Pyr Marcondes
31 de julho de 2017 - 6h49
Em excelente reportagem e análise do Editor Igor Ribeiro, a matéria de capa desta semana do jornal Meio & Mensagem coloca luz sobre o tema: cultura digital é condição para o futuro dos negócios. Matou. Não precisava dizer mais nada, Igor.
Mas disse.
Fez uma análise de empresas como SAP, IBM, Adobe e CI&T que mostra como cada uma delas endereça a questão da transformação corporativa contemporânea. E ainda mandou lá: “A maioria dos setores da economia acredita que digitalizar seus negócios envolve ações pontuais como renovar o e-commerce ou criar aplicativo mobile. Poucos investem, porém, o tempo e a inteligência necessários para realizar mudanças profundas, que garantam sua sobrevivência numa sociedade altamente conectada”.
De novo, matou Igor.
Pois vou contar aqui uma experiência muito pessoal nesse sentido. Não para falar de mim – embora vá falar de mim – mas para ilustrar como as mudanças essenciais são lentas e como a maior transformação não é, de fato, tecnológica (embora sem transformação tecnológica ninguém vá mais a lugar nenhum hoje em dia), mas cultural.
Pois bem, estamos lá nos idos de 2000/2001. Eu deixava de ser Country Manager da Starmedia, um portal latino-americano com ações na Nasdaq, que acabava de ser esmagado pela Bolha Pontocom, quando acreditei que sabia um pouco de digital e que poderia virar consultor no tema. Objetivo: ajudar as empresas na sua transformação digital. Entenda-se, mudar seu mind set, sua forma de entender o mundo, que já naquela época deixava de ser unívoco, linear e analógico para ser interativo, colaborativo, digital e a caminho do exponencial. Já lá se vão quinze anos.
E porque acreditei que sabia essas coisas?
Cabe aqui então um insert sobre a experiência da Starmedia, que foi radical, mudou minha vida e a de todos que tiveram o privilégio de participar dela.
Construção interativa de comunidades? Entendi o conceito, sua relevância e a razão do seu porque lá. Gestão de e-commerce? Conheci lá. Conteúdo colaborativo? Entendi lá. Personalização e costumer journey? Aprendi lá. A relevância do Mobile? Me liguei lá. You name it … aprendi lá. A teoria e a prática, liderando uma operação de 200 colaboradores, com a responsa de responder a investidores em Wall Street. Tudo lá.
Pois bem. Junto com mais dois sócios, Dado Lancellotti e Leandro Cruz de Paula (também um ex-StarMedia), e com funding da Ideia.com, liderada por Bob Wollheim (que com Cid Torquato me levaram para o portal), fundamos então, pós-StarMedia, a consultoria Digital Strategy. Seu objetivo era essencialmente este: difundir e aprofundar a cultura digital nas companhias, dando suporte para sua efetiva reformulação digital. Para que pudessem se integrar melhor ao mundo que se configurava, mais prontas para o seu futuro.
Fizemos projetos legais para alguns poucos clientes pontuais, mas não bastou. A consultoria teve que ser fechada.
Dei um tempo no assunto, voltei a trabalhar no Grupo Meio & Mensagem, auxiliei aqui na construção e consolidação de ProXXIma, que por si só tem lá seu jeitão genérico de “consultoria digital” e vive em seus 11 anos martelando nessa tecla de que tecnologia é ferramenta, mas que a mudança de cultura é o fundamental, e tals, até que resolvi, com apoio do nosso caríssimo Presidente e fundador Salles Neto, entrar uma vez mais na área da consultoria digital. E criamos, há dois anos mais ou menos, a M&M Consulting, que nada mais é do que a recriação da Digital Strategy, só que 15 anos depois.
Fiz um road show em algumas agências, anunciantes e veículos contando que estávamos prontos para auxiliá-los em sua transformação de cultura e práticas digitais. E sabe o que?: fomos muuuuito bem recebidos, mas poucos, na verdade, como no caso da Digital Strategy, fecharam negócios conosco.
Sabe por que? Bom, obviamente porque não viram relevância na nossa proposta de valor. Ponto.
Mas acredito também que não viram valor porque parcela significativa dos dirigentes do mercado e das empresas da nossa indústria ainda não acredita, de fato e no fundo da alma, naquilo que a reportagem do Igor fala com todas as letras: não há futuro sem a digitalização cultural das empresas.
Conclusão: tanto a Digital Strategy como a M&M Consulting estavam fora do tal time to market. Azar delas.
Seremos nós os parceiros ideais das empresas para colaborar nessa mudança? Talvez não. Mas o fato é que, embora muitas companhias tenham já hoje diversificadas soluções e métodos para auxiliar as corporações em seu desafio cultural digital, uma década e meia se passou e a manchete de M&M, que faria sentido quinze anos atrás, segue sendo válida ainda hoje.
Observemos generosamente que aqui e ali a ficha começa a cair para poucas e certamente privilegiadas empresas. Pontual e timidamente, é verdade, mas enfim, começa a rolar alguma transformação cultural e isso é bom. Não porque eu acho que é bom, mas porque é inevitável. E aí assim, posso cravar: é inevitável! Aprendi lá.
Concluindo, seja pelo caminho que for, se ele apontar para a digitalização e transformação cultural da sua companhia, incorporando tecnologia sim, mas entendendo que é o mind set a verdadeira mola transformadora, acelera!
Você pode achar que está protegido no seu modelo de negócio, que o destino vai te poupar, que ninguém está vendo e que você vai ficar quietinho, na moita, sem ninguém perceber que você não quer, nem sabe como e porque mudar, que tudo isso é bobagem, que é tudo coisa de radicais xiitas digitais, que nada vai mudar porque sempre foi assim, que … enfim, você pode seguir achando o que você quiser.
Problema seu. Leia o título, a reportagem do Igor e durma em paz.