho de 2024 - 7h32
Cem milhões de usuários nos primeiros cinco dias. Quase 95 milhões de posts publicados antes de completar a primeira semana. Na era das redes sociais, certamente poucas plataformas tiveram um início de vida tão meteórico quanto o Threads.
A rede social da Meta, que estreou nas lojas de aplicativos no dia 5 de julho de 2023, chegou em um período que parecia bastante propício para o experimento de uma nova plataforma social.
Na ocasião, muitos usuários lamentavam diariamente sobre os rumos que Elon Musk estava dando para o Twitter – que, dias depois, mudaria seu nome para X, em mais um movimento de sua gestão que gerou muita controvérsia.
Em meio àquelas indefinições sobre o futuro da plataforma, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, viu uma oportunidade: criar uma rede social que servisse como alternativa ao Twitter, aproveitando a gigante base que já possuía em outra de suas plataformas, o Instagram.
As primeiras horas do Threads foram animadas para os early adopters das redes sociais. A curiosidade em entender como era aquela nova plataforma fez com que o número de downloads do aplicativo batesse recordes. No Brasil, várias celebridades correram para criar seu perfil no Threads – algo que nem dava muito trabalho, uma vez que a plataforma fazia uso do mesmo login e senha de quem já tinha uma conta no Instagram.
“A integração com outras plataformas da Meta ajudou a estabelecer uma base representativa de usuários. Foram 100 milhões de inscritos na semana de lançamento, um recorde”, relembra Ronaldo Martins, CEO do A-Lab, empresa do Grupo Dreamers.
A nova rede social surgiu em um momento propício, ocupando um espaço de perda de credibilidade e segurança do conteúdo deixado pelo X, opina Alexandre Spínola, diretor executivo da 4influence, agência de influência e conteúdo social do Grupo REF.
Apesar disso, o gás inicial parece não ter se sustentado. “Chamou a atenção e ultrapassou 100 milhões de usuários em poucos dias, apesar de perder a força e o interesse das pessoas nos meses seguintes”, avalia Spínola.
No início deste mês de julho, a Meta declarou que o Threads já havia alcançado um público de 175 milhões de usuários. Apesar da robustez, o número ainda não se reflete em popularidade. Nesses primeiros 12 meses de existência, o Threads ainda não conseguiu fazer parte das conversas do público e nem ocupar um lugar onde às pessoas vão para ficar por dentro do que está acontecendo.
Profissionais de marketing de influência e de mídia sociais ouvidos pela reportagem pontuam que a Meta tentou fazer sua parte, com a criação de funcionalidades e soluções para que aquele ambiente fosse mais atrativo. Contudo, os especialistas avaliam que a plataforma ainda precisa evoluir em alguns pontos importantes, principalmente na busca por uma identidade própria.
“Acredito que o Threads não substituiu o Twitter [atual X], mas precisa achar sua identidade. Isso leva tempo. O Twitter se mostrou maior que um diário de atividades: é uma chuva de memes, opiniões, ódio, amor etc. O Threads ainda precisa encontrar sua identidade nesse sentido”, acredita Tiago Trindade, cofundador, sócio e CCO da Digital Favela.
Embora as iniciativas de Elon Musk no X continuem gerando críticas por parte dos usuários, a rede social ainda segue como a grande casa da cultura pop, na opinião dos especialistas. É lá que os assuntos surgem e são compartilhados em escala. Prova disso, segundo o diretor-executivo da 4influencer, é o fato de o Trending Topic ainda ser uma métrica importante de relevância.
Por outro lado, segundo ele, o Threads ainda não consolidou sua audiência e seu propósito. “Ainda é uma plataforma de texto, com limite maior de caracteres em relação ao X, apesar do uso de imagens e vídeos ser crescente. É uma rede pautada pela interação mais íntima e pessoal, compartilhamento de pensamentos, sentimentos e momentos do seu dia”, contextualiza Spínola.
Ainda que não tenha definido exatamente seu papel como rede social, o Threads representa mais um recurso de conexão para os criadores de conteúdo com sua audiência.
