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E você, vai levar quanto?
A dureza desta crise tem que nos fazer mais duros conosco mesmos. Duros com nossos propósitos mais intestinos
A dureza desta crise tem que nos fazer mais duros conosco mesmos. Duros com nossos propósitos mais intestinos
Pyr Marcondes
13 de junho de 2016 - 8h00
Por que esta indústria na qual todos nós trabalhamos acorda todo dia pela manhã? Para que servimos? É só grana? É por isso que você se levanta todo dia? Qual o propósito deste negócio? Bottom line das empresas? Mesmo? É tudo só por isso? Jura?
A edição impressa do jornal Meio & Mensagem da semana passada me fez refletir demais sobre essas questões, que nosso mercado insiste em colocar debaixo do tapete, como se elas fossem lixo. Ou uma vergonha. Ou inúteis.
Comecei chorando copiosamente ao ler o emblemático e emocionante artigo do Eduardo Tracanella chamado “Sobre Roberto, Maria e Antônio”, no qual ele fala sobre seu pai morto, Roberto, e seus sentimentos sobre isso. Além do oxigênio de vida que seus dois filhos, a Maria e o recém-chegado Antônio, insuflam em seu peito. Mais especificamente, em seu coração. Em sua alma. E que é isso que o faz seguir adiante em busca do melhor. Em sua vida e em sua profissão.
Mas para que falar de alma, Tracanella? Para que falar de gente morta e gente que nasce num jornal de marketing e comunicação? Pirou, Traca? A gente quer saber é de grana, velho! Quanto eu levo nisso, meu caríssimo?
Aí li o artigo da Ana Cortat, em que ela comenta que iniciou sua vida na carreira porque gostava de contar histórias. E no meio do caminho descobriu que enquanto ajudava a construir marcas, estava também ajudando a construir cultura. E que se apaixonou por interpretar pessoas e contextos pessoais na sua profissão.
Mas para que, Aninha querida? Por que você perde seu tempo com essas bobagens? Show me the money, darling!
Daí fui derivando minha leitura e cheguei no artigo do Marcelo Coutinho, sobre sistemas de confiança e de como as tecnologias, a comunicação e a transparência são essenciais para aproximar consumidores das marcas.
De novo, meu caro Coutinho, que baita perda de tempo ficar falando em bobagens como confiança e transparência? A gente quer é bufa! Quer ver a cor do din-din! Money, véi! Money!
Segui tergiversando e li o artigo da Cristiane Malfatti, em que ela alerta para o fato de que, diante da crise atual de propósitos e valores, com dramática falta de confiança e credibilidade, o binômio competência e solidez financeira já não garantem prosperidade e perenidade. Em suas próprias palavras … “a narrativa de prosperidade e perenidade que conhecemos demonstra sinais claros de falência. Basicamente, a referência que se consolidou de forma mais prevalente nos últimos tempos foi a de que o binômio competência e solidez financeira bastariam. A partir deles, o futuro estaria garantido. Os acontecimentos mais recentes, contudo, indicam que não. E no epicentro desse novo mundo estão em xeque especialmente pessoas, empresas, instituições financeiras e governos”.
Mas que-quéisso Cristiane, tá doidona? Viajou? E alguém quer lá saber dessas baboseiras de reputação, valores, propósitos, talecoisa, coisaetal? Toma juízo, menina! A gente tá aqui é pra funfá! Pôr no bolso, percebes? Se locupletá! Santa ingenuidade, Batman!
Pois então, caríssimo leitor, de novo: o que faz você se levantar todos os dias, ainda mais nestes dias tão frios? É só mufa, bufunfa, tutu, erva, bolada, gaita? Hem, hem ???
Se sim, parabéns e bye, bye! Fim do artigo pra você! Aliás, você já foi até longe demais, se chegou até aqui. Tens mais o que fazer, Mr/Ms. Rockfeller!
Agora, se você tem outras coisas às quais dá mais valor na vida, bom, então vamos continuar mais um pouquinho juntos por aqui.
Os indicadores de que há algo mais no reino da propaganda do que o vil-metal estão por todas as partes. Como vimos, em apenas uma edição do Meio & Mensagem, são vários os estímulos para pensarmos um pouco mais sobre o papel da nossa indústria e o que ela tem a contribuir para este País, notadamente este em que agora vivemos, uma Nação flagelada de valores, que escarafuncha – ainda bem – suas mazelas e suas entranhas mais podres, para ver o que desse lixo sobrevive.
Como muito bem coloca Abel Reis em seu depoimento ao Agências e Anunciantes, ninguém deveria duvidar que essa expiação dos nossos podres é um positivo e necessário elo na cadeia evolutiva da nossa própria decência enquanto País e enquanto sociedade.
Darwin já desenhou isso com seu devido brilho. Evoluímos dos nossos próprios entulhos. Dos sedimentos de corais das nossas próprias falhas. Sobrevive o mais evoluído. Mas para chegarmos a ele, precisamos exterminar e fazer apodrecer o podre. Cunha.
Ana Cortat coloca bem. Esta indústria tem uma capacidade única de “identificar sentimentos, medi-los, agrupá-los, entende-los e utilizá-los para construir histórias cada vez mais relevantes, significativas, memoráveis … foi nossa capacidade de interpretar os momentos culturais que nos transformaram em uma engrenagem importante do sistema social e econômico”.
Pois está mais do que na hora de promovermos debates e nos juntarmos para produzir um futuro em que esta indústria cumpra seu papel maior, que não é o de simplesmente aumentar o valor das ações das nossas companhias, mas dar sua mais elaborada, diferenciada, complexa e bem-acabada contribuição para que a sociedade da qual sobrevive tenha de volta o que lhe sorvemos.
A dureza desta crise tem que nos fazer mais duros conosco mesmos. Duros com nossos propósitos mais intestinos. Em cada fórum possível esse tema precisa frequentar nossas fartas mesas. Essa função, a de aglutinar essas necessidades e reflexões, é de cada um de nós. E das associações e entidades. E de órgãos como este Meio & Mensagem. E de cada um de nós, em nossa própria consciência e individualidade. Mesmo sozinhos no banheiro, entende?
Ainda bem que temos Tracanellas, Cortats, Coutinhos, Reis e Malfattis. Isso só numa edição do M&M. Imagina quantos mais não existem por aí?
E você? Vai levar quanto?
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