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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A poderosa voz das mulheres negras

O melhor do meu SXSW veio de mulheres negras. As três histórias que mais me impactaram esse ano


13 de março de 2024 - 17h44

O melhor do SXSW 2024 foi entregue por mulheres negras. Essa foi a minha experiência.

Começo por Arian Simone, CEO e Co-Founder do Fearless Fund, um venture capital focado em investir em empreendimentos liderados por mulheres negras. Já escrevi sobre ela aqui, mas a coloco agora como um dos destaques para mim do evento deste ano, por sua força, sua resiliência e pelo importante trabalho que vem realizando, em um ecossistema absolutamente dominado por homens brancos de origens muito similares.

A segunda foi, para mim, uma descoberta incrível: Bia Ferreira, uma cantora, compositora, multi-instrumentista brasileira que tocou na noite de 12 de março dentro da programação do Troop Club, que teve também Marcelo D2 e outros artistas latinos no line-up. Uso a seguir o texto de seu mídia kit, que obtive durante o dia de hoje, que descreve bem o seu trabalho. Passeando por ritmos afrodiaspóricos como o soul, o r&b, e o rap, mesclados a referências da música brasileira como o samba e o repente, faz arte para mexer com a mente e com o corpo das pessoas. Compositora reconhecida por letras contundentes, visa facilitar a compreensão de temas importantes como necropolítica, cotas raciais, antirracismo, a luta pelos direitos das mulheres, da população lgbtqiap+ e a afetividade destes corpes, a fim de pautar tecnologias de sobrevivência através da arte.
Baseada no conceito de “escrevivência”, idealizado por Conceição Evaristo, Bia prioriza discorrer sobre sua vivência, trazendo com propriedade de vida coerência para suas canções.

O que esta discrição não conta é a sensação de êxtase que todos os presentes ao show de Bia sentimos quando ela subiu ao palco com seu violão e, em poucos segundos já demonstrou a que veio, a envolver-nos em sua justa e aguerrida luta por justiça racial e social, por equidade, por representatividade, através de uma música pura, harmônica, ritmada, altamente expressiva e recheada de muito amor, coisa que ela faz questão de dizer uma e outra vez durante sua apresentação. As pessoas cantaram com Bia, dançaram com ela, se impactaram com sua força e se emocionaram com sua ternura. Bia, quando saiu do palco, carregando seu violão, deixou para trás uma audiência que cantava à capela o refrão de sua última canção da noite. Um super poder criativo e de comunicação desta incrível mulher preta, que já fez valer a vinda à Austin esse ano.

Finalmente, hoje tive a sorte de ver a palestra da brilhante Dra. Joy Buolamwini, fundadora da Algorithmic Justice League (liga da justiça dos algoritmos), uma associação que busca evidenciar e combater os bias na indústria de inteligência artificial. Dra. Joy, uma mulher negra, que defendeu sua tese de bias em AI no MIT, evidenciando os erros de identificação visual de gênero e cor feitos por algumas das principais plataformas de tecnologia do mundo, já foi convidada para ser ouvida em encontros do G20 em Davos e se sentou à mesa com o presidente americano Joe Biden para aconselhá-lo sobre questões de AI. Ela não tem somente uma cabeça privilegiada e uma abordagem pragmática, esperada em pesquisadores de áreas tão técnicas como a dela, mas é também uma artista, poetisa, que usa a poesia como ferramenta de comunicação e empatia com a sua causa. Filha de um cientista e de uma artista, Dra. Joy usa o melhor dos dois mundos, com especial refinamento, prova de seu talento nato, para poder basear seus argumentos em dados e fatos incontestáveis, mas comunicá-los, como ela mesmo diz, através de um bom storytelling. Uma apresentação inspiradora e revigorante, num mar de preocupações e tensões em torno a AI.

Essas três mulheres negras, poderosas, comunicativas, que inspiram confiança e transpiram amor, fizeram o meu SXSW esse ano valer a pena. São histórias que levarei comigo pro ano todo, que me lembrarão do papel que todos temos em apoiar a luta das mulheres, a luta dos negros, dos indígenas, da população lgbtqiap+ e de todos os historicamente excluídos.

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