MIMIMI é a dor do outro que eu não sinto
Investimento em letramento sobre diversidade e inclusão melhora o clima e saúde mental dos colaboradores
Investimento em letramento sobre diversidade e inclusão melhora o clima e saúde mental dos colaboradores
Saímos da pandemia COVID-19 com a necessidade de as empresas priorizarem a saúde mental dos colaboradores, e para a construção de um ambiente de trabalho mais saudável, nada melhor do que realizar um diagnóstico a partir da escuta ativa e treinamentos.
Por isso, algumas empresas investem em pesquisas, como clima organizacional, para capturar a motivação dos colaboradores; a satisfação com ambiente de trabalho e a relação entre os colegas. Além disso, existe também o investimento no código de ética e conduta, em treinamentos sobre todas as formas de assédio, e no canal de denúncia/ouvidoria.
Mesmo com todas essas ferramentas de pesquisa e treinamentos, ainda persiste um ambiente tóxico nas empresas, onde 60% dos profissionais negros reclamam de racismo (Instituto Guetto), 61% das pessoas LGBTQIA+ escondem sua sexualidade (The Center for Talent Innovation) e mulheres continuam sofrendo muito com constrangimento e assédio (Instituto Patrícia Galvão) etc.
Nos últimos anos, as organizações que se engajaram na jornada de promoção de mais diversidade e inclusão (D&I) tiveram que investir em pesquisas específicas para identificar o estágio de maturidade da cultura de D&I. Agora não se trata apenas de apresentar um diagnóstico com o que pensa o conjunto dos colaboradores, mas sim aprofundar a análise para identificar o que pensam as mulheres, os negros, os indígenas, as pessoas com deficiência, as pessoas com mais de 50 anos, os jovens e os LGBTQIA+.
A segmentação pelos grupos de diversidade traz uma riqueza enorme de informações, emergindo alavancas da cultura e evidenciando pontos de melhoria que antes não eram enxergados com tanta profundidade. Nas pesquisas que realizamos, nos chama atenção como ainda é alto o constrangimento por piadinhas ofensivas e comentários pejorativos que impactam os grupos de diversidade.
A convivência no ambiente de trabalho fica melhor se compartilhada com pessoas bem-humoradas, pois um ambiente mais leve e um clima positivo são extremamente benéficos para um alto desempenho, engajamento e produtividade.
Aquilo que já foi considerado “normal”, hoje em dia não cabe mais. Piadas ofensivas; comentários pejorativos; apelidos que ridicularizam; chacotas que envolvam aspectos como raça, peso, deficiência física e outras características individuais que geralmente são alvo de preconceito; são identificadas como assédio moral, e passível de punição para quem o pratica e para a empresa que se omite na hora de tomar medidas para que a prática seja repudiada.
Essa violência pode acarretar prejuízos graves à saúde psicológica do colaborador, como ansiedade, baixa autoestima, depressão, entre outros danos que podem evoluir para uma piora no desempenho ou até mesmo no desligamento desse profissional do mercado.
Como costumo repetir nas minhas palestras, precisamos conscientizar a todos de que “mimimi é a dor do outro que eu não sinto”. E a solução para eliminar as piadinhas e comentários pejorativos está no letramento dos colaboradores.
O letramento é um conjunto de práticas que ajudam a desconstruir e reconstruir olhares e opiniões. Por meio da linguagem, é possível replicar um processo estrutural e reforçar a superioridade de um grupo sobre outro, por isso o letramento também foca no uso competente de leitura e escrita nas práticas sociais, para que as pessoas possam se posicionar com mais assertividade e segurança. Além disso, se faz necessário um mergulho na história e cultura que construíram a homofobia, racismo, machismo, etarismo, capacitismo estruturais no Brasil.
Somado ao letramento, as organizações precisam criar canais seguros para que os próprios colaboradores possam denunciar os casos de assédio, e oferecer treinamentos corporativos aos seus líderes para que eles mesmos consigam identificar os casos e tomar as providências cabíveis.
A questão posta é: precisamos avançar mais rápido na construção de ambientes mais inclusivos para dar um salto na promoção da saúde mental dos colaboradores.
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