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11 de outubro de 2018 - 7h10
Por Mara Maehara (*)
Durante minha infância, decidi que aprenderia as tarefas de um borracheiro para ajudar o meu pai e o meu irmão na oficina mecânica da nossa família. Lavei carburador, troquei pneus e era escolhida pelos clientes para realizar os serviços em seus veículos. Eu me orgulhava daquilo e não me sentia deslocada por realizar uma tarefa que não era esperado que uma mulher realizasse.
Cresci com a mentalidade de que não existe distinção de gênero quando o assunto é trabalho, não importa quem faça, uma tarefa deve ser realizada com qualidade! Com esse pensamento, ingressei na faculdade de Análise de Sistemas e em seguida no mercado de tecnologia, onde logo percebi a pequena presença de mulheres.
Há quem acredite que tecnologia é “coisa de homem”, mas uma breve análise histórica revela que a evolução tecnológica é marcada pela presença de grandes figuras femininas. Ada Lovelace, em 1843, criou a primeira linguagem de algoritmos, muito antes de existirem máquinas para interpretá-los; mais a frente, Grace Hopper, entre 1940 e 1950, assumiu o cargo de almirante da marinha dos EUA – até então nunca preenchido por uma mulher – e foi uma das criadoras do COBOL, linguagem de programação para bancos de dados comerciais. Não menos importante, Margaret Hamilton, em 1969, foi a grande responsável pelo sucesso da operação Apollo 11, da NASA, e criadora do termo “engenharia de software”. No Brasil, em 1974, o curso de bacharelado em ciência da computação da USP era composto, em quase toda sua totalidade, por mulheres (70%).
Você deve se questionar sobre o porquê dessa mudança de cenário, qual o motivo de a força de trabalho feminina representar apenas 17% do segmento, atualmente. A resposta é que, quando o setor tecnológico ganhou força, os homens começaram a assumir essas funções e foram fortemente incentivados por suas famílias a estudarem e seguirem carreira no ramo. Consequentemente, por questões culturais, a participação das mulheres foi decaindo, pois as distinções de tarefas na época eram bastante presentes na sociedade. O computador tornou-se o presente dos meninos, enquanto as meninas continuavam a ganhar somente bonecas.
A falta de estímulo social e a imposição de alguns paradigmas afastou as mulheres desse mercado e junto com o avanço da tecnologia, avançou também a predominância do sexo masculino nas funções do setor.
É necessário, porém, desmistificar a ideia de que a computação é uma área para homens! Existe muito espaço dentro desse mercado e também há carência de mão de obra qualificada. A tecnologia nos abraçou, agora ela faz presença em quase todos os momentos do nosso cotidiano, o que amplia também as possibilidades de atuação profissional. Esse não é um segmento machista, pois desenvolve soluções que se aplicam à diferentes segmentos, produtos e públicos. Portanto, seus criadores também precisam dessa diversidade, para torná-la cada vez mais plural, mais democratizada.
Hoje, como CIO de uma grande empresa de tecnologia, posso dizer que estou esperançosa sobre uma transformação nesse cenário corporativo, aliás, eu já enxergo mudanças. Sou procurada por jovens mulheres para contar sobre minha jornada profissional e fico feliz por perceber esse interesse. Nós estamos ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho e mostrando que nascemos para sermos profissionais além do lar, descontruindo uma cultura conservadora.
Meu conselho, para todas as meninas e mulheres que sonham ingressar no mercado de TI, é: VÁ! Esqueça os preconceitos, quebre paradigmas, construa habilidades técnicas e de relação interpessoal, dê o seu melhor e saia da sua zona de conforto, seja assertiva e tenha segurança. Somos capazes e o mercado pede por nossa participação. Aliás, lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive em suas casas, em oficinas ou na tecnologia!
(*) Mara Maehara é CIO da TOTVS