Assinar
Meio e Mensagem – Marketing, Mídia e Comunicação

O que é ser mulher no mercado de TI

Buscar
women in tech
Publicidade

How To

O que é ser mulher no mercado de TI

Ser mulher em TI funciona quase como um redutor de credibilidade. Uma solução apresentada pode ser melhor recebida se um colega do gênero oposto falar. A produtividade tem que ser evidente, a dedicação tem que ser espalhafatosa. Por causa disso, a necessidade de se provar acaba se transformando em um hábito.


26 de julho de 2018 - 13h49

 

Por Tatiana Moraes (*)

Minha mãe é teimosa. Aos 17 anos, ela foi admitida no curso de Engenharia Civil, onde era uma das cinco mulheres entre os mais de 400 alunos distribuídos nos dez semestres de curso. Sempre senti orgulho dela e da carreira que seguiu, mas não pensava em continuar seus passos. Porém, o destino, às vezes, é cretino.

Em um singelo momento de iluminação, a programação me converteu. Estava estudando design quando encarei meu primeiro bloco de código. Lembro do pensamento que passou pela minha cabeça naquele instante: “Caramba, esse negócio parece um idioma! Se eu conseguisse aprender as regras, poderia escrever meus próprios ‘textos’ e criar o que eu quisesse”. Então, resolvi estudar Tecnologia em Sistemas para a Internet.

Diferentemente da minha mãe, tive professores que me apoiaram muito. Aprendi a manter os meus códigos claros e bem documentados porque toda semana um colega me pedia ajuda. Éramos 22 alunos quando a turma começou e apenas cinco mulheres. Do time das garotas, também fui a única que se formou.

Soa esquisito, mas demorou para que eu percebesse o preconceito na área. Já estava trabalhando quando me incluíram em cópia num e-mail e, no meio do assunto, um colega de empresa comentou “se as melhores ideias estão vindo de uma mulher, estamos ferrados”. Depois daquilo comecei a sondar disfarçadamente meus colegas de trabalho, tentando descobrir a opinião deles sobre desenvolvedoras e passei a prestar atenção em algumas sutilezas.

Ser mulher em TI funciona quase como um redutor de credibilidade. Uma solução apresentada pode ser melhor recebida se um colega do gênero oposto falar. A produtividade tem que ser evidente, a dedicação tem que ser espalhafatosa. Por causa disso, a necessidade de se provar acaba se transformando em um hábito. Cada afirmação que eu fazia por e-mail era sempre anexada com apostilas, gráficos, estatísticas e referências.

Neste cenário, os pais que desencorajam o sonho, o colega que desdenha a sugestão em um e-mail de grupo, o professor que te falta com respeito, o gestor que descarta as suas contribuições e o salário que estaciona  são filtros que impedem as mulheres competentes de se tornarem programadoras, analistas e arquitetas de sucesso. Inclusive, quando digitei “programadoras” no Word, a palavra apareceu sublinhada em vermelho, como se estivesse escrita de forma errada. Ao clicar para corrigir, a única opção correta que salta na janela é “programadores.”

No entanto, sinto que o caminho agora está menos tempestuoso e, hoje em dia, nossa luta está melhor encaminhada. Meu primeiro coordenador viu potencial em mim desde que eu era uma estagiária  e acreditou na minha capacidade. Tive amigos e colegas que reconheceram as minhas qualidades e me incentivaram nos momentos que balancei. Cheguei na Contabilizei receosa com a recepção, mas fui bem recebida e sempre sou reconhecida como boa profissional.

É muito animador quando se pode baixar as armas, relaxar e se concentrar apenas em fazer um trabalho bom na área em que atua. Mais do que tudo, tenho fé que a minha filha, quando crescer, vai poder ser o que ela quiser.

 

(*) Tatiana Moraes é Analista de Sistemas na Contabilizei

Publicidade

Compartilhe

Veja também