ProXXIma
4 de julho de 2017 - 6h59
(Parte 1)
(*) Omarson Costa
Não há mais dúvida. A informação já é o ativo mais valioso em uma economia cada vez mais submissa à supremacia dos dados. É o novo petróleo. E os novos Xeiques são os empreendedores da revolução digital, como Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Elon Musk, Tim Cook, Larry Page e tantos outros novos bilionários que há tempos já sabem que o maior valor de seus negócios é ninguém menos do que você.
Sim, você mesmo.
Poucos dias depois que publiquei meu último artigo sobre o lançamento da Amazon Go, a gigante de Jeff Bezos divulgou a compra, por impressionantes US$ 13,7 bilhões, da Whole Foods, uma das maiores varejistas de alimentos dos Estados Unidos.
Em uma só tacada, a empresa avançou seus tentáculos sobre o varejo físico anexando ao seu patrimônio 431 lojas da rede, ou, em outras palavras, 431 pontos de coleta de dados sobre o comportamento do consumidor, do momento que ingressa no estabelecimento até passar pelo caixa.
De bobo Bezos não tem nada. Nem seus colegas do Vale do Silício.
Basta olhar para as empresas com maior valor de mercado no mundo para identificar um traço comum: a obstinação por saber cada passo de quem está do outro lado da tela. Onde mora, que marcas prefere, como costuma pagar, que horas tem o hábito de comprar, e, priceless, “adivinhar” qual será seu próximo objeto de desejo.
Na disputa pelos corações e mentes dos consumidores, Apple, Alphabet (Google), Microsoft, Amazon e Facebook (as Top 5 em valor de mercado) se acotovelam em uma corrida alucinante na compra por empresas de dados e armam em seus QGs as estratégias que serão determinantes para conquistar a liderança do comércio mundial.
A batalha se trava no desenvolvimento de ferramentas de data science e inteligência artificial que serão o motor de negócios em que os dados sejam o combustível das vendas.
Bem, basicamente qualquer negócio.
Se num passado não muito remoto, há pouco mais de uma década, o petróleo era o recurso (escasso) determinante para conquistar e dominar mercados, hoje os dados (abundantes) são as novas commodities.
As empresas que souberem coletar, minerar, interpretar e predizer serão (pode-se dizer que já são) as novas Exxon Mobbil, PetroChina e Royal Dutch Shell, que em 2011, somente 16 anos atrás, ocupavam três das cinco primeiras posições entre as mais valiosas e hoje foram atropeladas pelas cinco grandes de tecnologia.
Fonte: visualcapitalist.com
A Amazon não comprou prateleiras de supermercado com a incorporação da Whole Foods. Comprou, isto sim, centros de distribuição e laboratórios para aprender sobre comportamentos do consumidor usando inteligência artificial. E, por este motivo, não para de abrir vagas para profissionais que conhecem as tecnologias do futuro.
De posse dos dados, poderá melhorar seu marketing e distribuição. Conseguirá ser mais assertiva nas ofertas e na precificação. Terá faca e queijo nas mãos para abocanhar uma imbatível posição de liderança no varejo global.
Aos que se preocupam com o extermínio de empregos, saibam que graças à robotização dos seus centros de distribuição a Amazon baixou seus custos de logística e repassou a economia aos clientes, o que aumentou suas vendas e a demanda por mais profissionais para atender o crescimento.
Dois dados rápidos: 1) em 2016 a companhia incrementou sua força de trabalho robotizada em 50% e, apesar disso, elevou o número de empregos para humanos na mesma proporção e 2) no balanço do quarto trimestre de 2016 informou que irá criar 100 mil novos empregos em 18 meses.
Além da Amazon, quais outras empresas de varejo que você conhece estão preparadas para o rápido avanço da Inteligência Artificial e do Big Data? Quais estão equipadas para conhecer tão a fundo o comportamento dos consumidores?
Não escapam nem mesmo os clientes que não são bancarizados ou não têm um cartão de crédito. Com o Amazon Cash, basta ir a algum varejista credenciado, apresentar um código de barras no smartphone ou mesmo impresso e, com dinheiro, no mínimo US$ 15 e no máximo US$ 500, carregar a carteira virtual.
No futuro, talvez a Amazon ofereça vantagens consideráveis (descontos e benefícios) que os bancos não conseguem (ou não querem) conceder aos seus consumidores. Quem quer agradar os consumidores? A Amazon, que investe sem parar para inovar e conquistar clientes, ou os bancos, que distribuem os dividendos aos acionistas?
Vale a pena refletir sobre o papel das organizações do futuro. Sem paixões ou ofensas.
Em ritmo frenético, as marcas buscam como criar um engajamento que traga o consumidor não somente pelo produto em si, mas pela experiência de compra. De novo, a Amazon sabe disso e lançou uma nova forma de provar roupas, o Amazon Wardrobe.
Para os assinantes do Amazon Prime, basta escolher as peças (em mais de um milhão de itens no catálogo) e solicitar que enviem a roupa para “provar”. O cliente tem 7 dias para usar e testar. Se decidir comprar, basta confirmar pelo celular. Se não quiser, coloca dentro da caixa e manda de volta. Detalhe: sem pagar o frete.
A Nike, outra marca icônica, também já garantiu sua gôndola no Amazon Wardrobe e começará a vender diretamente no marketplace, sem intermediários. E porque está fazendo isto? Sem dúvida, para obter dados valiosos sobre o consumidor. E também porque sabe o poder da experiência para garantir sua posição no mercado.
Ainda tem dúvida de qual a visão de futuro da Amazon?
Coletar seus dados a qualquer hora, onde quer que esteja, enquanto compra online, quando vai ao mercado (Whole Foods), faz um pedido por comando de voz ao Alexa (já é possível comprar o voicebot Amazon Echo por US$ 179,99) ou assiste sua série preferida na Fire TV (o player sai por US$ 89,99).
Ah, cuidado, o Echo está ouvindo você o tempo todo, mesmo quando não está falando com ele. O aparelho escuta, grava e aprende com tudo o que você fala. Quanto mais aprendem com sua informação, mais os bots poderão fazer sugestões de produtos e serviços que você ainda nem mesmo conscientemente sabe que precisa, mas a Inteligência Artificial sabe. Quanto mais a alimenta com dados, mais ela tem o domínio sobre seus desejos de consumo.
Com tantos dados sobre o que quer e sua localização, em breve a Amazon fará suas entregas com drones na sua janela. Ficção? Pois saiba que a ideia de delivery com partidas de centros de distribuição de colmeias de drones já está patenteada. E os testes já começaram no Reino Unido.
Mas além de drones nas nossas janelas, onde mais a data society poderá nos levar? Nem mesmo o céu será o limite.
Os pilares desta nova data economy e do data monetization se tornam cada vez mais sólidos na medida em que explode o universo de usuários de smartphones, Smart TVs, carros, casas, roupas, relógios e novos objetos conectados.
A Internet das Coisas irá continuar aumentando exponencialmente o tráfego e monitoramento de dados, permitindo o nascimento de novos produtos e serviços e dando às companhias privilegiadas que acessam e acompanham sua vida o controle do petróleo da economia digital: sua informação.
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No próximo artigo desta série, vou abordar outros novos jogadores no cenário da inovação que já estão e continuarão crescendo através dos seus dados pessoais.
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(*) Omarson Costa é formado em Análise de Sistemas e Marketing, tem MBA e especialização em Direito em Telecomunicações. Em sua carreira, registra passagens em empresas de telecom, meios de pagamento e Internet.
Fonte da imagem Poço Petróleo: Economist