Um Washington a gente nunca esquece
W sabia esperar, sabia fazer as ideias brotarem em quem estava à sua volta; não era um chefe que disputava as ideias, era generoso, lançava a semente e depois regava fartamente
W sabia esperar, sabia fazer as ideias brotarem em quem estava à sua volta; não era um chefe que disputava as ideias, era generoso, lançava a semente e depois regava fartamente
Quando eu saí da propaganda, não olhei para trás. Hoje, dia 13 de outubro, ao saber que o W tinha morrido, foi a primeira vez. E chorei.
Senti uma enorme saudade do que eu, Nizan, Gabriel Zellmeister, Affonso Serra, Tomás Lorente, Marcelinho Pires, Carlos Chiesa, Cristiane Maradei, Celso Loducca, Marcelo Nepomuceno, Jarbas Agnelli (e tantos outros mais que eu me esqueço agora) vivemos ao lado dele.
Ninguém sabia trabalhar em equipe como ele. Ninguém era tão generoso com as ideias e com o dinheiro que elas geravam.
Ele me chamava de Camilinha. A Camilinha do Primeiro Sutiã, a Camilinha do Casal Unibanco, a Camilinha do “Pense em Mim” da Bombril, a Camilinha de tantos outros comerciais que, hoje, relembro com profunda saudade.
Naqueles tempos, nós não trabalhávamos, nós nos divertíamos. Aprendi com ele que precisava ler mais Caras e menos Proust, não porque ele não lia Proust, mas porque morávamos no Brasil e eu tinha que vender sabão em pó e não madeleines.
Aprendi a vender Melissinha, palha de aço, cigarro, seguro de vida, banco e batom. Aprendi a guardar meus papeis debaixo da minha pequena Olivetti, que enfeita a minha casa até hoje. Aprendi a não lutar pelas fichas técnicas e a não me levar tão a sério a ponto de esquecer que estava vendendo sabão em pó e não eu mesma. Não, ele não desprezava os Leões que ganhou em Cannes. Só sabia colocá-los na prateleira certa da sua carreira.
E de Camilinha em Camilinha, fui construindo uma carreira consistente, ganhei prêmios, ganhei prestígio, mas, acima de tudo, ganhei um lugar seguro para viver.
Nunca tive que pedir um aumento. Nunca tive que trabalhar sábados e domingos, nunca fui cobrada. W sabia esperar, sabia fazer as ideias brotarem em quem estava à sua volta. Não era um chefe que disputava as ideias, era generoso, lançava a semente e depois regava fartamente.
Hoje, ao saber de sua morte, foi a primeira vez que senti saudades de verdade da propaganda. Revi o “Primeiro Sutiã”, que só foi possível porque ele lançou a semente, e disse: “Só você vai saber escrever sobre isso. Um bom roteiro precisa ser baseado na vida real…”
Ao chorar, hoje, quase escutei sua voz dizendo: “Não chore, transforme isso em texto, de onde estiver vou dizer: ‘Essa é a Camilinha que conheço’”.
Obrigada, Washington.
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