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Opinião

As vozes do mundo e os vetores que estão impactando os negócios

Vivemos a era da revisão de valores e de modelos, um momento em que novas visões e novos jeitos de pensar e fazer já movimentam transformações nas famílias, na cultura, na política e no trabalho


20 de agosto de 2018 - 11h28

Na semana passada, finalizamos o report As Vozes do Mundo, que identifica, organiza e explica os vetores que estão transformando o mundo dos negócios. Um projeto que nasceu da análise de diferentes fontes como relatórios publicados pelo Fórum Econômico Mundial 2018, discursos de diferentes lideranças em alguns dos mais relevantes eventos internacionais no último ano, estudos de cases e entrevistas com líderes de diferentes setores. Uma ideia que resolvemos colocar de pé de forma independente, por ter a ver com nossa razão de existir — ousadia de quem se lembra todo dia de que transformou aquilo que acredita em trabalho para ajudar profissionais e empresas interessadas em rever seus papéis e desenhar novos propósitos, valores, narrativas e atitudes a partir das quais irão se mover daqui para a frente.

 

(Crédito: Tanawatpontchour/iStock)

Vivemos a era da revisão de valores e de modelos, um momento em que novas visões e novos jeitos de pensar e fazer já movimentam transformações nas famílias, na cultura, na política e no trabalho. Uma revisão das estruturas que, ao mesmo tempo, refletem e organizam o modo de vida dos indivíduos, da sociedade, das organizações governamentais e não governamentais, dos governos, da mídia e das corporações.

Neste momento, As Vozes do Mundo estão falando de uma transformação que já está em curso e que tem como principais vetores:

Confiança e Ética: o encontro entre a aceleração do desenvolvimento tecnológico e científico, a crise humanitária e ambiental e a corrupção estão deixando claro que antigos modelos não são mais capazes de responder às necessidades e estão promovendo uma nova consciência e uma mudança no papel das organizações na construção da realidade. Um vetor que impacta as relações de trabalho e questiona a construção de valor para sócios e acionistas como meta única e independente de eventuais danos causados pelo caminho.

Diversidade e Equidade: estamos vivendo em um mundo mais desigual no mesmo momento em que nossa capacidade de ver e interagir com mais realidades e de permitir que mais vozes se manifestem cresce exponencialmente. Nesse cenário, a necessidade de inclusão e de respeito a diferenças se coloca como urgente tanto para que o mundo dos negócios seja capaz de refletir, dialogar e inovar quanto para que as corporações possam se apresentar como agentes facilitadores desse processo. Um vetor que está provocando mudanças estruturais nas corporações. Hoje, cerca de uma em cada cinco empresas da Fortune 100, como Salesforce, Google, Facebook, Microsoft, Twitter, Dropbox, Pinterest, SAP, Apple, L’Oréal, AT&T, Sprint, Bank of America, Citigroup, Time Warner, Merck, Sodexo e Wells Fargo já implementou uma nova posição em seu C-Level: o Chief Diversity & Equality Officer.

Economia da Felicidade: As consequências individuais e coletivas de uma cultura baseada em conquistas materiais e o esgotamento de uma era dominada pela competição, pelo excesso, pela obsolescência programada e pelo desperdício estão gerando uma nova realidade, onde o valor está na busca pelo que parece sutil, impalpável e capaz de gerar equilíbrio e bem-estar. Desde que Harvard deu início, há quase 80 anos, ao Grant Study, parte dos Estudos de Desenvolvimento Adulto da Harvard Medical School, com o objetivo de identificar os fatores que influenciam, garantem ou impedem o envelhecimento saudável da sociedade, 2017 foi a primeira vez que o resultado afirmou que a essência de uma vida satisfatória é sobre amor e relacionamentos e não sobre dinheiro, poder ou realização profissional. Um resultado tão óbvio quanto capaz de colocar em torno de uma mesma mesa pensadores, cientistas, economistas, empresários e políticos refletindo sobre um ponto: a profusão de números, proporções e indicadores de economia que passamos a medir e monitorar acreditando na ideia de que a felicidade e o bem-estar eram uma consequência natural do crescimento econômico. Em abril de 2012, a felicidade passou a ser considerada pela ONU um “novo paradigma econômico” (até então o Butão era o único país a considerar a felicidade um indicador de desenvolvimento) no qual a expectativa de vida saudável ao nascer, o afeto positivo, a percepção de corrupção, o nível de confiança e a taxa de desemprego influenciam no nível de felicidade.

Economia Circular: A ameaça de um colapso ambiental decorrente do modelo de produção e consumo fez surgir uma nova forma de pensar o capitalismo e as estruturas de negócios onde produzir e consumir produtos ou serviços passa a ser um ato de compartilhamento de responsabilidades entre todos os envolvidos. Estamos diante de uma nova lógica que valoriza a ética, a circularidade, o coletivo, o compartilhamento, o reuso, a reciclagem, o impacto e o lucro sustentável de longo prazo em toda a cadeia. Uma mudança sistêmica de valores e práticas. Uma nova matriz produtiva em que a longevidade do negócio está em gerar valor compartilhado com toda a cadeia, em um formato onde o crescimento do todo vem da expansão das partes.

“Vivemos a era da revisão de valores e de modelos, um momento em que novas visões e novos jeitos de pensar e fazer já movimentam transformações nas famílias, na cultura, na política e no trabalho”

Os vetores que estão transformando o mundo dos negócios são consequência natural das questões culturais, sociais e ambientais que definiram a forma de agir do último século e têm impactado, fortemente, o desenvolvimento e as relações humanas nas últimas décadas. Muita coisa está acontecendo no mundo agora, muitas realidades estão sobrepostas, e não faltam fatos e expressões para nos ajudar a ver, discutir e entender a direção e o caminho que já estão desenhados. Entre a correria do dia a dia, as necessidades urgentes e as discussões em torno do que vamos ser em 30 anos existe muito a ser considerado, aprendido, criado e realizado hoje, considerando a nova grade de valores e as prioridades já estabelecidas.

O futuro é o lugar que estamos construindo por meio das decisões que estamos tomando agora e lidar com o que isso significa pode até parecer uma escolha, mas não é. Não somos fruto do acaso, nunca fomos. Somos uma série histórica e nascemos com capacidade de processamento suficiente para correlacionar fatos e perceber as mudanças enquanto elas acontecem. Mesmo em uma realidade aparentemente cada vez mais volátil, tem uma coisa que nunca muda: o mundo tem sempre algo a dizer. O que nunca parece ser igual é nossa disponibilidade para ouvir. Você já parou para ouvir as vozes do mundo hoje?

*Crédito da foto no topo: Tookapic/Pexels

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