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“Fearless Girl” e Glass Lion: a auto-indulgência feita clichê.

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“Fearless Girl” e Glass Lion: a auto-indulgência feita clichê.

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Fearless-Girl
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Blog do Pyr

“Fearless Girl” e Glass Lion: a auto-indulgência feita clichê.

Na vida real, a boneca de bronze será retirada e o touro continuará lá. Wall Street seguirá soberana (ou nossa indústria quer destruir Wall Street e ninguém me contou?).


23 de junho de 2017 - 7h39

A superfície de bronze de um prêmio que se chama vidro reflete a auto-indulgência de um clichê que nos faz, como indústria, dormir o sono dos justos, em paz com a consciência da nossa natureza de prestadores de serviço.

“Fearless Girl” não é, infelizmente, um libelo pela condição feminina. É uma maravilhosa, sensível, inteligente e iconoclasta peça de marketing de uma corretora de valores de Wall Street. Só isso, o que já é bastante e é para isso que serve Cannes: premiar belas peças de criatividade mercadológica.

Como comentou Cara Marsh Sheffer, colunista do The Gauardian: “Let’s not kid ourselves into thinking that it is a brave feminist statement. It is not. Fearless Girl doesn’t have to worry about affording college – she’s owned by an investment firm! No one can shut her out of the economy, as so many of her flesh-and-blood sisters have been: she owns Manhattan real estate. In the financial district, no less! No wonder she’s so fearless”. Não iria tão longe, mas no cerne, estou com a moça.

“Fearless Girl” é a fábula da Bela e a Fera em versão revisitada pela ótica da diversidade contemporânea, em formato de ativação.

Na fábula, o amor sincero e sem preconceitos de uma donzela quebra o duro coração de um bruto. A garotinha de bronze irá quebrar o coração do touro e viverão todos felizes para sempre.

Na vida real, a boneca de bronze será retirada e o touro continuará lá. Wall Street seguirá soberana (ou nossa indústria quer destruir Wall Street e ninguém me contou?).

Não haverá qualquer ruptura, porque nunca houve, de fato, qualquer enfrentamento. Não há sequer um libelo. É a brilhante criatividade publicitária uma vez mais colocando sua genialidade a serviço de uma marca. É o que fazemos da vida e é o que fazemos melhor. Não somos bons em libelos reais.

Fomos excelentes em comerciais de cerveja usando bundas e peitos para esvaziar as prateleiras, todos nos lembramos, certo? Houve quem brifou, quem criou, quem aprovou e quem veiculou. Onde estava a menininha de bronze então? (*)

“Fearless Girl” e o Leão são de vidro. Vidro espelho de nós mesmos. Nossa licença poética.

Durmamos em paz.

(*) Veja aqui matéria do Meio & Mensagem sobre isso.

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