24 de outubro de 2013 - 4h28
Por RAUL ORFÃO
CEO da Tribo Interactive
Agora em outubro, dois importantes eventos – o Maximidia, promovido pelo Grupo Meio & Mensagem, e o Brand Summit, do Facebook – voltaram a encher a bola dos meios digitais na cena publicitária do País.
Várias personalidades do mercado, representando importantes empresas e marcas, falaram por horas sobre as infinitas possibilidades e desafios que as novas plataformas de comunicação oferecem aos profissionais de marketing, planejamento, criação etc. É como se todos agora tivessem o equivalente a uma caixa de lápis com mais de 60 cores para redesenhar seus negócios. Construção de diálogos entre marcas e consumidores, criação de novas narrativas publicitárias engajando clientes e a produção de histórias capazes de ajudar marcas a conquistar o coração de milhões de pessoas, tudo costurado pelas novas tecnologias.
Com o compartilhamento de tantas visões e experiências inspiradoras, é difícil não sair empolgado desses encontros, com a certeza de que ainda há tanta coisa a ser criada. Porém, um fato comum aos dois eventos revelou algo pertubador: Google e Facebook, em suas apresentações, numa pequena seleção de projetos, não mostraram qualquer trabalho brasileiro para exemplificar cases de sucesso e criatividade nas suas plataformas. E mais: uma das melhores ideias desenvolvidas para o Facebook era argentina. Afastando a ideia da pura provocação, achei essa coincidência entre os eventos bem importante para se pensar: será que o mercado brasileiro está trabalhando tão mau assim a ponto de não produzir nada relevante para entrar no “shortlist das apresentações” do Google e do Facebook? Será que, na comparação com os projetos de fora, para onde Google e Facebook estão olhando, ainda temos muito a fazer?
Sim, somos bem criativos, mas muitas vezes a nossa criatividade no digital é apática, refém de velhas fórmulas e discursos que não inspiram mais as pessoas, perdendo a chance de construir ideias poderosas e duradouras. Também é verdade que vivemos num mercado que, na maior parte do tempo, flerta com o novo, mas deseja a estabilidade de um modelo passado. O digital ainda não está no papel principal para a maioria das marcas nem em termos de importância estratégica nem em termos de investimento.
O meio digital no Brasil já mostrou sua força como plataforma de mídia, mas ainda patina para ser reconhecido como território para ideias que encabecem a comunicação de marcas, capaz de combinar talento criativo com produções bem elaboradas, entregando mensagens mais inteligentes e que toquem a vida das pessoas. Enquanto o mercado não quiser mudar de verdade, se render ao novo de corpo e alma com a cumplicidade de clientes e agências, as chances de estarmos fora das próximas apresentações do Google e do Facebook é grande. Aí, o entusiamo por um mundo cheio de novas possibilidades, revelado nesses eventos, desaparece no caminho do auditório até o estacionamento.