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Você está pronto para Nova Civilização do Distanciamento?
O COVID-19 marca o início do Século XXI; e a tecnologia será a nova eletricidade. A inovação e a cultura agile passam a ser o combustível da nova civilização do distanciamento.
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ProXXIma e Venâncio Velloso
16 de junho de 2020 - 8h05
Por Venâncio Velloso (*)
A História da Civilização não se divide necessariamente pelo tempo cronológico. Episódios de magnitude global que tiveram grandes impactos políticos e econômicos marcaram o nascimento de novas eras, separando nosso processo evolutivo entre antes e depois de determinados fatos históricos. Integram a linha do tempo destes momentos de grandes rupturas, por exemplo, as guerras mundiais, as migrações que desenharam novos mapas geopolíticos, a Revolução Industrial e, há pouco mais de duas décadas, a Revolução Digital.
Muitos historiadores provavelmente irão atribuir ao nascimento da Internet a semente da Idade Digital. É um marco, sem dúvida. Mas, inegavelmente, o COVID-19 será lembrado como o grande propulsor do surgimento de uma nova humanidade transformada pela conectividade e reinventada pelo uso intenso de ferramentas tecnológicas.
A pandemia do novo coronavírus será apontada como a catalisadora irreversível desta transformação digital, dividindo a era tecnológica, iniciada lá atrás pelos primeiros provedores de acesso, entre AC/DC – Antes do COVID-19 e Depois do COVID-19, como já bem sublinharam vários analistas.
A invenção da indústria digital, que, vale lembrar, só germinou em virtude de desbravadores como Bill Gates e Steve Jobs, foi apenas o primeiro alicerce para o fortalecimento desta Nova Era em que a tecnologia irá se consolidar como o motor da sociedade em todas as frentes – na economia, na educação, na vida familiar e social, na cultura, nos negócios; it´s all about digital!
O que estamos vivendo, para quem ainda não se convenceu, não é um filme de ficção científica ou episódio da série Black Mirror como muitos que já haviam alertado sobre a ameaça de extermínio da humanidade por pandemias. Estamos apenas dando os primeiros largos passos para a adoção de novos padrões de comportamento sócio-econômico.
Um Novo Século
A historiadora e antropóloga Lilian Schwarcz já deu sua sentença: o novo coronavírus marca o início do Século XXI duas décadas depois da virada cronológica do século. Nesta nova era, a civilização será, forçadamente, cada vez mais virtual, cada vez mais digital. É um caminho sem volta.
De acordo com previsões do Imperial College Britânico, o novo coronavírus terá picos e vales de contaminação pelos próximos dois anos, o que implicará em lockdowns periódicos. Ou seja, seguiremos vivenciando, de tempos em tempos, períodos de isolamento como o que estamos experimentando agora.
Mas quais os impactos e que mudanças veremos na sociedade e na economia nos curto, médio e longo prazos? Que caminhos temos que seguir para reconstruir a economia global?
São perguntas que nos tiram o sono e cujas respostas ainda são incertas. Mas muitas transformações que já estão acontecendo durante a quarentena certamente serão incorporadas ao “novo normal” depois que pudermos sair do isolamento.
Quais os principais impactos sentidos no curto prazo?
A nova civilização que se avizinha terá como principal característica o distanciamento, inaugurando a Low Touch Economy, conforme o relatório da consultoria multinacional Board of Innovation batizou a nova economia pós-COVID. Com isso, segmentos como turismo, eventos esportivos e musicais, bares e restaurantes e automotivo deverão ter uma curva mais lenta de recuperação, conforme mostra o quadro abaixo do relatório.
No curto prazo deverão ganhar tração negócios que ofereçam ferramentas de digitalização para acelerar novos modelos e transformar a cultura organizacional das empresas para esta nova era, como o aumento da adoção do home office e a diminuição dos espaços dos escritórios, a transposição das reuniões e viagens corporativas para lives em videoconferências e o uso intensivo de ferramentas digitais.
O grande crescimento de acesso aos aplicativos dá uma amostra de quais hábitos estamos mudando desde que o isolamento foi decretado. E a tendência é que continuem em alta por conta da chegada de novos usuários.
Pela primeira vez, muitos consumidores fizeram suas compras on-line, pediram delivery de comida ou realizaram uma consulta médica por telemedicina e certamente continuarão optando por estes canais no pós-pandemia. Depois que o isolamento foi decretado, houve uma explosão no uso especialmente de apps de comunicação, lojas virtuais, saúde, mídia e entretenimento – assim como outras plataformas de streaming, a Netflix teve um crescimento colossal durante a quarentena, adicionando quase 16 milhões de assinantes, o dobro do previsto pelos analistas para o primeiro trimestre – e uma queda sensível nos serviços de mobilidade, imobiliário e viagens, como demonstra o infográfico abaixo.
