Hugh Forrest: passado, presente e futuro do SXSW
Co-presidente e Chief Programming Officer do South by Southwest opina sobre mudanças no festival e detalha expansão internacional
Co-presidente e Chief Programming Officer do South by Southwest opina sobre mudanças no festival e detalha expansão internacional
Thaís Monteiro
9 de março de 2023 - 21h51
Nos últimos 36 anos, o South by Southwest se transformou de um festival cujo intuito era dar visibilidade a cultura musical local de Austin e, posteriormente, para a do audiovisual, para abraçar uma gama de assuntos que atraem quase 300 mil pessoas de diferentes regiões do globo anualmente.
Parte da atratividade do SXSW é o networking com esses quase 300 mil agentes de diversas indústrias, mas boa parte do público vai ao SXSW buscando respirar a mistura entre cultura e negócios que o festival promove e a programação que inclui debates com especialistas, grandes nomes dos setores, celebridades e políticos.
Ao Meio & Mensagem, o co-presidente e Chief Programming Officer do South by Southwest dividiu suas percepções em relação as transformações aos quais o festival foi submetido ao longo desses quase 40 anos para refletir a cidade de Austin e os públicos da cultura e corporativos.
Meio & Mensagem – Como o SXSW evoluiu para reunir a cultura e o mundo corporativos?
Hugh Forrest – Um dos pontos principais para nossa sobrevivência desde 1987 que mudamos e pivotamos muito no caminho. Sim, começou inteiramente focado em música e adicionamos filme em 1994 e depois tecnologia. Passados 30 anos, nós pensamos no espaço, em health techs, transporte, esportes, comida, moda e tudo no interim. O que não mudou é nosso foco em criatividade massiva. Isso ressoa com a cultura e vibe de Austin. É uma cidade que sempre cultivou e celebrou criatividade. É um dos motivos pelos qual o South by Southwest é tão celebrado no Brasil. Quando você pergunta sobre o elemento corporativo, eu acredito que há autenticidade entre o público e a programação que o público corporativo quer sentir para entender e isso também é importante para eles.
M&M – Como essas duas áreas influenciam uma a outra?
Há um back and forth inevitável entre os dois. Muitos dos negócios de mais sucesso são aqueles que estão mais sintonizados culturalmente. Essa é uma das coisas que fazemos bem no SXSW. Nós unimos líderes de empresas e colocamos eles em uma atmosfera que é um pouco diferente da sua conferência de negócios padrão. Nós damos a eles diferentes pontos de referência que ajuda a abrir a mente deles de formas diferentes, inspira eles e cria novas oportunidades e parcerias. É como nós fazemos negócios em Austin. Você mistura e brinca com negócios. SXSW é sempre um reflexo disso na vibe de Austin.
M&M – Pela primeira vez, o SXSW está acontecendo em outro lugar, em Sydney. Como a edição da Austrália será diferente da de Austin? O festival está muito entrelaçado com a cidade de Austin. Como a equipe trará esse aspecto para ele?
Nós estamos muito animados em relação a Sydney. Vai acontecer em outubro de 2023. Vai ser nosso primeiro evento de marca fora dos Estados Unidos. Alguns dos nossos colaboradores visitaram Sydney e eles dizem que é uma cidade que celebra criatividade de forma semelhante ao que fazemos em Austin. Temos um grande time que está trabalhando nesse evento e muitos deles estarão em Austin para o SXSW. Acredito que eles vão conseguir pegar o festival que fazemos, traduzir isso para a Australia e inserir ele no contexto cultural local de forma a ser atrativo para uma audiência que não conseguiu participar por conta da distância de Sydney para Austin.
M&M – Você mencionou que o lugar precisa ter uma veia criativa. É isso que buscam para trazer o evento para fora dos EUA?
A região, país ou local tem que fazer sentido, deve ter algo único culturalmente e é por isso que Sydney faz sentido. Há várias cidades com cultura musical forte, ou cultura de startup. Há vários lugares onde poderíamos fazer um evento. Estamos explorando várias dessas opções. Estamos otimistas sobre como Sydney vai funcionar e estamos animados em relação ao futuro.
M&M – Então é uma possibilidade que vocês tenham múltiplos eventos em outros lugares?
É uma possibilidade. Provavelmente vamos começar devagar nisso. Temos que tirar o plano do chão antes e ver o que funciona, os problemas que não esperávamos e quando tiver isso mapeado potencialmente iremos ir para outros lugares.
M&M – Sendo os brasileiros um público majoritário, existe a possibilidade de haver um SXSW no Brasil?
Não quero dizer nada que será mal interpretado, então vou dizer que amamos o Brasil, amamos as pessoas que vem do Brasil para Austin. Se a oportunidade certa aparecer, vamos ver.
M&M – Conversando com um público que vai ao festival há pelo menos uma década, eu percebi que muitos usam a seleção de keynotes e featured speakers e o openning remarks para saber qual é a opinião dos programadores sobre o que deve ser debatido. Existe verdade nessa teoria?
