Pyr Marcondes
10 de abril de 2018 - 7h21
Se você assistiu ao filme de Stanley Kubrick “2001, Uma Odisséia no Espaço” se lembra do tema central, que começa com a sugestão de que extra-terrestres acompanham a histrória da Humanidade na Terra, vindos aparentemente de Saturno, e para lá se dirige uma missão espacial, a Discovery One, com vários astronautas a bordo. O objetivo é estabelecer contato.
Na verdade, o subtexto do filme é sobre a tecnologia, suas incertezas, a Bomba Nuclear e o fato de sermos reféns dos avanços e do conhecimento humano, que nem sempre segue as regras que queremos.
Na película, ao final, a viagem se revela uma viagem para um lugar sem lugar, aparentemente uma outra dimensão. A noção de tempo se esvai. E se Tempo e Espaço se esvaem, somos nada. Ou ninguém.
Em meio a tudo isso, assistimos os astronautas da espaçonave enfrentando a rebeldia de HAL 9000, o computador central que a tudo vê e tudo controla. Uma outra versão de Big Brother, de George Orwell.
HAL 9000 toma conta da espaçonave por conta própria e começa a eliminar sua tripulação, afirmando que os humanos não tem mais capacidade de tomar as melhores decisões. E que ele, HAL 9000, é a inteligência que deve dominar.
HAL 9000 é fruto criativo do conceito científico, então já existente, mas ainda embrionário, de Inteligência Artificial.
“2001, Uma Odisséia do Espaço”, surgiu da somatória de alguns contos de Arthur C. Clarke, que assina o roteiro com o Kubrick, e tudo isso gerou um livro detalhando a história ainda mais. Ambos, filme e livro, são de 1968, 50 anos atrás, portanto.
Ao final da trama, uma bomba nuclear aparentemente acaba com todos nós. Era então o início da Era da Corrida Nuclear e a preocupação com a tecnologia fora de controle humano apavorava os terráqueos.
Pois a ameaça e o medo permanecem 50 anos depois, com a mesma Inteligência Artificial como a sombra de um futuro sobre o qual não temos domínio, e no qual podemos deixar de ser o que somos. Um futuro no qual, de certa forma, serão mesmo os HALs 9000 que assumirão o controle.
O curioso, 50 anos depois, é que o HAL 9000 seremos nós. É o que prevê a ideia de Singularidade.
Sobre esse tema, o palestrante do ProXXIma 2018, André Vellozo, da Drumwave, publicou ontem mesmo aqui no ProXXIma um artigo, do qual extraí três parágrafos, abaixo.
“É claro que teremos incontáveis e maravilhosas aplicações para IA, e que elas crescerão significativamente em número e qualidade. Entretanto, este hype ao redor de IA reforça a crença na possibilidade de uma total virtualização da mente, uma ideia antiga que se alimenta do desejo humano por uma mente pura e abstrata. O sonho de se alcançar uma mente onisciente.”
“Contextos culturais e crônicas tecnológicas estimulam uma fantasia na qual nós humanos somos virtualmente informação e, talvez por isso, pessoas possam existir sem o corpo. Acredita? A informação e a materialidade são mesmo entidades distintas? Isso soa como separar a mente do cérebro. Apoiar essa ideia é aceitar uma hierarquia na qual os dados estão acima e a frente da materialidade e onde a existência física os segue a distância.”
“Por mais materialistas que possamos ser, as pessoas sempre imaginaram a mente como algo exterior. Entre eu e você, exceto por nossos cérebros, para esta mente aqui digitando neste teclado e para a sua mente aí lendo esta tela, tudo é meio. Incluindo nossas mãos, corpos, computadores na frente de nossos olhos e absolutamente tudo ao nosso redor. Nós aprendemos a construir ferramentas para estender nossos corpos, e agora estamos nessa trip de fazer a mesma coisa para nossas mentes.”
Durma com um barulho desses.
André Vellozo
http://www.adweek.com/digital/ais-takeover-involves-more-humanization-than-skeptics-anticipated/