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O meu e o seu Tiktok

Paulo Loeb, sócio e head do b2b da F.biz, nos mostra em transparente relato pessoal, um lado sensível dos desafios da crise atual: nossa vida privada com a família.


16 de abril de 2020 - 7h59

 

 

Por Paulo Loeb (*)

 

Tenho três filhos (8, 11 e 13 anos) e não posso reclamar da forma como estamos passando por essa fase: a escola se organizou superbem com aulas a distância, cada um ajuda nos afazeres domésticos, existe um bom espaço em casa e não nos falta o básico como ocorre com parcela gigante da população do nosso país absurdamente desigual. Faço parte dos 0,000…%.

No começo, todos ainda estavam sem saber de que forma equilibrar os pratos, acostumados a sair de casa de manhã e só voltar no final da tarde. Minha mulher, psicóloga, também está se adaptando aos atendimentos remotos.

Aos poucos, a rotina, esse grande apaziguador, se impôs, e o aprendizado dos acertos e erros começou a aparecer. O home office funciona melhor do que o esperado, e a produtividade é maior na agência – o cuidado foi justamente em puxar o freio de mão para não repetir as 14-15 horas de trabalho dos primeiros dias. Pelo que pude constatar, muitas pessoas relataram esse mesmo descontrole inicial.

O equilíbrio é tênue: calls, calls e mais calls, pressão para manter a roda girando, lidar com a retração econômica, ficar o mais próximo possível dos colegas de trabalho e ajudar na escola dos filhos. A tentativa de mexer o corpo e achar alguma paz no final da tarde até que funciona, devagar e sempre. Cada dia, um dia.

Mas eis que me deparo com um inimigo nesse confinamento. Esse viabilizador tecnológico, ao mesmo tempo necessário, importante e aterrorizador: o celular na mão das crianças. Sou um cara calmo em geral, mas já perdi a linha por aqui. Não encontrei ainda o equilíbrio entre desencanar – mais porque estamos numa fase atípica – e proibir de vez esse portal para TikToks e afins que entucham lixo na cabeça delas. Lixo! O louco é que, quando a calma impera, lá está a tela bombando, cada um na sua. E depois de negociar, conversar e, finalmente, parar um pouco, percebe-se o resultado nos cérebros que ficaram expostos a um monte de nada. Frenéticos e compulsivos, brigam. Nenhuma novidade, sempre soube disso. Porém, em condições “normais”, o dia tem outras demandas e interesses fora das quatro paredes. Mas, aqui e agora, está ultrapassando os limites.

Não só faz mal como ocupa o lugar de qualquer coisa melhor. Não fazer nada, inclusive. O dilema é que esse portal, se bem usado, é ótimo para aprender qualquer coisa, assistir a vídeos interessantes, comunicar-se com amigos… mas os TikToks são mais fortes, viciantes e alienantes. Perdi a batalha de assistir um fime porque “Pai/mãe, só mais 5 minutos” ou “Todos os meus amigos estão no Fortnite”. Perdi a batalha para descer um pouco no térreo do meu prédio com eles porque “Pai/mãe, juro que está acabando”. E, assim, o meu sangue vai subindo. E sobe. Tiro o celular deles, proíbo e, depois, nem sei como, estão eles lá de novo vidrados.

Lembro a minha versão TikTok nos anos 1980: a TV ligada enquanto meus pais, aliviados por um lado, tentavam, por outro, explorar algumas alternativas. Estou aqui, não emburreci por causa das infinitas horas de Bozo (lembra-se do telefone 236-0873?), conheço todos os personagens da Corrida Maluca, joguei Enduro e River Raid bilhões de vezes (posso comparar a TV com esses TikToks? Nem sei). E me questiono se deveria estar tão em cima das crianças. Aí, crio um paradoxo cruel: fico cheio de barulhos internos quando a casa permanece calma. Mas não relaxo se elas fazem outra coisa, porque sei que dura pouco.

Tiktok: qual é o seu?

 

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