13 de outubro de 2014 - 10h56
POR INDIO BRASILEIRO, Fundador e CEO do Grupo IB,
holding de empresas de comunicação e inovação que reúne
a FirstCom Comunicação, Oca Comunicação, I-Group e Clube de Autores
Meus amigos já se acostumaram com os ringtones roqueiros de meu celular. Um dos que mais gosto é o que traz os três acordes rasgados da guitarra de Angus Young, do AC/DC. E recentemente aconteceu uma coisa curiosa relacionada a isso que nos permite uma boa reflexão sobre as startups.
Numa das vezes em que a banda australiana fez meu aparelho estremecer, comecei a pensar que Young e companhia limitada têm muito a ver com as empresas iniciantes. No mínimo, as letras do nome do grupo servem perfeitamente como analogia para o primeiro grande rito de passagem das startups: o momento marcante do aporte inicial de investimento.
É evidente que receber recursos de um investidor-anjo, aceleradora ou fundo é uma boa notícia. Isso também significa, porém, o ingresso numa fase repleta de novos desafios. Por isso, de acordo com a metáfora roqueira deste artigo, vamos entender AC/DC como Antes do Capital/Depois do Capital.
No momento AC (Antes do Capital), quando a startup entra em operação com recursos próprios do fundador (ou da família, por exemplo), a empresa é movida com parcos recursos, mas muita energia e disposição. Garra, vontade e um bom produto ou serviço são o ponto de partida do empreendedor.
Nos primeiros meses de operação, caso comece a crescer e gerar receitas, a startup provavelmente fará contratações. O empresário terá de demonstrar nesse momento uma grande capacidade para engajar seus funcionários, envolvendo-os na busca de um objetivo comum. Embora tenha a grana curta, o fundador – ou fundadores – tem todo o controle sobre a operação. Um dos aspectos positivos dessa situação é a rapidez para tomada de decisões, o que é fundamental, especialmente se estivermos tratando de uma empresa de internet ou tecnologia.
Eis que então o empreendedor sente necessidade de maior fôlego financeiro para expandir. Percebe que as receitas aumentam, mas os custos também. Para dar um salto, precisa de um investidor. Ele vai ao mercado em busca de uma aceleradora ou fundo. Vamos partir do pressuposto de que ele fez a lição de casa, com uma apresentação completa e estruturada do ponto de vista de negócios. Depois de algumas tentativas, encontra alguém disposto a apoiá-lo.
A partir daí chegamos ao momento DC ( Depois do Capital), e o empreendedor se vê diante de uma situação nova – boa por um lado, pois ele se capitalizou, mas que implica mudanças de diversos aspectos. Eis algumas delas:
1. Mais alguém manda no meu xodó. E agora? – A primeira grande novidade do momento DC diz respeito ao controle da empresa. A partir desse instante, as decisões estratégicas não serão tomadas apenas pelo fundador e seus sócios. Tudo isso deverá ser discutido e, dependendo da participação negociada, aprovado pelo investidor. O empreendedor deve entender que, para levar seu sonho adiante e consolidá-lo, deve praticar uma boa dose de desapego.
Portanto, ele deve refletir muito bem. Quando é o momento adequado para abrir mão do controle de seu xodó? Ele está disposto a encarar essa situação?
2. Capital inteligente – Outra questão relevante no período DC é como extrair inteligência do capital com o qual o empreendedor se casou. O melhor investidor não é aquele que apenas coloca dinheiro na empresa, mas sim aquele que capitaliza e qualifica a startup. Antes de fechar negócio com um investidor, é preciso avaliar no que ele agrega em termos de inteligência. Um bom investidor é aquele capaz de dar um bom coach em termos de gestão, organização e estruturação.
3. Engajamento da equipe – A motivação e o comprometimento dos colaboradores são pontos sensíveis que merecem todo o cuidado. Antes da chegada do investidor, as relações e o cotidiano numa startup tendem a ser mais informais. Quando se chega ao momento DC, o empreendedor será cobrado a estabelecer processos e normas que podem interferir no dia a dia da equipe e, num primeiro momento, gerar descontentamento. Além disso, a presença de “gente de fora” pode causar uma sensação de não pertencimento, o que é ruim.
É fundamental, portanto, que o empreendedor dialogue e envolva o grupo nesse nova etapa. Os funcionários devem continuar se sentindo parte essencial para a evolução do negócio.
4. Contenha a empolgação – O empresário deve tomar muito cuidado para não se entusiasmar demais com a chegada de capital. Em outras palavras, cautela ao abrir o cofre.
É natural que, com o caixa reforçado, o empreendedor se sinta instigado a contratar, ampliar estrutura e queira colocar em prática todos os planos de expansão. Sim, isso precisa acontecer, mas vá com calma. Um erro muito comum em startups que recebem investimento é pisar demais no acelerador e, assim, inflar a operação e os custos, o que pode ser fatal a médio e longo prazos.
Como se vê, receber o primeiro investimento pode não ser tão simples como aparenta e exige uma postura consciente por parte do empreendedor. Mas tudo pode correr perfeitamente bem se precauções como essas listadas aqui forem tomadas. E, para relaxar e servir de inspiração, aperte o play e deixe os três acordes do AC/DC, a banda, tomarem conta de sua startup. E do seu smartphone.