SXSW se transforma para unir cultura e corporativo, presente e futuro
South by Southwest se transforma para agregar em uma mesma cidade o público esquisito, os CNPJs, robôs, ativistas, passado, futuro e presente
South by Southwest se transforma para agregar em uma mesma cidade o público esquisito, os CNPJs, robôs, ativistas, passado, futuro e presente
Thaís Monteiro
7 de março de 2023 - 8h05
O SXSW 2023 — novamente híbrido, levando ao virtual parte das palestras, meet ups, workshops, mentorias, ativações de marcas e shows, e com mudanças dos lugares e temas das expos, assim como na quantidade e nos horários das palestras — reflete um cenário derivado de anos de transformações. As mudanças marcam o festival desde sua fundação, em 1987, quando o objetivo era promover o crescimento da cultura local, com foco no cenário da música e do cinema, mas sobretudo, na última década, com a presença de executivos das indústrias de bens e serviços, que passaram a comparecer em peso às ruas de Austin anualmente no mês de março.
Esse movimento não passou despercebido pelos participantes frequentes. O foco corporativo é resposta a dois fatores principais, um relativo à cidade e outro ao tema inovação que, aliado à cultura, é chamariz para o público empresarial. Nos últimos anos, Austin tem se consolidado como um polo tecnológico ao se tornar sede para empresas como Tesla e Dell, além de abrigar centros de pesquisa e escritórios de outras, como IBM e Meta. Como o SXSW é um evento em simbiose com a cidade, essa transformação tornou-se evidente.
“Os organizadores não se preocupavam muito com negócios. Mas a região se tornou um polo importante para os Estados Unidos. Assim, o festival vai ganhando identidades novas à medida que a realidade da cidade se transforma”, confirma Pyr Marcondes, sócio da Pipeline Consulting. Também por esse motivo, o SXSW trabalha no fomento de startups. Outro exemplo do debate nas ruas chegando aos palcos é o aumento das palestras relacionadas à mobilidade, como veículos elétricos, que ganhou intensidade com a inauguração da gigafactory da Tesla nos arredores de Austin.
Ao mesmo tempo, as transformações socioculturais dos últimos anos começaram a demandar maior agilidade e inventividade das empresas que, por sua vez, abriram os olhos para áreas além de sua seara, afirma Marienne Coutinho, sócia-líder de tax transformation & innovation e membro do Comitê de Inovação & Enterprise Solutions da KPMG no Brasil. “O assunto inovação está em alta e as empresas que não tinham head de inovação agora têm, e esse profissional tem budget. O mercado, como um todo, está consciente de que não podemos parar no tempo”, explica.
O tempo, a propósito, é outro objeto de estudo do South by. Mas o tempo verbal, no entanto, se alterou. Enquanto em anos anteriores o festival se propunha a apresentar tecnologias incipientes e que iriam ter destaque no futuro, o futuro ao qual os temas se referem agora é o futuro próximo, colado ou até sobreposto com o presente.
Pyr Marcondes foi ao evento pela primeira vez em 2011. À época, o SXSW tinha como enfoque discutir ciência e tecnologia, mas com um olhar direcionado ao seu avanço para o futuro. Com o passar dos anos, questões presentes se impuseram sobre os debates. “Ao longo desses dez anos, foi deixando de ser essa coisa tão descolada da realidade e tão futurista e foi se preocupando com a realidade contemporânea num gerúndio bem lento”, explica. Na agenda que preparou para o SXSW 23, Pyr identifica que 20% da preocupação é com o futuro e 80% com o presente.
Essa metamorfose não é injustificada. Como Pyr ressalta, ESG, guerra e extremismo político são temas do momento, mas que têm repercussões diretas e de grande proporção no futuro. “Foi caindo a ficha de que o futuro ficou mais curto. Para que discutir nanotecnologia, se não sabemos se amanhã alguém pode tacar fogo na floresta amazônica e perdemos uma importante referência ambiental?”, questiona.
São questões importantes à sociedade e a sociedade é cara aos organizadores, afirma Franklin Costa, cofundador do øclb, e isso conserva a identidade cultural do evento apesar dos avanços em outras áreas e do público cada vez mais corporativo.
Costa foi ao SXSW pela primeira vez em 2012 e, hoje, faz curadoria para grandes empresas no evento, como Globo e Itaú. Uma forma de identificar a narrativa que os organizadores querem sugerir é observando os keynotes e feature speakers do festival. Em 2021, entre os headliners havia representantes de diferentes etnias. “Em nenhum momento eles falaram que iriam ser diversos. Eles fazem mais do que falam”, diz.
Os keynotes deste ano se dividem entre personalidades da música e do cinema e figuras com arcabouço em trabalhos humanitários, como o chef e educador José Andrés, a atriz e embaixadora da ONU pelo direito das crianças Priyanka Chopra Jonas e o CEO da Patagonia, Ryan Gellert. As sessões ainda contam com psicólogos renomados mediando conversas, como a professora de Yale Laurie Santos e a psicoterapeuta e podcaster Esther Perel. “As techs são importantes, mas desde que elas sirvam a gente”, acrescenta Simone Kliass, mentora do SXSW, VP da associação XRBR, embaixadora líder da Women in Voice e voice artist. Ela vai ao evento desde 2017.
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