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Muito além do Vale do Silício. Por Haroldo Korte

Ao contrário do que muitos podem pensar, a internet não começa nem acaba no Vale do Silício


5 de dezembro de 2014 - 11h00

POR HAROLDO KORTE, diretor do fundo de investimento Atomico no Brasil

Existe alguma fórmula matemática capaz de identificar em que países estão ou serão fundadas as novas empresas digitais de sucesso? Mudando o ângulo da pergunta, o que faz uma região entrar no radar dos investidores internacionais de tecnologia? Para fechar essa rodada inicial de provocações: o Brasil é uma boa opção de investimento para os fundos globais? Está na mira das companhias de venture capital?

 

Em primeiro lugar, é claro que não há receita de bolo para descobrir onde estão as startups mais promissoras do mundo. Existem, no entanto, indicadores e informações que, aliados a um bom trabalho de inteligência e análise de cenários, iluminam o caminho para os investidores em busca de oportunidades.

 

Neste momento de fazer um balanço sobre 2014 e projetar 2015, é importante analisar o potencial de atração de investimento do mercado digital brasileiro. Para iniciar essa reflexão, começo por um ponto essencial em qualquer análise sobre o humor dos investidores globais. Diferentemente do que muitos podem pensar, a Internet não começa nem acaba no Vale do Silício. Trata-se, sim, do principal polo de inovação do planeta, que reúne muitos dos principais cérebros, empreendedores e financiadores do ecossistema digital. As boas oportunidades de negócio nesse setor, no entanto, estão espalhadas pelo mundo inteiro.

 

É o que indica um estudo recente desenvolvido pelo fundo Atomico. O relatório mostra que, desde 2003, a quantidade de empresas com valor superior a um bilhão de dólares criadas fora do Vale do Silício cresceu mais rapidamente que o número das que foram fundadas lá. Das 140 empresas que alcançaram 1 bilhão de dólares em valorização, 61% vieram de cidades de fora do Vale do Silício – e esse gap só aumenta. Segundo a pesquisa, startups de 15 países alcançaram valor superior a um bilhão de dólares. O ranking é liderado pelos Estados Unidos (80), China (26, das quais 16 atingiram a marca de 2013 para cá) e Suécia (5).


Sem fronteiras

A pesquisa não registra nenhuma empresa digital bilionária latino-americana, mas isso não quer dizer que o Brasil não esteja no radar. Pelo contrário. O ranking mostra que o capital não tem fronteiras. O importante a observar é que, pelas características do mercado nacional, é questão de tempo para que o País comece a ter suas companhias digitais bilionárias.

 

Há dados que reforçam essa avaliação. Comecemos pelo fato de que a indústria digital brasileira vive uma expansão contínua e vigorosa, mesmo com a economia do País a passos lentos. Só para dar uma ideia, há cerca de três mil startups no Brasil, o que demonstra o fortalecimento do empreendedorismo e do sistema de fomento (investidores-anjo, aceleradoras, fundos e jovens dispostos a empreender).
O comércio eletrônico, por sua vez, deve crescer 15% e faturar R$ 35 bilhões no País em 2014, segundo dados da consultoria E-bit – e a previsão é de que ele se torne o quarto maior e-commerce do mundo em 2016.

 

Se analisarmos o País, perceberemos um mercado consumidor potente, que não vai se desfazer em razão de um crescimento modesto do PIB. Um estudo da Serasa Experian divulgado no início do ano mostra que a Classe C brasileira é formada por 108 milhões de pessoas, que gastaram R$ 1,17 trilhão e movimentaram 58% do crédito no Brasil em 2013. Se fosse um país, seria o 12° mais populoso e o 18° em consumo do planeta. Ela representa 54% da população, com a previsão de chegar a 58% em 2023. A maior parte da classe C vive na região Sudeste (43%), seguida por Nordeste (26%), Sul (15%), Centro-Oeste (8%) e Norte (8%).

 

Fortalecimento

Além disso, o número de usuários da Internet passou de metade da população brasileira pela primeira na vez. Em 2013, os internautas somaram 51% das pessoas com mais de 10 anos de idade, ou 85,9 milhões. Entre as razões para isso estão o aumento vertiginoso do uso de celulares conectados à Internet e da utilização de notebooks e tablets, segundo a nona edição da pesquisa TIC Domicílios, conduzida Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br).

 

Além disso tudo, estamos falando de um país com estabilidade política e com uma diversidade cultural e de costumes que favorece a criação de negócios.

 

Existem cases notáveis de startups brasileiras que despertaram o interesse dos fundos globais. Apenas para citar um exemplo recente, a loja virtual Bebê Store, a líder do setor de artigos para bebês do País, adquiriu há poucos meses a sua principal concorrente, a Baby.com, e consolidou ainda mais sua posição de potência em ascensão do mercado brasileiro. Essa transação é um exemplo vivo do amadurecimento e da força que os principais players do setor estão adquirindo.

 

Esse breve panorama mostra que o Brasil, a despeito de um crescimento modesto no PIB nos últimos anos, é e continuará a ser um mercado extremamente atrativo para o investidor internacional da área digital. E, conforme já registrou o estudo realizado pelo Atomico, grandes empresas e empreendedores podem vir de qualquer lugar.

 

A geografia definitivamente não é uma barreira para o sucesso. Cabe ao empreendedor local, portanto, se dedicar com afinco para fortalecer seus negócios e, assim, brilhar diante dos olhos dos investidores internacionais.  

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