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Meu emprego vai acabar. Máquinas vão me substituir.

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Blog do Pyr

Meu emprego vai acabar. Máquinas vão me substituir.

As tecnologias de machine learning criam robôs que geram notícias com a mesma qualidade de jornalistas reais.


7 de maio de 2016 - 10h47

Este texto é premonitório. Tudo que está na nele vai acontecer. Só não sei exatamente quando. Mas o resultado final será um só: jornalistas como eu terão problemas em breve com seus empregos, porque máquinas vão fazer muitas das tarefas que fazemos. Você tem um empreguinho aí pra mim, quando rolar?

Entre idas e vindas, estou no grupo Meio & Mensagem há 38 anos. Ao menos que eu saiba, o pessoal aqui continua me aturando bem. Sabe-se lá porque. Mas a ameaça da minha perda de emprego não está ligada diretamente a uma eventual (e sempre possível) insatisfação com meu trabalho. Mas a uma ameaça desumana, porque vinda de máquinas.

Veja bem e coloque-se no lugar do meu empregador e dos empregadores de vários outros jornalistas como eu. Máquinas obedecem (eu, às vezes, não). Máquinas não faltam (eu, às vezes, sim). Máquinas não discutem (eu adoro discutir). Máquinas não pedem aumento (bom, eu já pedi algumas vezes). Máquinas entregam o que se espera delas (eu também, tento até um pouco mais, mas aí perco nos outros critérios de desempate aí acima). Por fim, máquinas podem, hoje já, entregar uma parte do que entrego como jornalista (aqui, talvez, eu ainda ganhe um pouquinho, mas não sei por quanto tempo), com qualidade bastante compatível com a que eu e outros jornalistas somos capazes de produzir.

Máquinas (que geram analytics) já orientam as redações sobre quais temas performam melhor em termos de preferência das audiências e acabam, de alguma forma, influenciando as decisões editoriais dos publishers. Mas isso é fichinha. O problema vai bem mais além.

O The New York Times criou um robô chamado Blossom, que escolhe dentre as cerca de 300 notícias diárias quais as 50 que os editores devem colocar para amplificação nas redes sociais, uma decisão antes tomada por jornalistas. Agora, no maior jornal do mundo, o Blossom manda, o jornalista obedece.

Nesse caso, a máquina, aparentemente colocada como força de apoio ao homem, na verdade rouba dele instâncias relevantes de decisão editorial. É como se fosse o início do fim do feeling e da experiência da profissão.

Mas a coisa fica mais séria quando a competição é direta, homem versus máquina.

A NPR – National Public Radio, colocou um de seus repórteres, no caso, o experiente Scott Horsley, para escrever um pequeno texto de rádio a respeito dos resultados financeiros da cadeia de fast food Deny´s, competindo contra um software de programação de texto chamado WordSmith, que deveria escrever sobre a mesma coisa. Assim que foram oficialmente publicados os números da empresa, ambos começaram seus trabalhos.

WordSmith escreveu o texto em dois minutos. Horsley em 7 minutos. Veja aqui a reportagem da própria NPR a respeito.

http://www.npr.org/sections/money/2015/05/20/406484294/an-npr-reporter-raced-a-machine-to-write-a-news-story-who-won

Ao olhar e comparar os dois textos, a conclusão a que se chega é que o texto do robô é absolutamente ok, embora o de Horsley tenha indiscutivelmente um estilo pessoal mais saboroso e envolvente. Mas o próprio portal da NPR alerta que até mesmo isso pode ser corrigido, uma vez que o programa aceita a inclusão de settings de estilo, que aproximariam seu texto final indiscutivelmente do texto de um jornalista.

Cem por cento de informações e notícias como essas, commodities do jornalismo diário, muito facilmente produzidas por máquinas, respondem por um volume considerável do que se produz em uma redação de hard news. Nesse âmbito, o tal estilo “humano” de escrever tem valor bastante relativo. O que importa mesmo é o coração do fato em si, cujo descritivo é de uma facilidade primitiva.

Isso pode ficar diferente quando entramos no âmbito das análises e reflexões sobre os fatos crús. Por exemplo, os impactos sobre os negócios da cadeia Deny´s dos números recém-publicados. Aí, as máquinas vão ter que aprender um pouco mais, mas o fato é que a ciência e as pesquisas de machine learning evoluem aceleradamente e é possível imaginar que as máquinas, bem alimentadas com os cenários e dados corretos, poderão também chegar a deduzir coisas a partir de notícias e fatos. E escrever também textos analíticos.

Olha meu emprego indo embora aí.

O WordSmith não é um programa em fase de teste de laboratório. Ele tem emprego, literalmente, na redação do Yahoo!, onde escreve sobre finanças e esportes, material depois distribuído mundialmente pela Associated Press.

Diante disso, a pergunta que fica é: quantos jornalistas já estão perdendo emprego nessa cadeia internacional de geração e distribuição de notícias, por conta da introdução dessas maquinhas? Não sei, mas que tem muita gente, tem.

Bom, por enquanto, sigo por aqui publicando textos como este que você acabou de ler. Por enquanto.

Aí, quando chegar a hora da minha demissão e você for arranjar um novo emprego aí para mim, sei lá fazendo o que, como credenciais posso adiantar que não sou máquina, mas sou limpinho.

 

 

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