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As funções repetitivas já eram. Agora, é o especialista quem está com os dias contados.

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As funções repetitivas já eram. Agora, é o especialista quem está com os dias contados.

Historicamente, o ser humano sempre teve medo de perder seu emprego para a tecnologia. Grandes movimentos políticos foram e são criados para tentar impedir esse avanço em nome de uma pretensa causa humanista. A diferença é que hoje não estamos mais sendo substituídos nas funções repetitivas – isso já aconteceu.

e Paulo Silva
24 de abril de 2018 - 7h54

 

Por Paulo Silva (*)

 

Um clichê dos dias de hoje é dizer que o emprego, como o conhecemos, está com os dias contados. Como diria Umberto Eco, não precisamos ser tão apocalípticos – afinal, não é toda hora que vemos uma instituição desaparecer por completo. Mas, como todo clichê tem seu fundo de verdade (afinal, é por isso que se tornou clichê), podemos dizer que o emprego já está vivendo profundas transformações. E elas estão apenas começando.

Como sempre acontece na história das civilizações, a tecnologia encontra maneiras de produzir mais riqueza com menos recursos. E, quer você goste ou não, isso é – e sempre foi – um dos motores da economia mundial. Acontece que hoje a tecnologia criou algo que turbina ainda mais essa seleção natural do trabalho. E esse algo é tão novo, que ainda não sabemos muito bem como lidar com suas implicações econômicas, éticas e sociais. Estou falando da Inteligência Artificial (A.I., em inglês), que abre um universo de possibilidades estimulantes, ao mesmo tempo em que mexe com nossas fantasias mais assustadoras.

Em termos gerais, Inteligência Artificial é um conceito que define máquinas capazes de aprender a partir de insumos de informação. Digo que é assustador, porque, nesse ponto, as máquinas vão se tornando quase humanas. E só para deixar uma pulguinha ética atrás da sua orelha: se você desliga uma máquina que aprende, está cometendo um assassinato? Ou, pelo menos, estaria colocando essa consciência em coma?

A novidade é que esses computadores não só processam dados, mas compreendem significados e fazem correlações, sugerindo, inclusive, decisões a serem tomadas. Tudo numa velocidade inimaginável. Em outras palavras, eles são capazes de transformar informação em maneiras revolucionárias de criar valor. Por exemplo, plataformas já são capazes de ajudar no diagnóstico de doenças e planejar tratamentos comparando os sintomas de um paciente com uma base de dados de mais de 10 milhões de outros pacientes.

Agora, vamos pensar na Medicina como um todo: no mundo, um relatório médico é produzido a cada 41 segundos, em média. É muita informação e humanamente impossível para um profissional assimilar e tirar conclusões de todo esse volume. Mas para a Inteligência Artificial não só é possível como também é simples e rápido. Ou seja, da mesma maneira que um dia as máquinas assumiram as tarefas repetitivas no lugar das pessoas, hoje está acontecendo a mesma coisa com as funções dos especialistas.

Mas a relação entre Medicina e Inteligência Artificial vai além disso. Como falei agora há pouco, o desenvolvimento da A.I. vem levantando questionamentos éticos muito sérios. Por outro lado, sabemos que a ética médica é uma das mais sólidas que existem. Pois bem, um movimento muito interessante vem ganhando corpo no Silicon Valley: as principais empresas de tecnologia vêm trazendo pessoas da área médica para trabalharem em conjunto com os programadores e encontrarem maneiras de introduzir esse tipo de ética nos algoritmos das máquinas e em suas tomadas de decisões.

Vamos a uma outra área de atividade: já não são raros os escritórios de advocacia pelo mundo que aplicam a A.I. para analisar milhares de documentos complexos e fornecer insumos estratégicos. Uma equipe de dezenas de advogados levaria meses para realizar esse trabalho. Já essas plataformas apresentam, em questão de segundos, o histórico de decisões de determinado juiz ou possíveis abordagens para aumentar as chances de sucesso de uma causa.

Não estou dizendo que não precisamos mais de médicos, advogados e outros profissionais. Pelo contrário, a Inteligência Artificial pode realizar com muito mais eficiência a qualificação de dados para que esses profissionais tenham mais tempo de se dedicar a tomar as melhores decisões estratégicas. E, se você olhar ao seu redor, vai notar que o mesmo está acontecendo em praticamente todas as áreas: carros autônomos, robôs que lucram milhões na bolsa de valores e até drones inteligentes que mapeiam terrenos para o agronegócio.

Historicamente, o ser humano sempre teve medo de perder seu emprego para a tecnologia. Grandes movimentos políticos foram e são criados para tentar impedir esse avanço em nome de uma pretensa causa humanista. A diferença é que hoje, como eu comentei, não estamos mais sendo substituídos nas funções repetitivas – isso já aconteceu. Com as máquinas desenvolvendo a capacidade de aprender, elas já são capazes de fazer o que especialistas fazem com mais eficiência e rapidez. Um estudo da consultoria PwC indica que cerca de um 1/3 dos empregos conhecidos hoje deverá ser substituído por softwares e robôs até 2030. Isso não é um futuro distante, é daqui apenas 12 anos, meu amigo.

Como tudo na vida, podemos ter uma visão apocalíptica ou integrada sobre isso tudo (olha o Umberto Eco aí de novo). Na visão apocalíptica, a tecnologia vai devastar indústrias inteiras, gerando desemprego por todo lado e tornando milhões de seres humanos completamente dispensáveis para a economia mundial. Na visão integrada, a humanidade vai viver uma era de prosperidade inédita, com cada vez menos problemas para resolvermos – pois as máquinas resolverão por nós.

Eu prefiro adotar uma postura menos radical, nem para um lado nem para o outro. Não tenho dúvidas de que a A.I. vai criar todo um novo universo de possibilidades econômicas que devem promover transformações importantes na relação capital x trabalho e nas profissões do futuro. Se você me permite um spoiler, no próximo artigo vou falar exatamente sobre essas transformações.

Enfim, a tecnologia pode até acabar com alguns empregos, mas vai criar uma infinidade de novos trabalhos. E, muito provavelmente, esses novos trabalhos serão mais relevantes e bem remunerados que a média dos atuais. Note que eu falei trabalhos. Não empregos.

(*) Paulo Siva é CEO do Wallmart.com

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