Pyr Marcondes
12 de março de 2018 - 8h12
Resumindo, o assunto se dividia em duas questões:
1. O conteúdo (a mensagem) é agnóstico e o modelo de negócios para os publishers é distribuição (meio)? E a grana vem da mídia?
2. Ou o conteúdo (mensagem) expressa-se pelo canal (meio) através do qual é distribuído e o modelo de negócios é circunscrito, atrás de muros, rentabilizado por assinaturas? A mídia de contraponto.
Conclusão: cada publisher escolhe o modelo que achar melhor, os dois podem funcionar, inclusive juntos, mas não há um standard padrão, que seja certo ou errado. Há modelos que dão mais certo para uns do que para outros e aí, bem, aí cada um por si. E a incerteza das empresas de publishing por todos.
O bate-papo (foi mais uma conversa do que um debate) contou com a presença de Cory Haik, sócia-fundadora da Mic, uma empresa de publishing online de hard news alternativa aos grandes publishers. De esquerda, daria para dizer. E também uma ativa defensora de que as redes sociais não servem para distribuir jornalismo. É o canal errado, porque não foi feito, nem nasceu, para isso.
Suas declarações enfáticas no sentido de que a era das redes sociais como canais de distribuição de conteúdo jornalístico sério vai passar é que a levaram ao palco do evento. Para ela, são coisas incompatíveis.
Bom ponto.
Antes de fundar a Mic, sete anos atrás, Halk trabalhou no Washington Post, e lá decidiu que queria fazer jornalismo mais ágil, estritamente digital, com uma lógica de negócios baseada em dados e venda de mídia segmentada.
Para, em tese, contrapor a esse ponto de vista, participou da conversa também Ewan Williams, fundador e CEO da Medium, que possivelmente você conhece.
Chamar Medium, num painel em que o título é o que coloquei aí acima, cai como uma luva, certo?
Medium se define como uma plataforma e é uma agregadora de textos e conteúdos de alta qualidade. Tem uma reduzida redação, cuja função editorial é mais curar os conteúdos que colaboradores enviam. Seu modelo é paywall poroso (ou seja, alguns conteúdos são abertos, outros não), com assinatura anual.
Esperava-se um confronto dos dois, porque Halk é jornalista antes de empresária, e Williams, que antes fundou a plataforma de blogs Blogger (comprada pelo Google em 2003) e, depois atuou no Twitter, onde chegou a CEO, é um empresário e investidor, que aposta suas fichas no modelo de plataforma de conteúdo colaborativo fechado e segmentado.
Mas não deu pau.
Moderados pelo genial Peter Kafka, sem dúvida o melhor repórter de tecnologia do mundo, que cutucou o que pode os dois palestrantes, ambos acabaram por entender o óbvio: modelos de negócio num setor em transformação como o de publishing e mídia não admitem verdades absolutas.
A tese de Halk, de que mídias sociais não vão servir mais, em breve, a distribuição de conteúdos jornalísticos mais densos, característicos dos grandes publishers mundiais ou de publicações focadas, como a própria Mic, me parece um princípio interessante para analisarmos e observarmos nos tempos que se aproximam.
Conceitualmente, é irretocável (a Folha que o diga). Vamos ver o que a prática e a realidade histórica vão nos aprontar.
Para finalizar, e apenas complementando o que não se discutiu no painel, como o título que me atraiu propunha, o meio será sempre, também, uma mensagem. É intrínseco. Não há como fugir da máxima de McLuhan. É como querer mudar a fórmula da água. Até dá, mas aí já não é mais água.