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Qual é o futuro das startups no Brasil?

Segundo especialistas, a pandemia acelerou o ecossistema no Brasil, mas cenário ainda carece de normas efetivas para prosperar


22 de dezembro de 2021 - 6h00

Neste ano, o investimento em startups no País bateu um recorde: de acordo com o Inside Venture Capital, da Distrito, o aporte em negócios do tipo atingiu o patamar de US$ 8,85 bilhões até novembro, por meio de 677 rodadas ao todo. O número representa o triplo do registrado em 2020. Também no ano passado, o ecossistema se deparou com a discussão acerca do Marco Legal das Startups, projeto de lei que visa atrair investidores ao mesmo tempo em que gera novas oportunidades e incentiva o empreendedorismo inovador no Brasil. Ainda que o cenário tenha visto avanço, quais as barreiras para que o segmento seja, de fato, alavancado?

 

Brasil concentra 77% das startups da América Latina (Crédito: Illus_man/shutterstock)

De acordo com Felipe Barreto Veiga, sócio do BVA Advogados atuante em direito empresarial, algumas das justificativas para o crescente investimento em startups é a hiper liquidez pela qual o mundo vem passando, além da diminuição de taxas básicas de juros a nível global, o que desincentiva o investimento em ativos como crédito privado e renda fixa. O advogado aponta que, desse capital disponível, parte dele deve ser alocado em ativos de risco, como é o caso do venture capital do qual o mercado de startups se beneficia. Traduzido para “capital de risco” a modalidade se encaixa para empresas em início de carreira, mas que contam com alto potencial de desenvolvimento.

“Quando olhamos o cenário trazido pela pandemia, muitas companhias precisaram acelerar o seus processos de inovação e digitalização sob pena de perderem competitividade e isso também reflete bastante no mercado de startups, afinal boa parte dessas empresas são companhias digitais, inovação ou que de alguma forma podem agregar valor através de players que não estavam surfando nesse cenário”, completa Felipe. A situação é favorável, gerando aumento do interesse do investidor, seja privado, qualificado ou institucional.

Mesmo que a limitação das atividades presenciais tenha prejudicado diversos setores, a tecnologia se mostrou a porta de saída rumo à sobrevivência. A Circle, uma aceleradora e incubadora de negócios criativos, já enxerga dentro do ecossistema voltado para eventos, publicidade e marketing, por exemplo, uma grande retomada no momento. Para Mauro Resende, CFO e sócio da Netza&Cossistema, as novas alternativas ao mercado na questão do híbrido e presencial foram aceleradas e serão fomentadas graças à associação do marketing e da tecnologia, configurado na imagem das martechs. 

“A inovação agora faz parte, de uma forma muito mais acentuada do nosso dia a dia. A todo instante temos contatos novos com diferentes formas de trabalhar, processos, tecnologias. Uma realidade que funcionava há seis ou oito meses, já mudou”, exemplifica Mauro, ressaltando a velocidade com a qual a inovação se movimenta atualmente. Tal fato é um dos fatores pelos quais as startups estão tão em alta e precisam de espaço para crescer diante do cenário atual.

Contudo, o incentivo do Estado para o segmento caminha a passos lentos. Ainda que o Marco Legal das Startups tenha sido sancionado em junho deste ano, alguns pontos se perderam ao longo do caminho, como  os relativos à stock options e incentivos de longo prazo dentro das companhias. “A norma é importante e representa um marco, de fato, para o setor das startups, mas o seu processo legislativo foi lento, sofrendo influência de diversas visões políticas diferentes e não necessariamente alinhadas com os interesses da indústria, da iniciativa privada e do mercado de startups”, diz Felipe.

Uma economia solidificada, ainda que encare a crise, e aspectos sociais são atrativos no Brasil quando comparados com outros países da América Latina. Um relatório da Sling Hub mostra que, ao todo, o ecossistema brasileiro conta com mais de 17 mil negócios, o que o consagra como o representante de 77% do mercado, além de concentrar 70% dos investimentos, quando comparado com México, Chile, Colômbia, Argentina, Peru e Uruguai.

Contudo, a nação ainda ocupa posições baixas no páreo internacional. Um levantamento da consultoria Startup Genome mapeou as cidades do mundo com os melhores ecossistema de startups no mundo: Vale do Silício, nos Estados Unidos, se consolida como o líder. Na sequência aparecem Nova York e Londres juntos em segundo lugar, seguidos de Pequim, na China, e Boston, também nos Estados Unidos. São Paulo — na 31ª posição — é a única cidade brasileira presente nos resultados do estudo que analisou 280 ecossistemas de inovação e 3 milhões de startups.

Países como os Estados Unidos e Inglaterra se baseiam em um sistema batizado de common law, em que as normativas se baseiam em precedentes jurídicos, influências de usos e costumes e até práticas de mercado para estabelecer regulamentações. “Ainda não conseguimos absorver a prática desses países no Brasil, até por conta do nosso perfil de ordenamento jurídico, mas existe uma expectativa muito grande de que o Estado consiga elaborar e promulgar normas que de fato estimulem o ambiente de negócios ou endossem a atividade empreendedora em qualquer esfera, segmento ou atividade”, declara Felipe.

Futuro promissor

“O que vemos é um mercado super promissor, repleto de muitas oportunidades e que o excesso de normas às vezes acaba engessando o processo e acaba comprometendo um pouco o crescimento do mercado”, endossa o CFO e sócio da Netza&Cossistema. Contudo, ainda assim a perspectiva é boa para um futuro próximo, uma vez que iniciativas vêm percebendo a necessidade de se associar à tecnologia a fim de obter melhores resultados, sobretudo quando diz respeito ao marketing. Em 2020, conforme indica o Inside Martech Report, do Distrito Dataminer, tais soluções atraíram um montante de US$ 199,8 milhões.

Já para o advogado, Felipe Barreto Veiga, o Brasil precisa passar por uma  flexibilização de normas que já estão ultrapassadas, obsoletas ou que impedem que o mercado se comporte de forma melhor e mais eficiente. Segundo ele, é necessário aprovação de uma norma que traz reconhecimento da atividade legislativa com relação a um ecossistema importante para a retomada da economia, principalmente em um país que tenta sair da crise já há alguns anos.

*Crédito da imagem do topo: Quardia/shutterstock

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