ProXXIma e Marcos Gouvea
18 de outubro de 2018 - 12h02
Por Marcos Gouvea (*)
Muito tem sido falado, escrito e discutido sobre as transformações precipitadas na China, já a maior economia do mundo no critério PPP (Paridade do Poder de Compra), pelo exponencial crescimento da economia digital.
Muito menos tem sido discutido sobre como os ecossistemas de negócios têm sido os propulsores dessa transformação.
E menos ainda sobre como esses ecossistemas podem ser utilizados no desenvolvimento de todos os outros negócios globalmente pela sua proposta inovadora de criação de redes de empresas e parceiros para dar mais foco, agilidade, empoderamento e, principalmente, resultados, medidos por valorização financeira (market value) e seu exponencial crescimento nos últimos anos.
A sigla BATXL, que envolve a combinação das atividades dos ecossistemas Baidu, Alibaba, Tencent, Xiaomi e LeEco é a síntese de uma profunda, inovadora e realmente disruptiva proposta de organização empresarial, alinhada com a volatilidade inerente ao mercado transformado pela omnidigitalização.
Para contextualizar
Existem diferenças marcantes quando comparamos os diferentes modelos de organização empresarial – Ecossistemas de Negócios, Empresas, Holdings e Redes de Negócios – no que se refere à sua estrutura de controle, os setores de atuação e os processos de decisão.
Nos Ecossistemas de Negócios, modelo de organização empresarial utilizado pelos mais importantes e transformadores conglemerados de negócos da China, a estrutura de controle é por divisão dos ativos entre os acionistas, os setores de atuação são relacionados, mas também diversificados e os processos de decisão são orquestrados, porém interdependentes.
Quando comparado com os modelos tradicionais de organização mais utilizados, especialmente na Economia Ocidental, esse modelo dos Ecossistemas de Negócios explica em boa parte a velocidade com que consegue capturar as oportunidades emergentes a partir das mudanças exponenciais que ocorrem no mercado e transformam oportunidades em realidade por uma combinação virtuosa de fatores.
E permitem que empresas como Alibaba, nascida em 1999, focada no e-commerce e transformada num impressionante Ecossistema de Negócios, possa ter um valor atual de mercado de US$ 410 bilhões, superior ao do Walmart, maior varejista do mundo, com US$ 278 bilhões no mesmo critério.
Ou como Tencent, que iniciou operações em 1998, como uma plataforma de mensagens instantâneas e se transformou num gigantesco Ecossistema Global de Negócios, tendo o We Chat como uma de suas plataformas mais relevantes e tenha se transformado num dos maiores players globais em games.
Ou ainda como Xiaomi, lançada em 2010 como fornecedor de smartphones, se converteu num das maiores empresas do mundo em eletrônicos e supere a Apple, na China, com seu modelo de venda direta da indústria para os consumidores.
A incrível evolução do uso da internet na China, que tinha apenas 22 milhões de usuários em 2000 e que hoje atinge 800 milhões, sendo 90% mobile, fez com que mais de um quinto da população digital do mundo seja chinesa hoje em dia.
Isso foi causa e consequência das transformações precipitadas por esses Ecossistemas de Negócios, pois, ao mesmo tempo que viabilizou essa transformação, nela se alavancou para crescer exponencialmente.
A participação do e-commerce no total das vendas do varejo chinês atinge perto de 24%, sendo aproximadamente 40% para os chamados FMCG, bens de consumo de rápida rotação. Para efeito de comparação, na Coreia do Sul, são 18%, nos Estados Unidos, 11% e, no Brasil, estimados 4,5%. Porém, em todos os mercados, crescendo significativamente mais do que qualquer outro canal ou formato de varejo.
Outra boa medida do impacto desse crescimento e transformações precipitadas é que, em 2018, os IPOs ligados à tecnologia de origem chinesa nos Estados Unidos foram de US$ 14,7 bilhões, muito superiores quando comparados com os de origem norte-americana, no valor total de US$ 7 bilhões.
Outro aspecto importante a considerar é que a participação da economia digital no total do PIB de diferentes países mostra que a China é o segundo maior percentual, com 6,9%, depois da Coreia do Sul com 8%. Estados Unidos é o quinto país nessa sequência, com 5,4%. E o Brasil aparece em décimo lugar, com 2,4%, segundo estudo da BCG.
Reflexões
Todos os números e indicadores que envolvem as transformações recentes na China são realmente impressionantes e justificam tudo que se possa buscar de referências para conhecer e poder gerar mais inspirações.
Mas o que tem sido mais inspirador do que o simples conhecimento, e até deslumbramento com essa realidade digital, é a identificação e aprofundamento de informações sobre os Ecossistemas de Negócios que determinaram essas mudanças e que continuam a alimentar a forte expansão da economia interna da China e sua irreversível, para não dizer preocupante, expansão global, que se faz cada vez mais presente também no Brasil.
(*) Marcos Gouvea é sócio fundador e CEO da Gouvea de Souza