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Como nasce um Safadão?
Construir uma carreira musical exige muito mais do que somente emplacar aquele hit e compor uma música chiclete
Construir uma carreira musical exige muito mais do que somente emplacar aquele hit e compor uma música chiclete
9 de junho de 2016 - 8h00
Por Rodrigo Amar*
Painel de LED importado, ônibus próprio estilizado, além de uma folha salarial robusta que contempla músicos e equipe. Esses são apenas alguns dos requisitos básicos para o lançamento de um novo artista que almeja alcançar “aquele 1%” de sucesso no show business.
Mas está longe de ser somente isso. Construir uma carreira musical exige muito mais do que somente emplacar aquele hit e compor uma música chiclete. É preciso ir aonde o povo está, na rua, no rádio, na TV, na trilha da novela e, principalmente, na Internet.
Em um mercado cada vez mais disputado, a fama que nomes como Wesley Safadão e Aviões do Forró possuem atualmente é fruto do trabalho de anos, cujo reconhecimento aconteceu primeiro nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. Bem antes da participação em programas de TV em rede nacional, das reportagens de capa de revista ou das apresentações nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Existe uma percepção mundial, também fervilhante no Brasil, de que a maior parte do faturamento gerado na indústria da música não é mais proveniente da venda de discos, mas principalmente de apresentações e contratos de patrocínio ou imagem.
Não é apenas percepção. É fato.
Para se ter uma ideia, de acordo com o estudo “Entertainment and Media Outlook”, da PwC, o Brasil é o segundo maior mercado de música ao vivo na América Latina, com uma receita total (incluindo bilheteria e patrocínios) que saltou de US$ 165 milhões, em 2010, para US$ 205 milhões, em 2014. A expectativa é de que, até 2019, o segmento movimente US$ 280 milhões no País.
Já no tocante à publicidade e direito de imagem, a banda Aviões do Forró, por exemplo, conta com patrocínio anual de quatro multinacionais, de olho no poder de comunicação em massa dos artistas, que atuam como verdadeiros embaixadores e interlocutores de suas marcas ou produtos.
Por isso, ainda durante os primeiros acordes e logo após um sólido investimento na compra de estruturas físicas e de capital humano, é hora de traçar as estratégias de marketing para o artista com o objetivo de comercializar shows, atrair marcas e aumentar o faturamento.
Há casos de artistas que chegam a fazer mais de um show por noite em diferentes Estados e ultrapassam 30 exibições por mês. Os cachês variam de acordo com a capacidade de mobilização de fãs, partindo de R$ 10 mil a R$ 250 mil por performance.
Se antes a atividade fim da indústria musical se dava através da comercialização do conteúdo em diferentes mídias e formatos (DVDs, CDs, singles, fotografias, vídeos de bastidores), hoje essas obras podem ser consideradas acessórias à atividade final.
Para conquistar fama, vender shows e buscar patrocinadores, o caminho não passa mais exclusivamente pelo programa de calouros ou por ter suas faixas entre as mais tocadas nos rádios. A verdade é que, para chegar lá, o caminho obrigatório está em promover o artista nas ondas da Internet. Se quiser ser chamado pelo Faustão, antes é preciso ser alguém e conquistar fãs na Web.
Com a migração da audiência para os canais on-line, a digitalização da carreira musical surge como estratégia essencial para simplificar e tornar viável os 15 minutos, ou 15 anos de fama para os artistas – o tempo depende da forma em que irá utilizar plataformas para promover seu trabalho e disponibilizar álbuns para downloads, seja no Instagram, Facebook, Snapchat, Twitter ou em plataformas de compartilhamento de músicas.
Hoje não é mais preciso esperar a música preferida tocar nas rádios ou dormir na frente da loja aguardando o lançamento do CD. Está tudo ali, ao alcance de um clique ou um toque no smartphone. Através da Web, o artista engaja e aumenta sua legião de seguidores, que ficam mais perto de seus ídolos e podem acompanhar cada passo, os bastidores, as novas músicas, o que ele gosta de comer e qual será seu visual no próximo show, abrindo muitas oportunidades para ações de branding, promoções e lançamentos de produtos com a alma do artista e, por isso mesmo, com grande potencial de vendas.
O engajamento acontece de forma espontânea. O artista que mais se comunica ganha empatia e é recompensado com duas palavrinhas mágicas que antecipam as cifras milionárias: Views e Downloads. Sem visualizações nas suas páginas nas redes sociais e a distribuição digital de suas músicas, o artista está hoje condenado ao ostracismo e a nunca mais ser lembrado e, pior, escutado por seus admiradores.
Seguindo neste embalo, nada mais lógico e crescente que os artistas difundam gratuitamente seus conteúdos à exaustão, a fim de alcançar o máximo de reconhecimento e notoriedade junto aos seus fãs. Cada vez mais se torna comum o lançamento de álbuns promocionais com repertórios dinâmicos que se renovam a cada dois ou três meses, bem como a criação de páginas com notícias, vídeos e fotos pessoais, agendas de shows ou simples relatos cotidianos.
Quer ganhar fama e dinheiro? Então é hora de mudar de canal. Talento à parte, não é tão difícil assim surgir um novo Safadão. O digital é o acorde que faltava para compor a banda dos sonhos de qualquer artista. Não é preciso apenas presença de palco, boa voz, bons músicos e um empresário. O engajamento vai definir sua posição de liderança nas paradas de sucesso. Com uma estratégia digital muito bem traçada, não tem como desafinar.
* Rodrigo Amar é CEO do Sua Música (www.suamusica.com.br)
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