Pyr Marcondes
19 de junho de 2019 - 13h47
A postura de marcas séria e profundamente engajadas com propósitos que privilegiem a diversidade, a inclusão, a transparência, a eliminação do viés do marketing e de suas mensagens ao consumidor e à sociedade, é algo a se comemorar e enaltecer.
O Festival de Cannes deste ano, em suas peças e trabalhos exibe, possivelmente, o maior volume de campanhas e projetos legitimamente preocupados com as injustiças da nossa sociedade.
Idem a composição e seleção dos júris e jurados, mais diversa, o que acaba por se refletir na natureza e caráter das peças premiadas, como destacou reportagem do M&M.
Há, no entanto, algo que me preocupa desde que esse movimento, de resto, mais que bem-vindo, se iniciou: quanto de verdade existe nele?
Tenho lá minhas sérias dúvidas. Não creio que sejam todos legítimos. Creio que muitos não serão duradouros. E acho que há um monte de oportunismo nessa onda.
Alan Jope, CEO da Unilever, manifestou preocupação semelhante em sua apresentação no Festival de Cannes esta semana. Marcas de sua companhia enveredaram forte nessa pegada e, ao que tudo indica (e assim torcemos), estão levando tudo isso muito a sério.
Para ele, muitas companhias fazem campanhas maravilhosas, premiadas em Cannes inclusive, mas não fazem seu discurso ser acompanhado por práticas correspondentes.
Foi ele que disse. Eu já escrevi sobre isso mais de uma vez e, absolutamente, concordo.
Os consumidores andam meio desconfiados também que o discurso é real. Ou melhor, que o discurso é efetivado na real.
É o que mostra o sempre excelente estudo anual da Edelman sobre confiança, Edelman’s 2019 Trust Barometer Special Report, divulgado também no evento.
Segundo ele, enquanto 81% dos pesquisados afirmam que compram mais de marcas que se preocupam com temas socialmente engajados, apenas 31% acham que as marcas estão de fato entregando o que prometem.
Torço para estar errado. Mas acho que, infelizmente, não estou.
Mais sobre confiança numa sociedade desconfiada, leia aqui excelente estudo da iProspect.