Opinião
Ciranda nos altos escalões
Executivos chefes de marketing ganham terreno com a ampliação em seus escopos de trabalho, mas ainda sofrem com a pressão de lidar com a perspectiva de curta permanência nos cargos
Executivos chefes de marketing ganham terreno com a ampliação em seus escopos de trabalho, mas ainda sofrem com a pressão de lidar com a perspectiva de curta permanência nos cargos
Armadilhas impostas pela falta de adaptação a novas tecnologias, lacuna de competências para lidar com as rápidas mudanças nos cenários econômico e de consumo, desgastes ante resultados financeiros abaixo do esperado. São muitos os flancos expostos para determinar a troca de executivos chefes e líderes de marketing nas grandes companhias do Brasil e do mundo. Estudos recentes de consultorias de recursos humanos e empresas especializadas em recrutamento reforçam que há uma rotatividade intensa nos altos escalões. Os fatores que motivam a ciranda de executivos mudaram nos últimos tempos, com menor incidência de aspectos tradicionais, como aposentadorias, e maior relevância de questões comportamentais e culturais, como desligamentos voluntários encorajados pela necessidade de cuidados com a saúde mental e demandas das companhias por mais diversidade no C-level.
Para analisar as alterações promovidas nos altos escalões, é preciso começar pelo todo. O total de mudanças de CEOs em empresas nos Estados Unidos bateu recorde em 2023: 1.914 executivos chefes deixaram seus cargos, o que representa um aumento de 55% em relação às 1.235 mudanças registradas em 2022. O total do ano passado é o mais alto já registrado pela empresa de coaching executivo Challenger, Gray & Christmas, superando o recorde anterior, que era de 2019 — considerando que o monitoramento é feito desde 2002. O estudo aponta, ainda, que a idade média dos CEOs que deixaram seus postos no ano passado baixou para 56 anos, em comparação com a média de 63 anos anotada em 2017. Por outro lado, cresceu o número de mulheres entre os novos ocupantes de postos de direção executiva, de 26% em 2022, para 28%, no ano passado.
A busca por maior diversidade na cadeira de CEO é uma das possíveis explicações para a alta no turnover, segundo análise da Challenger, Gray & Christmas. A consultoria indica também que o planejamento sucessório é uma área crucial de atenção para as empresas, baseada no dado de que a maioria (55%) das companhias privadas que mudaram seus CEOs nos EUA no ano passado buscaram novos ocupantes para o posto no mercado, e não em suas equipes internas.
Outra pesquisa, da empresa de recrutamento Spencer Stuart, mapeia a rotatividade dos chief marketing officers. Analisando a situação de executivos atuantes em cem empresas incluídas no ranking de maiores anunciantes dos Estados Unidos, de acordo com o AdAge, e incluídas na lista Fortune 500, o mandato médio dos CMOs se manteve estável, repetindo em 2023 os mesmos 4,2 anos aferidos em 2022. O estudo aponta que, apesar da estabilidade no tempo de permanência, a função de chefe de marketing continua sendo uma das mais pressionadas no C-level, já que a média geral nos altos escalões é um pouco maior, de 4,6 anos. Outra constatação é a de que em anunciantes maiores a situação é ainda mais tensa: quando considerados apenas executivos da lista de cem maiores do AdAge, o tempo médio cai para 3,1 anos.
A Spencer Stuart faz questão de ressaltar que o mandato curto nem sempre é um mau sinal, pois há profissionais de marketing ampliando funções e responsabilidades, o que os fazem trocar a sigla CMO por outras mais abrangentes — movimento que deixa suas caminhadas ainda menos lineares. A questão da diversidade volta a aparecer aqui, com o número de mulheres na liderança de marketing alcançando a paridade com o de homens: quando analisada a lista Fortune 500, elas representam 50% — ante os 47% de 2022. Por outro lado, o percentual de diversidade racial entre os CMOs caiu de 14% para 12%, no mesmo período.
A rotatividade é um dos principais indicadores para a indústria medir o sucesso na retenção de talentos, pelo fato de as atividades de comunicação, marketing e mídia serem dependentes do empenho de pessoas, mas também pelas implicações financeiras, operacionais e, especialmente, culturais geradas a cada troca. No caso dos CMOs, os desafios impostos ao desempenho da função se multiplicam, em velocidade impulsionada pelas transformações comportamentais do público e mutações adicionadas por novas tecnologias, o que deixa demasiadamente curto o tempo disponível para readaptações — algo que talvez nem chegue a acontecer, com o atual horizonte de permanência no mesmo cargo.
Compartilhe
Veja também
Liderança feminina: vamos aprender com ela?
Líderes femininas costumam criar ambientes de trabalho mais inclusivos, onde todos se sentem ouvidos e valorizados
Jornada de conhecimento
Para reforçar vocação de principal fórum de debates do País entre lideranças da indústria, Maximídia investe em curadoria de conteúdo com foco na agenda futura do mercado, pluralidade de opiniões e diversidade de temas