Para influenciadores e creators, o Threads oferece nova oportunidade de engajamento, especialmente para aqueles já estabelecidos no Instagram, segundo Trindade, da Digital Favela. A integração, segundo ele, facilita a migração e a expansão do público.
“No entanto, a plataforma ainda está em fase de amadurecimento e alguns influenciadores podem encontrar desafios em termos de alcance e monetização”, complementa.
O CEO da A-Lab também toca no ponto da monetização ao avaliar como a rede social pode ser mais atrativa para os criadores de conteúdo. Por enquanto, a plataforma ainda não apresentou políticas de remuneração aos creators, algo que deve ser crucial para que aqueles que já têm uma comunidade consolidada no Instagram queiram experimentar as possibilidades do Threads.
Um trunfo para a rede social, nesse aspecto, é a própria integração com as demais plataformas da Meta, algo que facilita o gerenciamento de conteúdo e a conexão com diferentes públicos. Há ainda, segundo Martins, outro ponto que pode se tornar uma vantagem. “A ênfase em discussões de qualidade em um ambiente mais controlado atraiu influenciadores que buscam engajamento significativo e positivo em vez de números de seguidores inflacionados”, pontua.
Já como plataforma de mídia, a jovem rede social ainda tem pela frente um terreno praticamente inexplorado, segundo os profissionais ouvidos pela reportagem.
Logo no dia de lançamento da rede social, aCif reuniu diversos influenciadores brasileiros para uma ação que se configuraria como a primeira iniciativa de marca no Threads. Nos dias consecutivos, contudo, esse alvoroço inicial não despertou interesse sustentado de muitas marcas no longo prazo.
“Embora nomes como Magalu e Azeite Andorinha tenham entrado na plataforma para se consolidar, muitas marcas estão há meses sem postar nada. Isso reflete a criação de uma nova rede social sem um objetivo claro. Para as marcas anunciarem, é necessário que os usuários estejam ativos na plataforma”, considera Spínola.
Apesar da avaliação de que o Threads ainda não encontrou exatamente seu lugar nesse universo de diferentes usos das redes sociais, os profissionais acreditam que isso pode acontecer em breve se a plataforma de Zuckerberg implementar alguns recursos.
O primeiro, segundo a Meta, é uma ferramenta que mostrará os assuntos mais comentados, ao estilo do Trending Topic, do X. A funcionalidade, bastante aguardada pelos usuários, deve chegar ao Brasil até o fim do ano.
Outro recurso é o contador de visualização de posts, algo importante como métrica para influenciadores e marcas. E, ainda, a rede social promete, para 2025, a abertura para a compra de espaços publicitários.
“A plataforma precisa ampliar suas opções de publicidade, oferecendo às marcas mais formas de alcançar e engajar o público”, cita o CEO da A-Lab entre os pontos que considera cruciais para que o Threads possa seguir sua jornada como uma rede social mais atrativa e lucrativa.
Além disso, segundo ele, é muito importante fortalecer a moderação do conteúdo e garantir um ambiente mais seguro e positivo é fundamental para manter a confiança dos usuários.
Uma vez que já conta com a força da Meta, do Instagram e do Facebook em sua “família”, o Threads precisa, agora, investir na principal essência das redes sociais: fomentar comunidades. Spínola sugere, por exemplo, que a rede se aproprie da pauta que está efervescente na cultura pop, de eventos ao vivo, de mais conteúdos sobre séries, filmes e jogos, por exemplo.
“Threads ainda é um espaço com oportunidades e recursos inexplorados. Mark Zuckerberg prometeu, recentemente, que a plataforma será o próximo aplicativo da Meta a alcançar 1 bilhão de usuários. Agora, é aguardar para ver a efetividade dessas novidades e como vai evoluir a adesão por parte dos usuários, influenciadores e, consequentemente, das marcas”, conclui o diretor-executivo da 4influence.
Além de citar a melhoria da experiência ao usuário, as opções de monetização para os creators e refinar a integração com as demais plataformas da Meta, o sócio e CCO da Digital Favela destaca o que acha fundamental para a rede social construir um futuro.
“O Threads precisa achar sua identidade, acima de tudo. Ele é apenas uma cópia do Twitter [atual X] ou tem uma alma própria? O tempo irá dizer”, finaliza.
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