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Cannes X SXSW: a batalha que nunca houve

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Cannes X SXSW: a batalha que nunca houve

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25 de abril de 2016 - 14h09

Não há qualquer concorrência ou batalha entre o Festival de Cannes e o SXSW. Uma coisa, uma coisa, outra coisa, outra coisa.

Mas nosso mercado gosta desse tipo de comparação. Fruto talvez de uma insegurança nativa de temer tomar alguma bola nas costas da realidade, que insiste em mudar. Cannes estava tão bom, gente! Porque foram inventar esse tal de SXSW, que nem pronunciável é? O que tem lá, afinal? Um bando de nerds malucos? É isso? Então, pra que?

Verdade. Tem um bando de nerds malucos e ninguém precisa ir lá, de fato. É uma questão de opção. Não ir pode ser uma boa.

Eu, por exemplo, não vou a Cannes faz oito anos. E de fato, sendo uma questão de opção, isso não mudou em nada minha vida profissional. Depois de 15 anos acompanhando de perto o que rolava na bela Cotê D´Azur, agora observo tudo daqui e pronto. Deu.

Este ano, vou pela quarta vez consecutiva ao SXSW e isso tem sido vital para meu avanço profissional. Opções, cada um faz a sua.

Mas afinal, o que um tem e o outro não? Em que eles se complementam, em que eles se excluem e em que um não tem nada a ver com o outro?

O Festival de Cannes é um evento internacional da indústria da comunicação, nascido – alguns não sabem disso – exclusivamente como um festival de cinema publicitário e não em Cannes, mas em Veneza (daí o símbolo ser o leão, quem já foi a Piazza San Marco sabe porque), em 1953.

Ao longo dos anos, foi incorporando mais e mais categorias dentre as ferramentas que servem ao marketing e compõe a comunicação. E, ainda mais recentemente, rebatizou-se de Festival of Creativity, para buscar se transformar num evento de criatividade a serviço do marketing.

Tem como eixo uma competição entre peças e projetos dessa indústria, em torno do qual, ao longo dos anos, construiu-se um arcabouço sólido de palestras que discutem temas de relevância para esse mercado.

O SXSW é também um festival, mas não de competitividade. É um mostra global de cultura, inovação, tecnologia e conhecimento de ponta. E na verdade, não é um único festival, mas três: um de música, outro de cinema, outro de interatividade, sendo este o mais perto de ser algo que minimamente interesse mais de perto ao nosso mercado.

O de música deu início a tudo, 30 anos atrás, em 1987. Música independente do centro-oeste norte-americano, red neck, country. Em 1994, foi lançado o festival de cinema e, no ano seguinte, o então ainda chamado SXSW Multimedia Festival, que em 1998, se transformou no SXSW Interactive, que conhecemos hoje.

Em 1996, foi no evento que ganhou notoriedade o CD-ROM. Em 1997, foi lá que começaram as primeiras discussões públicas sobre realidade virtual. Em 2009, Klout, Foursquare e Gowala foram lançados. Idem o Uber. E foi ainda no mesmo que foi apresentada para o grande público a primeira impressora 3D para uso doméstico. Em 2010, a plataforma digital de interpretação de voz Siri, que hoje integra os aparelhos da Apple, ganhou lá o destaque de melhor app. Em 2011, foi a vez do lançamento do AirBnb. Em 2014, pela primeira vez num mesmo evento Julian Assange e Edward Snoden falaram a plateia. Em 2015, lá foi lançado o Meerkat.

Cannes premia o passado, o que emplacou. SXSW olha para o futuro, o que ainda virá.

Sem Cannes, não saberíamos o que é bom ou ruim na comunicação publicitária. Sem o SXSW, não teríamos como dar uma espiadinha no futuro, com razoável grau de precisão.

Cannes celebra a criatividade e o negócio da comunicação. SXSW celebra a ciência e a inovação, negócios vem depois.

Cannes é o evento do status quo, chique e glamoroso, que tenta mimetizar seu parente próximo ainda mais chique e mais glamoroso, o festival de Cannes de filmes longa-metragem.

SXSW não reverencia o status quo, lá ninguém se veste bem, aliás, muito pelo contrário, e glamoroso é barbão, tatuagem e piercing nos lugares mais estranhos.

Cannes toma conta da cidade. SXSW também ocupa Austin. Mas enquanto em Cannes tudo ocorre prioritariamente no Palais, no SXSW, apesar de ser no Convention Center que a maior parte das palestras ocorre, o evento tem centenas e centenas venues espalhados.

Em Cannes, em 2015, ocorreram cerca de 150 palestras. Ano passado, no SXSW Music, ocorreram 2.266 apresentações, em 107 palcos. Apresentaram-se ainda 885 palestrantes, em 233 palestras. No SXSW Film foram mostrados 150 filmes. Em 250 palestras, se apresentaram 735 speakers. E no SXSW Interactive, foram 1.250 palestras e 2.700 palestrantes.

Vão a Cannes cerca de 15 mil pessoas de todo o mundo. No SXSW, são mais de 60 mil.

Eu disse que não dava para comparar alhos com bugalhos. Mas se você quiser, pode.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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