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Opinião

Não existe inovação sem humanização

As pessoas ainda estão centradas em encontrar soluções antes de entender os problemas e estes sempre dizem respeito a outro ser humano


11 de outubro de 2022 - 6h00

Crédito: Shutterstock

“Apaixone-se pelo problema, não pela solução”. A emblemática frase proferida há cinco anos por Uri Levine, empreendedor israelense e cofundador do app mais utilizado no mundo — o Waze — é claramente a dialética entre humanização e inovação. Porque o problema só pode ser de um ser humano, e a solução é a inovação — a forma de ajudar a resolver determinado problema.

A interpretação seria algo como: “Antes de tudo, se apaixone pelo ser humano e não pela inovação”. O que ocorre é que muitas inovações acabam não tendo sucesso justamente porque cria-se solução para um problema que não existe. Portanto, tal inovação não faz sentido!

Hoje, muitas inovações — mais ou menos disruptivas — estão sendo questionadas porque as pessoas estão tão afoitas, que acabam pulando direto para resolver o problema. No fundo, como já dizia o poeta, as pessoas não querem comprar uma furadeira, querem um furo na parede. Segundo a filosofia do Jobs To Be Done (JTBD), as pessoas compram produtos e serviços que ajudem a resolver um problema. A inovação orientada a resultados é consumer centric, tem uma estratégia focada em dados e um processo ancorado em métricas definidas a partir do consumidor.

Isso significa que, antes de você assumir uma solução, primeiro defina o problema e não tenha medo do risco, o gerencie. Não tenha um approach fragmentado, siga uma única linha de raciocínio. Em vez de validar a potencial solução, invista mais em construir entendimento. As pessoas ainda estão muito mais centradas em tentar encontrar soluções antes de entender os problemas. Isso leva a inovações não relevantes ou fracassadas porque não ocuparam seu tempo para entender, de fato, os problemas conectados à humanização. É preciso aprender a ter empatia ou a ter grupos que ajudem a trazer os diversos problemas. Mapear o problema está muito conectado às habilidades de observação, escuta ativa e saber fazer a pergunta certa. Quanto mais você consegue se aproximar de grupos menores, mais é possível não ficar em um problema raso ou que é seu e não do outro.

Inovação é cultura, é atitude, é vontade de querer fazer pelo e para o outro. No entanto, não basta ter novas ideias. Chegou a hora de praticar a empatia para inovar, colocando o ser humano no centro de tudo o que criamos e promovendo a construção de um mundo melhor para todos.

Se não consigo prever o futuro, preciso cada vez mais entender quais as dificuldades pelas quais as pessoas estão passando. O e-commerce, por exemplo, cresceu na pandemia não por ter focado na solução, mas porque houve um problema mapeado, o isolamento social.

Outro tema relevante que vem de mãos dadas com a humanização: hoje, 25% da população brasileira têm mais de 50 anos. Isso traz impactos em entender o que acontece com essas pessoas no processo de envelhecimento e deverá ser o JTBD da inovação. Do contrário, não estarei resolvendo um problema, mas criando inovação e solução para mim mesma — o que não necessariamente resolverá o problema do outro. A inovação veio a serviço do JTBD: quando estamos focados no problema, a solução é uma consequência.

Por fim, não existe inovação sem humanização. Devemos pensar a inovação não só como um processo, mas principalmente como uma cultura — ou modelo de pensar — dos novos tempos. Segundo um levantamento do Instituto Ipsos e do Fórum Econômico Mundial com mais de 21 mil adultos de 27 países, 72% dos entrevistados prefeririam que suas vidas mudassem significativamente em vez de voltarem ao que era antes da Covid-19. Isso muda a perspectiva porque oferece a possibilidade de pensar diferente. Estamos cotidianamente renovando nossos problemas e buscando soluções para cada um deles. Para isso, precisamos humanizar. Não tem como, já que não existe uma solução única para todos os problemas do mundo. Porque somos diversos.

Não à toa, a inovação deixará de ser um produto ou serviço e passará a ser um novo mindset, um novo soft skill. Por isso, inovação é a hora em que você para de pensar em produtos e começa a pensar em pessoas. Essa é a verdadeira inovação.

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