Em termos do meu Opening Remarks este ano, acredito que vou falar muito sobre o que falamos hoje, sobre quanta presença internacional há no SXSW e o quão incrível é ver o mundo vir para Austin, ouvir línguas diferentes e abraçar culturas diferentes. É algo que sempre nos aquece o coração. Também podemos dizer que mudanças climáticas, DEI&B são temas super fortes no evento este ano. Nós acreditamos fortemente que o futuro será muito melhor se ele for mais equalizado, diverso, inclusivo. Nós celebramos isso no SXSW porque é a coisa certa a fazer e porque somos um evento sobre criatividade, pensamento inovador. E pessoas diferentes pensam diferente, em formas diferentes em termos de inovação e é nosso trabalho destacar o maior número de perspectivas possíveis.
M&M – A programação do SXSW 23 se concentra em IA, metaverso e outras tecnologias, mas o cronograma também debate a importância do aspecto humano para os negócios, o planeta e outras áreas. Por que unir os dois lados?
Estamos adentrando uma nova fronteira em relação a essas questões. Nós sempre destacamos que criatividade é rei e humanos são os melhores na criatividade. Certamente, o ChatGPT não se equipara a humanos em termos de criatividade, mas você pode ver algumas possibilidades nessa seara. Isso reposiciona algumas de nossas ideias e entendimento do que é criatividade. Acredito que ainda temos um futuro forte para o pensamento criativo humano, mas, de fato, coisas como IA generativa nos faz repensar que a natureza da criatividade significa e como isso vai evoluir no futuro. Certamente vamos discutir isso diversas vezes no SXSW.
M&M – Também há a percepção do público de que o SXSW deixou de tratar tanto do futuro de longo prazo para focar no presente e futuro a curto prazo. O que pode dividir sobre essa evolução?
Não é necessariamente intencional. Nós ficamos melhores em selecionar pessoas que entendem ou tem perspectivas mais educativas no futuro de curto-prazo. Mas algumas das nossas melhores sessões são coisas que são big Picture e que falam sobre visões de 30 anos no futuro ao invés do que acontece na próxima semana, mês ou ano. São sempre as sessões mais impactantes em eventos como o SXSW. Eu espero que não seja um ou outro e sim mais dos dois e que estamos provendo pespectivas de curto prazo, coisas tangíveis como mudanças climáticas, o metaverso e IA generativa e perspectivas de longo prazo que são importante para a viabilidade das nossas espécies.
M&M – Como a Penske Media está envolvida no festival? Que mudanças você fez desde que a empresa comprou parte do SXSW?
Nós pegamos um investimento da Penske depois do evento de 2020 foi cancelado. Eles têm sido muito bons em ajudar a refinarmos alguns dos nossos processos de negócios e ficarmos melhor nesses termos, mas em termos de programação, o que fazemos e o foco em criatividade, eles entendem e apreciam o que fazemos e não querem mexer com a magia do SXSW. É a primeira vez que trabalhamos com um parceiro dessa forma e aprendemos a dançar. Mas tem sido uma parceria boa até agora e espero continuar melhorando essa parceria conforme avançamos.
M&M – Ano passado falamos muito sobre como a cidade de Austin mudou nos dois anos de pandemia. O que mudou neste um ano para cá?
Austin estava crescendo muito rapidamente nas últimas duas décadas. Mas durante a pandemia esse crescimento explodiu e continuamos vendo crescimento massivo. Isso cria algumas mudanças na cidade, mas a cidade sempre mudou e sempre cresceu. De algumas formas, é mais do mesmo. Um dos grandes motores de crescimento em Austin é o fato de termos um grande plano da Tesla em Austin e isso reflete na programação do SXSW. Temos uma track sobre transporte, que criamos em 2022. A programação do SXSW é sempre um reflexo do que é quente e tendência em Austin. Quando o festival nasceu ele era focado em música porque tinha uma cena musical forte por aqui. Ainda é forte, mas esse foi o ponto de partida nos anos 1980. Na última década adicionamos mais conteúdo focado em health tech, med tech, bio tech porque a Universidade do Texas estava criando uma unidade focada em medicina e entendemos que isso criaria toda uma cauda longa para ajudar os negócios da área na cidade e que o SXSW deveria ser parte disso.
M&M – O que você planeja ou espera para o futuro do South by Southwest?
Difícil prever porque prever o futuro é um jogo de tolos, mas eu acredito que o SXSW sempre refletirá a cidade de Austin e conforme continuamos a focar em criatividade em massa em quaisquer indústrias que estamos cobrindo, acredito que estaremos honrando a nossa visão inicial. O papel do SXSW é trazer pessoas criativas juntas e não vejo isso mudar no futuro próximo.
Compartilhe
Veja também
SXSW confirma Arvind Krishna, CEO da IBM, como primeiro keynote
Além do executivo da big tech, festival confirma nomes já veteranos da programação, como Amy Gallo e Rohit Bhargva
SXSW 2025 anuncia mais de 450 sessões
Pertencimento e conexão humana estão entre os principais temas da programação do evento, que conta com 23 trilhas de conteúdo