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Publicitários – telefonistas do século XIX

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Publicitários – telefonistas do século XIX

Deixa eu contar pra vocês sobre o dia em que as agências de publicidade começaram a deixar de ser agências. Foi hoje, mas também já faz um tempo.


18 de maio de 2016 - 10h07

Se você quer saber quem foi o criminoso que começou isso, culpe a internet. Melhor, culpe a web. O quê? Você quer queimar a web? Calma, não vamos tomar medidas desesperadas, ao invés disso, que tal produzir o que você gosta?
…qualquer um pode falar sobre qualquer coisa, com qualquer quantidade de pessoas e em qualquer horário.

Pois é, quando as pessoas encontraram na internet as mais diversas plataformas para se comunicarem umas com as outras, sem precisarem de um intermediário, os veículos de comunicação offline sentiram um aperto no coração sem saber exatamente o que era. E ele só tem ficado mais apertado com o tempo, embora muita gente tenha se adaptado para sobreviver. Nesse momento, os 15 minutos de fama que todos ansiavam na TV se transformaram em milhões de horas produzidas todos os dias no YouTube. Porque todo mundo tem um hobby fora do trabalho e dividir isso com os outros, de alguma forma, é o que importa em nossos círculos sociais – que antes eram de um punhado de gente e agora são para qualquer um com acesso à internet.

Que coisa, não? Isso quer dizer que qualquer um pode falar sobre qualquer coisa, com qualquer quantidade de pessoas e em qualquer horário. E, se esse conteúdo for considerado bom o suficiente, cada vez mais pessoas vão querer consumi-lo. Na maioria das vezes, mais pessoas do que as que estão assistindo TV, lendo jornal, ou escutando o rádio. Ao mesmo tempo. E tudo em absolutamente qualquer lugar com sinal de internet.

 

Enfim, onde vou chegar com tudo isso? – você deve estar se perguntando. Acontece que essas pessoas comuns, produtoras de conteúdo com milhões de fãs e no ar 24 horas por dia são, hoje, os verdadeiros influenciadores que as marcas sempre buscaram. Seus vídeos, podcasts e textos são os programas de maior audiência com espaços publicitários definidos por eles, junto aos seus clientes. Sim, OS SEUS CLIENTES. Isso mesmo, porque, afinal de contas, por que contratar alguém para me colocar em contato com outra pessoa que é quem realmente eu procuro, quando posso ir direto a fonte?

Publicitários serão vistos como telefonistas do século 19.

MEU DEUS, NÃO PULE DA JANELA! Calma…tudo tem um jeito. E para as agências de publicidade (por sinal, vamos ter que rever esse nome) parece que a saída pode ser suas transformações em modernas, constantemente atuais e eternamente mutantes produtoras e disseminadoras de conteúdo.

Olhe para a sua agência. Em cada funcionário, não mais existe um diretor de arte, um redator, um mídia, um planejador. Existe um escritor, um artista, um viajante, um especialista em futebol, um aficionado por gastronomia e um carpinteiro de relógios cucos feitos com madeira de reflorestamento. E vá por mim, todo mundo, de alguma maneira, tem um hobby fora do trabalho (déjà vu) e outras pessoas, com o mesmo hobby, querem ouvir o que ele tem a falar, ou ver o que ele pode fazer.

Olhe em volta e veja especialistas em conteúdo.

Hoje, para as agências (hahaha, agências…) é a hora de se tornarem protagonistas do negócio. Os seus conhecimentos estratégicos e mercadológicos são o diferencial que outros produtores de conteúdo ainda não têm, mas que os seus clientes já estão incorporando nos processos internos de marketing, tornando o seu trabalho um pouco mais obsoleto.

Agora respire. Tudo isso é um modelo de negócio que ainda está para acontecer, não há um mapa da mina ou uma verdade absoluta. Ninguém ainda chegou lá e o importante agora é estar ciente e em movimento para um dia deixar de agenciar clientes e começar a produzir plenamente para eles. Por mais profunda que seja a sua atuação em uma marca, tenha certeza: se não nos reinventarmos, publicitários serão vistos como telefonistas do século 19. E caso você não tenha notado, eles não existem mais.

O anúncio, o banner, o outdoor e o comercial que você sempre fez ainda serão produzidos, mas o seu trabalho não poderá ser simplesmente uma ideia criativa em cada um deles. E, na verdade, ele já não pode. Por outro lado, se você conseguir contar uma história consistente em todas essas peças, diabos – por todos os canais on, off, ou o que for – e fizer isso produzindo conteúdo relevante para cada persona nas diversas que constituem os consumidores do seu cliente, com todos os especialistas e entusiastas de conteúdo que já trabalham com você, bem, aí sim você terá conseguido dar um passo importante para começar a mudar a sua agência.

Ato falho.

Não será mais uma agência.

Lucas Kircher é Conteúdo na e21

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