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Os desafios do Start-Up Brasil. Por Leandro Ramos

Sócio-fundador da rede de indicações Indike debate sobre o Programa TI Maior, do Governo Federal, cujo objetivo é de fomentar 100 startups inovadoras


21 de maio de 2013 - 2h18

Por Leandro Ramos
Sócio-fundador da agência Javali Digital e da rede de indicações Indike

As inscrições para o primeiro Start-Up Brasil se encerram no final de maio e a expectativa do mercado é grande em conhecer quem serão os selecionados nessa primeira rodada de escolhas. O Startu-Up Brasil pertence ao Programa TI Maior, do Governo Federal, e tem o objetivo de fomentar 100 startups inovadoras com R$ 200 mil em bolsas para cada empresa. No final do programa de um ano, as empresas bem sucedidas poderão ainda receber mais R$ 100 mil na forma de investimento anjo.

Para ajudar operacionalizar o programa, o Governo vai contar com a ajuda de nove aceleradoras que oferecerão apoio estratégico e de negócio, além de contarem com um caixa de R$ 36 milhões para investirem nas empresas iniciantes em troca de participação societária.

O Start-Up Brasil se baseia em iniciativas estrangeiras bem sucedidas, como o Startup Chile e o Startup América. Para uma empresa ganhar o apoio do programa ela terá que apresentar um modelo de negócio bem definido, mostrar que possui uma solução para um desafio tecnológico e que é composta por uma equipe competente para tocar o projeto. Uma análise superficial do escopo do programa, bem como de seus objetivos, pode levar à conclusão de que certamente teremos uma grande evolução no mundo das startups. Porém, a maneira como o programa será implementado levanta questionamentos sobre a real contribuição que o Start-Up Brasil trará para a inovação tecnológica brasileira.

Uma exigência do Start-Up Brasil é a participação no programa de empresas com CNPJ aberto. Se por um lado a obrigação do CNPJ filtra as empresas formalizadas, que já começaram o negócio de uma maneira legal, por outro, pode atrair empresas que não possuem a essência de uma startup. Essa exigência pode angariar empresas pequenas já mais bem estruturadas, que poderiam receber outro tipo de ajuda do Governo Federal e não o Start-Up Brasil. No mundo das startups não é comum se iniciar o negócio abrindo um CNPJ, pois isso implica em custos que podem ser postergados até um certo momento. Ao exigir CNPJ parece que o Governo não quer correr riscos com verdadeiras startups.

Outro ponto que lança sérios questionamentos sobre o Start-Up Brasil é a escolha de aceleradoras para oferecer auxílio na implementação do programa de fomento. As aceleradoras não receberão dinheiro público, mas vão ter o papel de oferecer às startups suporte estratégico, contatos de mercado e consultoria aos empreendedores na implementação dos projetos. A questão é que o mercado de aceleradoras no Brasil ainda é pouco maduro e ainda não temos no país nenhum grande caso de sucesso de aceleradoras que fizeram uma grande diferença na vida de uma startup. A realidade é que as aceleradoras no país são verdadeiras startups que usam fórmulas prontas para acelerar empresas que deram certo fora do Brasil, sobretudo nos Estados Unidos, e querem supostamente ajudar outras startups. Como confiar no sucesso do Start-Up Brasil a esses agentes que carecem de resultados práticos?

As críticas às aceleradoras não se concentram apenas na real capacidade dessas empresas ajudarem as startups. Todas as nove escolhidas estão na região Sudeste, sendo cinco apenas no Rio de Janeiro. No entanto, o Start-Up Brasil possui uma cota de 30% dos recursos destinada a projetos do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Será que as aceleradoras escolherão projetos distantes? Como fica o dia a dia de uma startup em Manaus com uma aceleradora em São Paulo? Além da questão geográfica, existe uma questão mais assustadora: se as aceleradoras são empresas privadas, será que os critérios de seleção de uma startup vão coincidir com o interesse público?

Existem iniciativas muito efetivas para os empreendedores que estão distantes do alcance Start-Up Brasil e que surtiriam grandes efeitos para quem se aventura abrir um negócio no país: redução da carga tributária, facilidades para se abrir e fechar um negócio, melhoria do ensino sobre empreendedorismo nas universidades entre outras ações. Segundo o Banco Mundial, o Brasil ocupa a modesta 130ª posição, num ranking de 185 países, como um lugar propício para se fazer negócios. Começar um empreendimento aqui demora 119 dias, contra três dias em Singapura, líder do ranking.

A iniciativa de se criar o Start-Up Brasil é válida, sobretudo em um país que investe pouco em inovação. Anualmente destinamos 1,1% do nosso PIB em recursos para inovação. Nos países desenvolvidos essa média é de 2,4%. Porém, enquanto a inovação não estiver no DNA do Governo Federal e for um projeto que permeia todas as esferas do Estado, estes programas terão alcance limitado. Basta lembrar do PRIME, programa precursor do Start-Up Brasil lançado em 2009, que distribuiu R$120 mil para startups, sendo que muitas não tinham modelo de negócio definido e receberam o fomento. A falta de critérios objetivos do PRIME fez com que seu resultado fosse pífio e ele foi descontinuado. O fracasso do PRIME fez agora o governo trazer as aceleradoras para ajudar implementar o Start-UP Brasil. Porém, enquanto o Governo “terceirizar” algo que deve ser sua essência, é de se questionar o potencial de sucesso de suas ações.
 

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