Um dos setores mais impactados já nas primeiras semanas de isolamento foi o das companhias aéreas. De acordo com relatório da United Nations World Tourism Organization, mais de 200 países e territórios impuseram medidas restritivas ou impediram pessoas de atravessar suas fronteiras para conter o avanço do vírus. Com isso, o número médio de voos comerciais diários caiu de mais de 100 mil em janeiro e fevereiro deste ano para cerca de 78.500 em março e 29.400 em abril, segundo dados da Flightradar24. Quando estava fechando este artigo, o presidente Donald Trump proibiu a entrada de brasileiros nos Estados Unidos, zerando o fluxo de viajantes que já havia sofrido sensível redução.
O que esperar do futuro?
São muitas as tendências de avanços e mudanças em diversos setores da vida previstas pelos analistas. Uma delas é a aceleração da Inteligência Artificial, que passará a permear muitas indústrias: aparelhos domésticos, carros, máquinas industriais, medicina, ciência e até a própria relação entre consumidores e empresas, tudo será comandado pela economia dos algoritmos.
Até 2024, segundo a Juniper Research, as pessoas vão interagir com assistentes de voz em mais de 8,4 bilhões de dispositivos, o que significa superar a população global. O comando por voz irá substituir o toque nas telas. Assistentes pessoais, como o Amazon Alexa e Google Home, tendem a ganhar maior popularidade e outros produtos ´no touch´serão lançados com sistemas de reconhecimento de voz integrados – elevadores, eletrodomésticos, automóveis, tudo será comandado por voz.
Os humanos irão circular pelo mundo mais e mais com seus avatares, seja através da conexão em plataformas de comunicação (Skype, Zoom, Hangout etc) ou por programas de realidade virtual ou diretamente nos browsers de PCs e smartphones. Seremos muito mais conhecidos e reconhecidos pelas telas do que nos saudosos happy hours da empresa. Sim, voltaremos aos escritórios, bares e restaurantes, mas com novos layouts e muitas restrições.
A revista The Economist informa que, segundo cálculos da Organização Mundial do Trabalho, os setores mais atingidos pelas medidas de distanciamento social empregam 38% da força de trabalho global, ou 1,2 bilhão de pessoas. Todas terão que buscar novas formas de sobreviver dentro desta Nova Economia.
Para além da tristeza da explosão do desemprego, a mesma matéria aponta outras três tendências: 1) a “desglobalização”, 2)o avanço dos serviços baseados em dados em todos os aspectos da vida (os dados serão definitivamente o novo petróleo), e 3) a inevitável concentração do poder econômico nas mãos das corporações gigantes com a intensificação das fusões e aquisições para garantir a sobrevivência da cadeia de fornecedores, especialmente de negócios difíceis de replicar rapidamente.
Novos hábitos, novas habilidades
Os hábitos de consumo passarão por uma grande transformação e devem se consolidar no novo normal. Um estudo da McKinsey & Company realizado entre os consumidores brasileiros indicou que cerca de 40% passaram a fazer compras online e o mesmo percentual pretende continuar optando pelos canais digitais depois da pandemia; 35% disseram que irão reduzir idas nas lojas físicas no pós-COVID. Além do forte impacto no varejo, o relatório prevê também uma migração para cidades de menor densidade populacional, onde o custo de vida e o risco de contaminação são menores.
O desenvolvimento de novas habilidades profissionais também será uma demanda crescente no futuro e a educação remota ganhará espaço para viabilizar um aprendizado contínuo fora das salas de aula de tijolos. Em um novo mundo corporativo sustentando por transformações exponenciais constantes e anabolizado pelas novas tecnologias, precisaremos aprender novas profissões por toda vida.
As empresas, da mesma forma, irão desenhar planejamentos cada vez mais de curto prazo, sendo obrigadas a criar recorrentemente MVPs (mínimos produtos viáveis) que possam ser rapidamente testados, revistos e aprovados. O ´time to market´ será determinante e a velocidade cada vez mais relevante .
Acompanhar tantas rápidas (r)evoluções impulsionadas pela COVID-19 irá exigir também uma concomitante revisão de aspectos legais, inclusive com a flexibilização de regras em vigor que deixarão de fazer sentido na nova civilização, como já aconteceu com a recente aprovação da telemedicina no Brasil.
Não há receitas prontas para a nova vida depois da pandemia, mas é certo que as empresas precisarão reforçar investimentos em pesquisa e desenvolvimento para desenhar soluções baseadas nos novos comportamentos dos consumidores. Empresas que conseguirem colocar esses planos em ação para torná-los realidade em vez de mero exercício de futurologia serão as que se tornarão líderes desta nova Era Digital.
São muitas incertezas, mas não é hora de pisar no freio. A inovação e a cultura agile passam a ser o combustível da nova civilização do distanciamento. O que no curto prazo iremos considerar o “novo normal” no longo prazo passará ser o “normal normal”. O estranho será, podem apostar, o “velho normal” que vivíamos antes da pandemia. As novas tecnologias digitais serão a nova eletricidade para ingressarmos nesta nova Civilização do Distanciamento. Esta é a única certeza que temos.
(*) Venâncio Velloso é Chief Digital Officer na Genial Investimentos e Co-fundador da WebPesados e VTEX.
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