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18 de setembro de 2019 - 6h57
Por Marcos Gouvêa de Souza (*)
O desemprego reduziu um pouco. Em boa parte pelo aumento da informalidade e das novas configurações do emprego.
A massa salarial real no segundo trimestre deste ano foi de R$ 208,4 bilhões e é superior aos R$ 206,2 bilhões do quarto trimestre de 2014 e, em termos reais, a segunda maior dos últimos 15 anos.
A inadimplência de 3,4% medida pelos atrasos acima de 90 dias, segundo o Banco Central, está abaixo dos patamares históricos. Só como referência, nesse mesmo indicador a inadimplência em meados de 2013 era de 4,8%.
O comprometimento da renda com dívidas das famílias em relação à renda do mês, também é menor. Em agosto foi 18,29% e, em 2009, dez anos atrás, era 18,73%.
E o endividamento, medido pela dívida das famílias em relação à massa salarial dos últimos 12 meses, que também dez anos atrás, em 2009, era de 28,3%, agora é de 25,6%. A inflação geral, avaliada pela evolução do IPCA continua dentro da meta e a de alimentos, um dos mais importantes elementos na percepção do consumidor, no domicílio é 4,53% e quando fora dele é 3,4%.
Afinal, o que falta para alavancar o consumo e as vendas no varejo? Falta confiança para mudar a história do ano e dos próximos períodos.
Em agosto de 2019, o Índice de Confiança medido pela FGV, marcou 89,2, sendo que na sua história recente ele foi de 112,4 em 2012, no pico do consumo.
E o que falta para mudar a confiança do consumidor e do setor empresarial?
O fator decisivo para melhorar a confiança seria “baixar a fervura”, como se diz no popular, para precipitar essa mudança de humor no mercado. Existem os que querem e os que torcem contra e até agora foram oito meses de petardos entre as várias partes, muito mi mi mi, muita falação, enorme indisposição e um desnecessário e perverso acirrar de ânimos.
E a conta está sendo paga pelos desempregados, os informais e os mais vulneráveis.
O preço de tudo isso tem sido um mercado em banho maria, andando de lado, quando não para trás, apesar dos elementos propulsores positivos do consumo e das vendas no varejo.
E a disposição para converter esses elementos em consumo estão presentes no mercado, como mostraram os dados preliminares da Campanha Semana do Brasil, no período de 6 a 9 de setembro e que registraram crescimento em torno de 12% como divulgado pela Secom, com base em análise produzida pela Cielo. Os dados finais e completos deverão ser divulgados na semana do dia 23.
Até então os números do IBGE na Pesquisa Mensal do Comércio do mês de julho, último dado oficial disponível, mostravam esquelética evolução das vendas, apontando um crescimento tímido de apenas 1,2% acumulado nos primeiros sete meses do ano.
O quadro está desenhado.
Existe espaço e condições para recuperação sustentável do consumo com base no crescimento da massa salarial real e mais o potencial antecipador através do crédito.
Muita coisa positiva tem sido produzida na esfera econômica com benefícios imediatos e de longo prazo para o país, reduzindo a presença do Estado, liberando a economia, estimulando o empreendedorismo. É certo que muito mais precisa ser feito, e não se pode esmorecer na busca de uma reconfiguração completa de nossa economia. Mas estamos caminhando na direção certa.
Dois Brasis
E podemos identificar ao menos dois Brasis neste momento.
Um pessimista, descrente, amargo e concentrado em criticar tudo que possa ser criticado. Ele está particularmente concentrado nos segmentos mais tradicionais das principais capitais do Sudeste, porém seu efeito contaminante se espalha por boa parte do País.
E existe um outro que se volta para as emergentes oportunidades geradas no mercado global e local e investe para crescer, expandir, incorporar novos negócios e mercados, com forte predomínio nas regiões ligadas ao agronegócio e no universo abrangente das novas tecnologias. Circule pelo interior do Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e muitas outras regiões e ficará difícil entender o péssimo humor retratado diariamente em boa parte da mídia.
Entre esses dois extremos flutua o humor do mercado e da comunicação, propulsores da confiança dos consumidores e do empresariado.
Não se pode ignorar ou minimizar tudo que tem por ser corrigido na educação, na segurança, na saúde pública e na questão da sustentabilidade, além das questões tributárias, políticas e muitas mais.
Mas voltamos ao clássico axioma do copo meio cheio ou meio vazio. Tudo depende de como enxergar a realidade e como nos envolvermos para solucionar o que precisa ser solucionado.
Mas neste momento os dois Brasis parecem convergir na percepção de existe um cenário mais positivo à frente para estimular o consumo e o varejo e, consequentemente os serviços de forma geral e a indústria de consumo em particular.
Agora vai? Que não seja mais uma ilusão! Tudo tem a ver como queremos enxergar a realidade.
(*) Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza, membro do IDV – Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, do IFB – Instituto Foodservice Brasil, presidente do LIDE Comércio e membro do Ebeltoft Group, aliança global de consultorias especializadas em varejo em mais de 25 países.