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Opinião

A Glória Maria que busco em mim

Eu espero que sejamos mais “Gloria Maria”: mais autenticidade, mais rede de apoio e muito mais liberdade


6 de fevereiro de 2023 - 0h02

Glória Maria rejeitou rótulos e ousou ser ela mesma no jornalismo e na vida (Crédito: Reprodução/Instagram)

“Eu sou essa mulher louca, rebelde, que não aceita viver sem liberdade”, Glória Maria.

Acho que todas nós temos a dimensão do quão difícil é encarar as consequências de viver nossa liberdade. Embora as conquistas existam e isso seja maravilhoso, o mundo ainda não nos quer como somos, ele nos quer como ele é. Mesmo assim, Glória Maria rejeitou rótulos e ousou ser ela mesma no jornalismo e na vida. Dona de um talento impressionante e de uma personalidade indomável, ela delimitou suas fronteiras deixando bem claro até onde cada um poderia avançar em sua direção. Glória nunca renunciou à sua autenticidade para caber nos moldes que padronizam tantas mulheres. Ela foi uma mulher extremamente humana que viveu intensamente seus erros e acertos. Acho que ela soube amar a si mesma de forma generosa, abraçando sua luz e suas sombras.

E, quando se trata de uma mulher, é sempre bom lembrar que luz demais ofusca os outros, enquanto a sombra os incomoda e corta o clima. Sendo assim, fica difícil encontrar a medida das nossas ações, emoções, reações e atitudes. Creio que muitas mulheres que me leem agora já se pegaram pensando “eu não devia” logo depois de atos simples do dia a dia.

– Eu não devia ter me expressado daquele jeito. Serei mal interpretada. 

– Eu não devia ter ficado tão quieta. Pensarão que estou desmotivada. 

– Eu não devia ter agido de forma tão espontânea. Vão me achar inadequada. 

– Eu não devia ter sido enérgica. Dirão que sou autoritária. 

Acredito que esse sentimento é fruto de um misto de coisas. Às vezes ele realmente vem de fatos e situações reais. Outras vezes ele é reflexo de comportamentos machistas que nós mulheres também reproduzimos e dos quais temos que nos libertar. Quanto à Glória, penso que havia se libertado faz tempo.

“Ninguém vai morrer por mim. Quem vai me julgar hoje não vai se deitar no caixão no meu lugar. O que você quer que eu faça? Que eu vá viver segundo a opinião das pessoas? Não tem como. Eu vou viver do meu jeito”, Glória Maria.

Estou lendo o livro “O que elas têm a dizer: experiências de liderança de algumas das mulheres mais influentes do mundo”, De Julia Gillard e Ngozi Okonjo-Iweala, ambas líderes políticas em seus respectivos países, Austrália e Nigéria. Na obra, fruto de vários estudos e algumas entrevistas com líderes como Hillary Clinton, Theresa May, Michelle Bachelet, Jacinda Ardern, entre outras, elas discutem as barreiras de gênero que as mulheres enfrentam para alcançar e se consolidar em posições de liderança. A leitura tem me provocado urgentes e severas reflexões. Penso nas lacunas que existem entre quem eu sou de fato e entre quem o mundo permita que eu seja. Algumas dessas lacunas são rasas como uma poça, outras são mar aberto. E não me refiro à carreira e liderança, mas sim ao meu lugar no mundo de forma muito mais ampla. Sobre carreira e liderança, sigo usando o lugar que conquistei para que outras mulheres também conquistem seus espaços. 

Ao contar sobre todo o processo de escrita do livro e seus aprendizados, as autoras dizem o seguinte:

“Saímos com uma nova compreensão da corda bamba em que líderes femininas precisam se equilibrar para serem vistas como ‘homens’ o suficiente para fazer o trabalho, mas femininas o suficiente para não serem consideradas desagradáveis ou até mesmo serem desprezadas.”

Eu sinceramente acredito que estamos evoluindo rumo à equidade por meio da sororidade, dos nossos aliados, da força que temos para quebrar ciclos machistas que muitas vezes nos colocam em situação de confronto até mesmo com outras mulheres. Eu espero que sejamos mais “Glória Maria”: mais autenticidade, mais rede de apoio e muito mais liberdade. Sei que cada vez mais mulheres poderão viver suas escolhas com menos julgamentos equivocados e definições estereotipadas que tiram de nós a chance der sermos outras coisas além daquilo que decidiram que somos. Sempre que ouço alguém definindo mulheres com coisas do tipo “ela é muito difícil”, “ela é muito intensa”, “ela é tão fofa”, “ela está sempre de bom humor”“ela causa medo nas pessoas”, meu coração quer sair do peito para dizer que todas nós somos muito mais que isso. Lidamos com muitas questões o tempo todo. Precisamos de um respiro para sermos nós mesmas com mais tranquilidade e sem medo.

Finalizo esse artigo com mais uma frase de Gloria. Entre tantas, esta talvez seja a que mais me inspira:

“Sou livre. Ninguém vai me dizer como tenho que viver.”

Um salve, Glória! E muito obrigada. 

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