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O metaverso está morto. Longa vida ao metaverso

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Opinião

O metaverso está morto. Longa vida ao metaverso

O metaverso não é uma coisa, nem um lugar, mas o conceito de realidade virtual imersiva e permanente

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5 de abril de 2023 - 9h34

Passo a passo para entrar no Metaverso

Crédito: Shutterstock

Adoro acompanhar ambientes com alta volatilidade, como mercado financeiro, opinião pública, mídia digital e inovação tecnológica. Nestes campos, um olhar mais sereno, amplo e de longo prazo tende a gerar resultados positivos. Então, encaro a atuação nestes espaços como uma oportunidade de aplicar ensinamentos de filosofias que me são caras, como a serenidade estoica e o desapego taoísta.

Por isso, sigo atento ao metaverso, e fiquei bastante animado com o convite do Meio & Mensagem de ir ao Rio2C discutir em quanto tempo o metaverso se tornará mainstream. Não que a resposta seja relevante (na verdade, nem eu, nem ninguém sabe quando o metaverso será amplamente utilizado), mas sim o fato de se trazer esse tema num grande evento neste momento, em que parece que o metaverso flopou.

No auge da pandemia, vimos diversas grandes empresas anunciando investimentos bilionários no metaverso, sendo o antigo Facebook o mais vocal, já que além de anunciar um investimento de US$ 10 bilhões por ano no desenvolvimento de seu metaverso, mudou seu nome para Meta, por acreditar que o futuro da conexão social está nos ambientes virtuais imersivos. Além disso, vimos criptomoedas atingirem picos de valor de mercado, bem como NFTs serem negociadas por fortunas (lembra das bored apes?).

Passados poucos anos, vemos uma ressaca. A Disney anunciou que descontinuará sua área de metaverso. Meta faz o mesmo. Bitcoin chegou a perder 75% do valor de mercado, várias NFTs se tornaram ilíquidas, e ficou a sensação de que o metaverso foi uma alucinação coletiva que passou (graças a Deus, alguns diriam).

Mas não é bem assim. Primeiro, o movimento das gigantes, tanto de investir como de desinvestir no metaverso, é muito influenciado pelo cenário macroeconômico. O aumento da taxa de juros americana de 0% para quase 5% em um ano provocou uma mudança na alocação de capital, saindo da tese de crescimento, para a tese de valor. Ou seja, com a chance de fazer o dinheiro render emprestando para o governo dos EUA, investidores perderam o interesse em projetos que podem crescer muito e rápido, mas só darem lucro no futuro, e focam seu interesse agora em projetos que podem dar dinheiro no curtíssimo prazo.

Este cenário traz à tona o que o professor Clayton Christensen chama de “O dilema da inovação”: como conciliar investimentos no que dá retorno hoje, mas não deve performar no futuro, com aquilo que vai drenar recurso por algum tempo até dar algum resultado, ou seja, a inovação. Numa mudança tão brusca de cenário macro, as Big Techs precisaram fazer movimentos igualmente bruscos: desplugar de uma vez tudo aquilo que gera impacto negativo no bottom line a curto prazo. Em outras palavras, descontinuar iniciativas de metaverso tem pouco a ver com o seu potencial, e muito a ver com custo de capital e custo de oportunidade

Por fim, vale lembrar que a inovação é não-linear. Ela acontece por espasmos, por momentos “eureca”, por ideias que emplacam de repente. As idas e vindas são comuns, e com o metaverso não é diferente. Enquanto Meta e Disney anunciam que saem do jogo, gigantes como NVidia permanecem ativas. Numa escala menor, startups seguem focadas em desenvolver casos de uso de valor, como a catarinense WeLinkYou. Pesquisa da PwC mostra que 82% dos executivos acreditam que o metaverso fará parte das suas atividades em três anos.

O metaverso não é uma coisa, nem um lugar, mas o conceito de realidade virtual imersiva e permanente. Para viabilizá-la, há quatro camadas, como a McKinsey mostra num dos seus relatórios. A mais vistosa é a de conteúdos e experiências, como a Descentraland, e foi onde a Meta focou seus investimentos. Mas há outras três camadas mais profundas: as plataformas, a infraestrutura e os viabilizadores, como soluções de identidade e meios de pagamento. Todas estas camadas seguem muito ativas. Apenas em 2023, por exemplo, mil novas criptomoedas surgiram.

Com tudo isso, quero dizer que o hype da cobertura midiática sobre metaverso arrefeceu. Agora o foco é a Gen AI, mas a inovação não é feita de hype e nem se realiza apenas no hype. Além disso, Gen AI está diretamente relacionada ao desenvolvimento dos metaversos.

Como disse Satya Nadella recentemente, o metaverso precisa de um “momento chatgpt”, ou seja, lançar uma aplicação acessível, com percepção de valor clara, que se torna popular muito rapidamente. Muita gente está trabalhando nisso hoje, e o fato de estas iniciativas não receberem cobertura midiática é parte do jogo. Veja o caso da Open AI, criadora do Chatgpt, que passou sete anos desconhecida, até vir à ribalta de repente.

A maior parte das projeções sobre o metaverso consideram que teremos um mercado maduro em 2030, o que significa que antes disso ele deverá ser adotado pela early majority. É impossível saber quando isso vai acontecer. Por isso, é melhor seguir acompanhando. Se o hype do metaverso morreu, o metaverso tem uma longa vida pela frente.

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